Passageiros querem entrar na Justi�a ap�s confus�o em voo de Guarulhos
V�deo de um casal depredando guich� da Gol se espalhou pelas redes sociais. Passageiros relatam ter ficado seis horas dentro da aeronave sem assist�ncia
Um grupo de passageiros que estava no voo G3-1324 da Gol, de Guarulhos (SP) para Confins, pretendem entrar na Justi�a contra a companhia a�rea por problemas no atendimento ap�s a aeronave ter que voltar a S�o Paulo por causa da chuva na Grande BH nessa segunda-feira (1º/11). Eles relatam que ficaram seis horas dentro do avi�o sem assist�ncia. Ontem, o v�deo de um casal de passageiros quebrando o guich� da companhia viralizou nas redes sociais. Nesta quarta-feira (3/11), o Estado de Minas ouviu os relatos de outras pessoas que estavam na aeronave.
De Belo Horizonte, o agente de investimentos Andr� Lage viajava com a esposa. Ele conta que o embarque foi �s 17h45. No entanto, n�o havia teto para aterrissar em Confins. A aeronave sobrevoou o terminal por meia hora, mas n�o foi poss�vel realizar o pouso. Assim, o piloto optou por voltar a Guarulhos. “At� a� tudo bem, porque � em prol da seguran�a dos passageiros, tem todo um procedimento a ser seguido. Isso a gente n�o questiona”, comenta.
Segundo ele, entretanto, os problemas come�aram no retorno a S�o Paulo, por volta das 20h30. “Ao chegar em Guarulhos, em vez de a tripula��o da Gol liberar que os passageiros descessem para a sala de embarque novamente, eles nos seguraram dentro do avi�o at� a meia-noite. N�s entramos no avi�o �s 17h45 e ficamos dentro do avi�o at� a meia-noite”, conta.
Avi�o s� foi esvaziado por volta da meia-noite, seis horas ap�s o embarque dos passageiros, segundo agente de investimentos ouvido pelo EM (foto: Andr� Lage/Divulga��o)
Ap�s horas no avi�o, os passageiros j� estavam indignados com a situa��o e come�aram a questionar os funcion�rios.
“Quando eram 23h, alguns passageiros, inclusive eu, falaram que iam descer de qualquer maneira porque havia pessoas com beb�s de colo e n�o havia mais fraldas, n�o tinha alimenta��o nenhuma. Teve um senhor que passou mal durante o voo, ficou hipoglic�mico, precisava de alimenta��o e a Gol n�o tinha nem um alimento para nos dar. Esse voo foi dividido. As pessoas queriam descer e o comandante falava a todo momento que quem descesse do avi�o n�o retornaria e que ele levaria aquele voo para Belo Horizonte. Ele frisou isso v�rias vezes. Eu tenho isso gravado em um dos v�deos. Eu gostaria de ter descido, mas a minha esposa disse ‘vamos ficar porque eu n�o aguento mais’”, detalhou.
Em um dos v�deos, � poss�vel ouvir a voz do piloto fazendo um comunicado aos passageiros em Guarulhos. “Ser� providenciada toda a estrutura para os senhores aqui (...). Com toda a sinceridade pessoal, eu n�o sou S�o Pedro para garantir que o campo vai estar aberto ou fechado”, disse, sob aplausos de alguns passageiros.
“Se por acaso tivermos que retornar para Guarulhos, a minha obriga��o � trazer os senhores de volta com toda a seguran�a. Os passageiros que quiserem desembarcar, ser�o desembarcados, podem ficar tranquilos”, disse o comandante.
Segundo Lage, o casal que depredou o guich� estava no primeiro grupo que desembarcou do avi�o naquele hor�rio. Eles aparecem em um dos v�deos registrados por ele no avi�o. Com o beb� no colo, eles conversam com tripulantes e outra passageira, que tamb�m estava com uma crian�a, perto da cabine. Eles pedem informa��es e a m�e diz que precisava trocar a fralda da crian�a.
“Quando deu meia-noite, que n�s t�nhamos seis horas dentro desse avi�o, eles nos fizeram descer da aeronave, direcionaram todo mundo para a sala de embarque novamente. Falaram que iam pagar um lanche, formou-se mais uma fila de mais de 100 pessoas para lanchar. Eu fiquei para tr�s nessa fila e no meu momento de lanchar n�o tinha mais nada para comer”, conta o agente.
