
Ela foi sepultada no domingo (10/4) no cemit�rio da Praia Grande, quatro dias ap�s vir � �bito, na �ltima quarta-feira (6/4). As informa��es s�o do portal Uol. A diarista Ang�lica Rodrigues era a �nica moradora de um barraco na comunidade do Parque Bitaru, localizada na periferia de S�o Vicente.
Ela ficou sem trabalhar durante a pandemia e, assim, sem recursos financeiros para comprar itens essenciais, como o g�s de cozinha. O produto sofreu um aumento exponencial nos �ltimos meses e, em mar�o, custou em m�dia R$ 112,54 no pa�s.
A m�e da v�tima, a cozinheira Silvia Regina dos Santos, de 43 anos, contou que a filha passou a aderir o etanol para fazer a chama que serviria para cozinhar os poucos alimentos que Ang�lica conseguia comprar. Em um posto de gasolina, ela comprou um gal�o com o produto.
“Ela pegava uma lata de sardinha e colocava o �lcool, usando como espiriteira. Punha fogo e a panela em cima. No dia do acidente, ela pensou que a chama do potinho tinha apagado e virou o gal�o de �lcool, mas o fogo subiu para o gal�o. Ela se assustou, sacudiu o gal�o, e o fogo acabou se espalhando no corpo todo”, contou Silvia ao Uol.
Silvia afirma que a situa��o econ�mica do pa�s propiciou o acidente. “Se a Ang�lica tivesse condi��es de comprar um botij�o de g�s, isso n�o teria acontecido. Tenho 43 anos e nunca na vida enfrentamos uma situa��o financeira t�o dif�cil. Ela contou que estava comendo s� arroz e macarr�o instant�neo todo dia. Era o que o dinheiro dava para comprar”, desabafou a m�e da v�tima.
"Verdadeira batalha": m�e de Ang�lica descreve falhas no atendimento m�dico
Silvia Regina afirma que foi uma “verdadeira batalha” o tempo em que a filha ficou nas unidades de sa�de. Primeiro, ao ser socorrida ap�s o acidente, Ang�lica foi levada ao hospital sem os parentes serem avisados.
Silvia afirma que soube que a filha estava internada no Hospital Municipal de S�o Vicente uma semana ap�s a entrada dela no local, por meio de uma postagem que ela fez no Facebook, com um celular emprestado. Ela conta que a fam�lia n�o foi avisada pelos funcion�rios do hospital.
“Ela [Ang�lica] teve que vender o celular para comprar comida e fiquei um tempo sem falar com ela. Soube do que tinha acontecido quando me avisaram de um post que ela conseguiu fazer no Facebook, com um celular que conseguiu emprestado no quarto onde ela estava internada”, lembrou. No post, de 27 de mar�o, Ang�lica apenas postou uma foto da perna enfaixada. Nos coment�rios da publica��o, ela escreveu: “olha como eu estou, n�o creio, internada”.
Ao tentar visitar a filha, Silvia foi impedida pelos funcion�rios do hospital de S�o Vicente. A mulher n�o sabe se a proibi��o da visita seria por conta da pandemia ou se os m�dicos n�o queriam que ela visse a situa��o de Ang�lica. A cozinheira conta que a filha constantemente gritava de dor, gritos aud�veis da recep��o do hospital.
"Ela gritava muito, dava para ouvir os gritos dela da recep��o do hospital, no andar t�rreo”, lembra. Silvia disse que insistiu e que, ap�s algumas tentativas, conseguiu enganar a recep��o e invadiu o quarto da filha.
“Meu cora��o quase parou. O sofrimento dela eu n�o desejo para ningu�m. Como podem ter deixado ela tanto tempo sem atendimento adequado? Isso � desumano", desabafou. Depois de ver o estado da filha e acreditar que ela n�o recebia o atendimento necess�rio, Silvia passou a buscar ajuda para transferir Ang�lica para um hospital de refer�ncia.
Uma semana depois, ela conseguiu que a filha fosse direcionada para o Hospital Geral Vila Penteado, no Jardim Iracema, em S�o Paulo, com ajuda de um pol�tico local. No entanto, h� poucos dias no local, ela faleceu, na �ltima quarta-feira (6/4).
Em nota ao Uol, a Secretaria de Sa�de do Estado de S�o Paulo informou que a transfer�ncia “de um paciente n�o depende exclusivamente de disponibilidade de vagas, mas tamb�m de quadro cl�nico est�vel que permita o deslocamento a outro servi�o de sa�de para sua pr�pria seguran�a”.
A pasta afirmou que o caso era monitorado pela Central de Regula��o de Oferta e Servi�os da Sa�de (Cross), que busca vagas em servi�os de refer�ncia. "O caso era grav�ssimo e, mesmo sendo encaminhada para o Hospital Vila Penteado, uma das maiores refer�ncias para queimados do Estado, a paciente n�o resistiu aos ferimentos e faleceu", afirmou a Secretaria, em nota.
J� a Secretaria da Sa�de de S�o Vicente (Sesau) disse que os familiares sempre s�o avisados por uma assistente social quando um paciente � internado em estado consciente. A pasta tamb�m informou que o Estado � respons�vel pela “regula��o das vagas” para transfer�ncia e que “o munic�pio n�o tem qualquer ger�ncia sobre a disponibilidade e distribui��o dessas vagas”.
Por fim, a Sesau afirmou que Ang�lica ficou internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no hospital do munic�pio e recebeu atendimento m�dico e cirurgi�o pl�stico. No entanto, afirma que a paciente foi transferida em estado grave, por�m com “sinais vitais est�veis”.