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Estado de Minas VERIFICA��O

CDC n�o coleta dados de pessoas reinfectadas transmitindo COVID-19

� enganoso que o CDC emitiu documento que comprove inexist�ncia de casos de pessoas n�o vacinadas que tenham transmitido a doen�a depois de uma segunda infec��o


26/11/2021 10:28 - atualizado 26/11/2021 10:55

Pessoa sendo vacinada contra a COVID-19
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Verificado por: Jornal Correio, GZH e O Povo 

Enganoso: � enganoso que o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) emitiu documento que comprove a inexist�ncia de casos de pessoas n�o vacinadas que tenham transmitido a doen�a depois de uma segunda infec��o. O documento existe, mas tem outro teor. Informa que n�o foram encontrados registros porque os dados n�o s�o coletados devido a prote��es de privacidade. O CDC destaca que o fato de os dados n�o serem coletados n�o significa que n�o existam casos desse tipo.

Conte�do verificado: Tu�tes com documentos enviados pelo Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC), dos EUA, afirmam que n�o existem registros de pessoas que, n�o vacinadas e ap�s reinfec��o da covid-19, tenham transmitido a doen�a.

S�o enganosos os posts no Twitter que afirmam que o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos n�o tem registros de pessoas n�o vacinadas contra a covid-19 que tenham transmitido a doen�a para terceiros ap�s reinfec��o. O documento utilizado nos tu�tes aqui verificados, em que o CDC responde a uma consulta sobre o assunto feita por uma advogada, � aut�ntico. Contudo, o �rg�o afirma n�o ter os registros porque estes dados n�o s�o coletados, o que n�o significa que n�o existam casos de pessoas n�o vacinadas que tenham transmitido a doen�a.

Em pelo menos quatro postagens feitas no Twitter, � anexado um documento do CDC enviado a uma advogada de Nova York, ap�s uma solicita��o de informa��es por meio do Freedom of Information Act (FOIA), lei de acesso � informa��o do governo norte-americano. No documento, ela consulta o CDC sobre a exist�ncia de "documentos que refletem qualquer caso documentado de um indiv�duo que: (1) nunca recebeu uma vacina contra covid-19; (2) foi infectado com covid-19 uma vez, se recuperou e, mais tarde, ficou infectado novamente; e (3) transmitiu Sars-CoV-2 para outra pessoa quando reinfectado".

A resposta do CDC � de que n�o foram encontrados registros, porque os dados pedidos n�o s�o coletados devido �s prote��es de privacidade. Os posts no Twitter, de fato, afirmam que o CDC disse n�o ter registros. Contudo, os tu�tes em resposta n�o deixam claro que a pergunta feita pela advogada foi sobre transmiss�o por n�o vacinados ap�s reinfec��o.

A interpreta��o de boa parte das pessoas que interagiram com os posts � de que o fato de n�o haver registros no CDC significa que n�o h� casos desse tipo.

Essa interpreta��o fica evidente nas respostas: h� perfis que falam que a imunidade natural � melhor do que a da vacina, que este � um "segredo guardado a sete chaves pela ind�stria" e que esta � uma prova de que o "experimento" n�o tem dado o resultado desejado, se referindo � vacina.

No momento em que um perfil questiona a interpreta��o de que a falta de registros significaria a aus�ncia de casos, � rebatido pelo autor de um dos tu�tes: "Se n�o h� a informa��o, porque a afirma��o � feita ent�o? Este � o ponto".

Os quatro autores dos tu�tes verificados - @RafaelFontana, @DiretoDaAmerica, @Dr_Francisco_ e @profcabarros, - foram procurados, mas somente os dois �ltimos responderam, no sentido de reafirmar que a aus�ncia de dados do CDC valida a tese de que reinfectados n�o transmitem covid-19.

Este conte�do foi considerado enganoso pelo Comprova porque leva a uma interpreta��o diferente da inten��o do autor, com ou sem a inten��o de causar dano.

Como verificamos?

O Comprova usou o Google para localizar a advogada cujo nome � citado no documento utilizado nos tu�tes e, ao encontrar um contato de e-mail no site oficial do escrit�rio onde ela trabalha, a questionou sobre a veracidade do documento utilizado na rede social.

Em seguida, entrou em contato com o CDC, a fim de saber se o documento era verdadeiro e por que raz�es n�o existem registros para casos de pessoas que n�o foram vacinadas e tenham transmitido covid-19.