“A Gol n�o me deu alimenta��o. Na hora de voltar para Belo Horizonte eles n�o me arrumaram um hotel para ficar em S�o Paulo. O hotel onde estavam recolocando as pessoas era a 50 minutos de Guarulhos e j� tinha uma fila gigantesca. J� eram mais de 4h quando eles estavam tentando arrumar um hotel para as pessoas. E eu desisti do voo da Gol. Tive que comprar uma passagem de outra companhia que sa�a �s 6h para conseguir chegar em Belo Horizonte.
Uma crian�a precisou de atendimento m�dico ap�s sair da aeronave (foto: Andr� Lage/Divulga��o)
Andr� Lage diz que os passageiros se organizaram em um grupo para tomar provid�ncias em rela��o ao ocorrido. H� mais de 50 membros, segundo ele. “A inten��o de todos nesse grupo � entrar na Justi�a contra a Gol porque o desrespeito que eles fizeram conosco nesse voo foi uma coisa absurda, foi inexplic�vel. Eu embarquei nesse avi�o �s 17h45 e fui sair de Guarulhos �s 6h em uma outra companhia. Eu pernoitei dentro do aeroporto sem nenhuma assist�ncia da Gol”, enfatiza.
Assista ao momento em que o casal quebra o guich� da companhia a�rea:
Ainda sobre a a��o do casal registrada em v�deo, Lage atribui a situa��o aos �nimos exaltados e diz que todos os passageiros estavam nervosos. “Eu n�o tiro a raz�o daquele casal. � claro que a gente quebrar as coisas n�o leva a lugar nenhum, mas a gente chamou a pol�cia, liguei para o 190, pedi que a Pol�cia Federal comparecesse. Nem a pol�cia do 190 e nem a Federal compareceram. A gente v� que na hora que aquele casal quebra o check-in da Gol eles queriam a pol�cia ali. Ele falou ‘Agora a pol�cia vai vir’. Eu cheguei a chamar um seguran�a do aeroporto e falei ‘Olha, voc� n�o vai chamar a pol�cia, eu vou come�ar quebrar tudo aqui, porque a� a pol�cia vai aparecer’. S� que a gente procura n�o fazer isso. A gente perde a raz�o quando tem esse tipo de atitude”, ponderou.
Danos morais
Uma das passageiras do voo G3-1324 era a m�e da advogada especialista em direito do consumidor e turismo, e blogueira do Estado de Minas, Luciana Atheniense. Ela conta que a m�e tem 80 anos e vinha a Belo Horizonte no Dia de Finados para prestar homenagem do marido, v�tima da COVID-19.
Segundo a filha, o cansa�o foi tanto que ela s� conseguiu fazer a vista ao t�mulo nesta quarta-feira (3/11). “A minha m�e de 80 anos n�o conseguiu dormir, passou a noite em um banco dentro do aeroporto”, comenta. Segundo ela, ap�s algum tempo ela conseguiu hospedagem, mas em Barueri, a cerca de 50 quil�metros de Guarulhos.
“� inquestion�vel o impacto da pandemia para as companhias a�reas, mas essa altera��o da malha a�rea sem devida assist�ncia ao consumidor � inadmiss�vel. Mesmo nesse momento de pandemia, o consumidor continua sendo a parte mais fraca da rela��o, continua sendo vulner�vel e hiposuficiente em rela��o as companhias a�reas. Uma situa��o meteorol�gica que � previs�vel, tudo bem, estava-se preservando a seguran�a do passageiro, isso � inquestion�vel. N�s estamos questionando o depois, como que se vai atender a essas dezenas de consumidores, como vai ser essa assist�ncia. E isso a empresa a�rea n�o est� dando a devida assist�ncia material, seja de informa��o, de alimenta��o, de hospedagem e translado. O que a gente repara � que est� retornando a quest�o do transporte a�reo, principalmente voos dom�sticos, e as empresas n�o est�o atendendo o consumidor de forma adequada. Demonstra um verdadeiro descaso com essa parte mais fraca que � o passageiro a�reo”, analisa a especialista.
