
Nesta sexta (10/12), durante a r�plica da acusa��o, o promotor David Medina da Silva disse que faria um contraponto a carta exibida no dia anterior, defendendo que aquele n�o seria o momento ou o local adequado para tratar de quest�o religiosa, mesmo que muitos presentes tenham f�.
"Vamos fazer o contraponto da carta psicografada. N�s ouvimos ontem a voz de um narrador se intitulando porta-voz de uma pessoa morta, mas vamos ouvir a voz de uma pessoa viva?", disse ele, reproduzindo um trecho do depoimento de Delvani Rosso, 29.
O jovem relatou no �ltimo domingo, no j�ri, o que viveu dentro da boate, como seu irm�o Jovani resgatou pessoas no local, puxando homens pelo cinto e mulheres pelos cabelos, para evitar arrancar as peles afetadas pelo calor, e como enfrentou as sequelas a seguir, quando se sentia prisioneiro do pr�prio corpo.
No trecho exibido nesta sexta, ele conta o que viu ao chegar ao hospital ainda na madrugada da trag�dia, que parecia uma cena de guerra, com pessoas queimadas, gritando, ele mesmo pedindo socorro, como as enfermeiras lhe atenderam e tiveram de usar pin�a para separar sua camisa grudada na pele e sobre os meses de tratamento.
"S� tentava entender tudo que aconteceu comigo, o porqu� de tanta dor, tanto sofrimento. Cheio de sonda, de aparelho, im�vel. S� conseguia olhar, n�o conseguia engolir a saliva, n�o conseguia nada. E respirando por um buraco na garganta, a traqueostomia", contou ele.
O Minist�rio P�blico refor�ou a tese da acusa��o, apontando elementos para a tese de que os integrantes da banda Gurizada Fandangueira sabiam dos riscos do artefato pirot�cnico e mesmo assim o acenderam, e que os propriet�rios tinham ci�ncia do uso do mesmo pelo grupo, al�m de estarem com a casa acima da capacidade e com uma espuma inadequada.
A promotora L�cia Helena Callegari mostrou um v�deo com os corpos das v�timas dentro da boate, depois da trag�dia, o mais chocante do processo, segundo ela.
"Isso que se causou acendendo, pulando, n�o avisando, trancando, colocando espuma, � isso que se gerou, se assumiu o risco, se matou, se matou, se matou 242 inocentes, 242 anjos que est�o aqui comigo. Aqui comigo, neste exato momento, falando por mim. H� muitos anos eu digo, eu quero ser enterrada com essa toga. Digo mais, hoje, quero ser enterrada com isso (mostrando o botton da campanha), 'Kiss: que n�o se repita'. Condenem os quatro", pediu aos jurados.
No come�o da tr�plica, Borsa falou sobre a quest�o. Ela chamou a fala do promotor de insens�vel e citou um colega de quem ouviu que, como livro com as mensagens psicografadas n�o � prova judicializada, o Minist�rio P�blico poderia ter impugnado.
"Isso aqui foram pais que foram a Minas Gerais, naquele momento de desespero, querer contato com os filhos. Aqui eu pe�o desculpa aos pais da Daniela, do Guilherme, da Stephanie, do Leonardo e da Melissa. Esse n�o � o momento de falarmos de religi�o, n�o, mas de amor, porque foram jovens que morreram", disse ela.
Ela disse que muitas pessoas pediram o livro e que as mensagens dos filhos pedem que os pais se afastem dessa como��o, outras dizem que eles estavam no lugar certo. "Se eu soubesse que ia causar tanta, tanta pol�mica, n�o teria usado isso, porque eu n�o quero fazer exibicionismo, eu n�o preciso disso."
Ela criticou ainda a exibi��o de imagens de corpos durante o j�ri, chamando de apelativo.
Quatro r�us s�o acusados por homic�dio e tentativa de homic�dio simples por dolo eventual na trag�dia da Kiss - os s�cios, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Le�o.
O caso foi desaforado de Santa Maria para Porto Alegre, depois que defesas questionaram forma��o de j�ri imparcial na cidade onde boa parte da popula��o foi afetada pelo fato. Bonilha foi o �nico que n�o pediu a mudan�a.
Iniciado no dia 1º de dezembro, o j�ri pelas mortes na Kiss � o maior do Judici�rio ga�cho. No in�cio da tarde, as defesas falar�o novamente, antes que jurados se re�nam na chamada sala secreta para responder a question�rios sobre a responsabilidade dos r�us em sete casos de homic�dio e sete casos de tentativas.
O n�mero foi definido pelo ju�zo devido ao c�lculo estimado de tempo que levaria para julgar o caso de cada uma das v�timas apontadas na den�ncia em separado. O juiz Orlando Faccini Neto disse que, por uma estimativa feita por ele, seriam cerca de 28 dias, sem tempo para refei��es ou sono.