Por fim, foram procurados os autores dos quatro tu�tes verificados por meio de mensagens diretas enviadas no Twitter, Instagram e Facebook. Dois deles responderam ao contato do Comprova, os outros dois, at� a publica��o deste texto, n�o retornaram.

O Comprova fez esta verifica��o baseado em informa��es cient�ficas e dados oficiais sobre o novo coronav�rus e a covid-19 dispon�veis no dia 24 de novembro de 2021.

Verifica��o
O documento � aut�ntico?

Sim. Ele foi enviado pelo CDC no dia 5 de novembro de 2021 � advogada Elizabeth Brehm, que trabalha no escrit�rio Siri & Glimstad, em Nova York. O pedido de informa��es tinha sido feito em 2 de setembro de 2021 por meio de um formul�rio no site do FOIA. Os dois documentos - pergunta e resposta - foram disponibilizados em um texto escrito pelo s�cio-gerente do escrit�rio, Aaron Siri.

Quem � Elizabeth Brehm e qual o contexto da consulta?

Ela � uma das advogadas do escrit�rio Siri & Glimstad, sediado em Nova York. De acordo com informa��es do site da empresa, ela tem forma��o em Ci�ncias e em Direito e, antes de se juntar � equipe do Siri & Glimstad, trabalhou por nove anos em outro escrit�rio, atuando sobretudo em a��es antitruste e fraudes no sistema de sa�de.

O escrit�rio onde ela trabalha atualmente mant�m uma p�gina em seu site oficial, na qual afirma defender clientes dos 50 estados norte-americanos, "com compaix�o e experi�ncia" e "sem custos de representa��o", que tenham sofrido les�es decorrentes de vacinas. Eles consideram como as mais comuns bursite, tendinite, les�es no manguito rotador e capsulite adesiva - uma condi��o de rigidez na articula��o do ombro tamb�m chamada de ombro congelado. O escrit�rio ainda menciona a S�ndrome de Guillain-Barr� como uma "les�o de vacina".

Ao ser questionada sobre a veracidade do documento, que circulava em tu�tes no Brasil, e sobre a consulta que teria feito ao CDC, Elizabeth Brehm respondeu ao Comprova por e-mail apenas encaminhando um link para um texto publicado pelo s�cio-gerente do escrit�rio onde ela trabalha, Aaron Siri.

No texto, em que anexa a pergunta feita pela funcion�ria e a resposta do CDC, Aaron afirma que seria de se imaginar que o CDC deveria ter ao menos uma prova de que um indiv�duo n�o vacinado transmitiu a covid-19 para outras pessoas.

No mesmo post, ele confirma que o CDC respondeu que n�o tinha os registros solicitados por Elizabeth Brehm porque os dados n�o eram coletados. No decorrer da publica��o, Aaron afirma que h� estudos que comprovam que pessoas vacinadas transmitem a covid-19 e que � "dist�pico" que o CDC suspenda as restri��es aos vacinados, enquanto "est� ativamente destruindo os direitos de milh�es de indiv�duos naturalmente imunes neste pa�s, caso eles n�o recebam a vacina".

Ele ainda afirma que a prote��o natural pela doen�a � superior � da vacina. O Comprova j� mostrou que era a falsa a afirma��o de que o CDC tinha admitido que a prote��o natural era superior � da vacina contra a covid-19 e que autoridades de sa�de do Brasil seguem recomendando que todos se vacinem, j� que a imunidade natural tamb�m tende a cair com o tempo.

Logo do Projeto Comprova
(foto: Comprova/ reprodu��o)


Por que o CDC n�o tem registros?

O CDC alegou ao Comprova, por e-mail, que por "quest�es de privacidade" n�o mant�m registros de eventuais casos de transmiss�o da covid-19 por pessoas que j� tiveram a doen�a e n�o foram imunizadas. A ag�ncia, por�m, salientou que n�o h� raz�es para acreditar que pessoas que j� testaram positivo n�o possam ser transmissoras.

Na sequ�ncia, dois estudos sobre taxas de reinfec��o foram enviados (1 e 2) � reportagem pela ag�ncia norte-americana, embora n�o especificamente sobre o risco de transmiss�o por pessoas reinfectadas.

O primeiro, feito com cinco residentes de uma enfermaria especializada, mostrou que quatro deles apresentaram quadros mais severos da doen�a ap�s a reinfec��o, com uma morte. O segundo reuniu ind�cios de que a vacina��o contra a covid-19 em pessoas j� infectadas pelo v�rus reduz a possibilidade de reinfec��o.