A advogada orienta que, nesse tipo de situa��o, os passageiros devem reunir provas e manter a calma, evitando agressividade. “Eu acho que muitos j� fizeram. � tirar fotos, tentar buscar a pol�cia para registrar, buscar os meios legais. A for�a n�o adianta, mas a gente n�o pode ver aquele v�deo s� no contexto da for�a. A for�a perde o direito, mas temos que ver por que aconteceu isso. Em nenhum momento estamos estimulando a for�a e n�o estamos justificando, mas queremos a puni��o do descaso da empresa a�rea em rela��o ao consumidor”, comenta Luciana Atheniense.
Para a advogada, o problema no voo pode acarretar em danos morais em favor dos passageiros. “Eu quero ouvir o jur�dico da Gol antes de propor uma a��o. Se eu ver que a resposta n�o for adequada eu vou prop�r uma a��o. Porque provas eu tenho do descaso, isso � inquestion�vel. Primeiro eu vou tentar ver se h� uma possibilidade de fazer um acordo. Eu trabalho com isso h� mais de 25 anos. Se a empresa a�rea achar que foi tudo ok, � propor a a��o. Danos morais com certeza, pelo descaso, pelo abandono e pelo desrespeito. E, pela minha m�e, falta de atendimento aos passageiros com prioridade, sendo uma idosa de 80 anos”, pontuou.
Resposta da Gol
Na manh� desta quarta-feira, o Estado de Minas voltou a entrar em contato com a companhia a�rea com quest�es a respeito dos relatos acima, questionando por que os passageiros n�o puderam sair da aeronave quando chegaram, como foi o atendimento, fornecimento de informa��es, hospedagem, alimenta��o, entre outras.
A Gol, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que “n�o fornece informa��es sobre clientes”, e reiterou a nota divulgada ontem, que est� na �ntegra abaixo:
"A GOL informa que, ap�s a decolagem, o voo G3 1324 (Guarulhos - Confins), na noite de segunda-feira (1º), precisou retornar ao Aeroporto de Guarulhos, por conta das condi��es meteorol�gicas adversas em Confins. A Companhia ressalta que ofereceu o suporte necess�rio a todos os Clientes e acomodou os passageiros para seguir viagem em voos programados para a ter�a-feira (2).”
A reportagem tamb�m perguntou se algum funcion�rio do guich� ficou ferido durante o quebra-quebra no terminal. “Nenhum funcion�rio ou cliente se feriu depois do incidente”, respondeu a assessoria”. “Refor�amos tamb�m que todos os procedimentos tomados foram para garantir a seguran�a de todos”, pontuou.
Segundo apura��o do site AeroIn, especializado em avia��o, j� em Guarulhos, a tripula��o atingiu o m�ximo de horas que poderia voar por dia e precisou ser trocada. Al�m disso, como muitas pessoas desistiram da viagem e precisaram desembarcar, foi necess�rio alterar a documenta��o do voo. Ent�o, todos os passageiros tiveram que deixar a aeronave.
Casal foi levado para delegacia e liberado
Casal estava com o filho de cinco meses e depredou guich� da Gol em Guarulhos. Eles foram levados para uma delegacia e liberados (foto: Reprodu��o da internet)
Ap�s a depreda��o do guich�, o casal foi encaminhado � Pol�cia Civil. Nesta manh�, procurada, a Secretaria da Seguran�a P�blica do Estado de S�o Paulo informou que o caso foi registrado e o casal foi liberado. Leia a nota:
“Um homem, de 47 anos, e uma mulher, de 39, se envolveram em uma confus�o, na noite de segunda-feira (1º/11), por volta das 23h, no Aeroporto de Guarulhos.
Um agente operacional, de 43 anos, foi informado sobre o fato e, no local, encontrou os dois passageiros, que haviam quebrado tr�s guich�s de acr�lico.
Uma impressora de uma companhia a�rea tamb�m foi danificada na a��o. Os dois foram levados � delegacia.
O caso foi registrado com a natureza n�o criminal pelo 3º Delegacia de Atendimento ao Turista (Deatur)”.
O Estado de Minas tamb�m procurou, por e-mail, a GRU Airport, concession�ria respons�vel pelo Aeroporto Internacional de S�o Paulo/Guarulhos, mas obteve resposta at� o momento da publica��o.