Em janeiro deste ano, um estudo feito com profissionais de sa�de do Reino Unido apontou que a resposta imune a partir de uma infec��o anterior por covid-19 reduz em 83% o risco de se contrair de novo a doen�a. Os resultados apontados pelos pesquisadores foram publicados na plataforma MedRxiv, ainda em fase de pr�-print, e sugeriam que essa prote��o durava aproximadamente cinco meses.

Dos mais de 6 mil participantes no estudo, que j� tinham tido a covid-19, houve reinfec��o em menos de 1%. Contudo, os pesquisadores descobriram que, nos poucos casos em que isso ocorreu, os pacientes levavam altos n�veis de carga viral no nariz e na garganta, mesmo sem apresentar sintomas. De acordo com a pesquisadora Susan Hopkins, investigadora principal do estudo, essas cargas virais estavam sendo associadas a um alto risco de transmiss�o do v�rus para outras pessoas.

Quem s�o as pessoas que publicaram os documentos?

O Comprova entrou em contato com os quatro perfis que postaram o mesmo conte�do verificado nesta reportagem. @RafaelFontana � jornalista, escritor e, de acordo com suas redes sociais, trabalha em uma empresa de comunica��o brasileira sediada nos Estados Unidos. O segundo perfil contatado foi @profcabarros, jornalista e advogado.

Carlos respondeu � reportagem defendendo o conte�do que foi publicado em seu tu�te: "A quest�o aqui � que voc� parte da premissa que existem estes casos, mesmo que n�o hajam dados" (sic). E, ap�s o envio da resposta dada pelo CDC sobre n�o coletarem tais dados, o jornalista reafirmou que seu tu�te n�o estava distorcendo ou inventando o conte�do publicado.

O perfil Direto da Am�rica tamb�m foi procurado. Nas redes sociais, o perfil � descrito como um portal de not�cias dos Estados Unidos voltado para brasileiros de todo o mundo. O site do portal estava temporariamente desativado e o perfil no Instagram � privado. O contato foi feito por meio da p�gina no Facebook, mas n�o houve retorno

Tamb�m foi contatado o m�dico infectologista Francisco Cardoso. Em junho deste ano, o profissional esteve presente na CPI da Covid a fim de defender o "tratamento precoce", que n�o possui comprova��o cient�fica contra a covid-19, por indica��o do governo federal.

Al�m disso, Francisco tamb�m � investigado pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) por receber aux�lio-doen�a mesmo sem estar incapaz de exercer a profiss�o. O contato foi realizado via e-mail disponibilizado nas redes sociais do m�dico.

Francisco Cardoso respondeu ao Comprova e defendeu que sua publica��o no Twitter estava correta, visto que as afirma��es feitas na postagem s�o as mesmas dadas ao Comprova pelo CDC, e que os documentos apresentados no tu�te s�o verdadeiros.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova investiga publica��es sobre o governo federal, as elei��es e a pandemia que tenham viralizado nas redes sociais. A postagem aqui checada foi compartilhada no Twitter por pelo menos quatro perfis. Entre curtidas, retu�tes e retu�tes com coment�rios, foram mais de 5,8 mil intera��es.

Neste caso, o fato de os tu�tes n�o refletirem o teor completo do documento levou a uma interpreta��o diferente daquela que foi a inten��o do autor e refor�ou o discurso antivacina, que tem sido base para a difus�o de argumentos contr�rios � implementa��o do passaporte sanit�rio e ao pr�prio avan�o da vacina��o. � consenso na comunidade cient�fica que a curva de mortos e de infectados pelo v�rus cai com o avan�o da cobertura vacinal, realidade que pode ser atestada no Brasil.

Outubro foi o m�s com menos mortes por covid-19 no pa�s desde abril de 2020. O esquema vacinal foi completado em mais de 60% da popula��o brasileira, apesar da recusa do governo federal a ofertas para compra de vacinas como a Pfizer.

O Comprova j� checou outros conte�dos relacionados a vacinas, como o que concluiu que o secret�rio de fomento � cultura desinformou ao afirmar que os imunizantes contra o coronav�rus s�o experimentais, ou o que confirmou ser enganosa a rela��o entre eles e casos de mal s�bito entre atletas.

Enganoso, para o Comprova, � o conte�do retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra altera��es; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpreta��o diferente da inten��o de seu autor; que confunde, com ou sem a inten��o deliberada de causar dano.


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