
Os n�meros, dispon�veis no �ltimo boletim epidemiol�gico do Minist�rio da Sa�de, revelam um aumento de 113,7% nas infec��es por esse v�rus, transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, em rela��o ao mesmo per�odo de 2021.
Em alguns locais do pa�s, a situa��o � pior: no Centro-Oeste, o crescimento em compara��o com o ano passado foi de 253,8%. At� o momento, a regi�o registrou 920 casos por 100 mil habitantes — em segundo lugar aparece o Sul, com 427 casos por 100 mil.
Entre as cinco cidades mais atingidas, as duas primeiras est�o no Centro-Oeste: Goi�nia (31 mil casos) e Bras�lia (29,9 mil). Completam a lista Palmas (9 mil), no Tocantins; S�o Jos� do Rio Preto (7,4 mil) e Votuporanga (6,8 mil), ambas em S�o Paulo.
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"O que se observa neste ano � uma atividade expressiva da dengue em algumas partes do pa�s, em particular no eixo que vai do Tocantins at� Santa Catarina, passando pelo Centro-Oeste e pela por��o oeste de S�o Paulo", interpreta a bi�loga e epidemiologista Cl�udia Code�o, pesquisadora da Funda��o Oswaldo Cruz (FioCruz).
Mas o que est� por tr�s desse cen�rio? E o que pode ser feito para combat�-lo? Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil explicam que uma s�rie de fatores combinados contribu�ram para o aumento da dengue justamente neste per�odo.
Os ingredientes de uma epidemia
"Tivemos um clima especialmente favor�vel � dengue neste ano, com chuvas intensas e prolongadas", lembra Code�o.
Desde o final de 2021, quando come�ou o ver�o, v�rias cidades brasileiras registraram muitas tempestades, relacionadas a fen�menos como o La Ni�a e as mudan�as clim�ticas.
Para o Aedes aegypti, as chuvas s�o sin�nimo de �gua parada, local onde os ovos do mosquito eclodem e as larvas se desenvolvem at� alcan�arem a fase adulta.
"Geralmente, quando chega o m�s de dezembro e come�amos a notar uma grande concentra��o do Aedes, j� d� para prever que mar�o e abril v�o ser ruins, com muitos casos de dengue", observa o infectologista Celso Granato, diretor do Fleury Medicina e Sa�de.
Mas, na virada de 2021 para 2022, as proje��es foram atrapalhadas por outras duas crises de sa�de.
Nessa mesma �poca, o Brasil enfrentou uma epidemia de influenza H3N2, que causou um aumento importante de casos de gripe, e o espalhamento da variante �micron do coronav�rus, por tr�s de recordes nos n�meros de infec��o.
"Os sistemas de vigil�ncia da dengue foram muito prejudicados, j� que nesses dois �ltimos anos havia um foco quase absoluto na pandemia de covid-19", acrescenta o m�dico, que tamb�m � professor da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp).

Ainda em rela��o � pandemia, o menor n�mero de infec��es em 2021 tamb�m tem a ver com os per�odos de maior isolamento social, que diminu�ram a locomo��o das pessoas pelas cidades.
"E vale lembrar que tivemos uma grande epidemia de dengue no pa�s em 2019, ent�o j� era esperado um novo aumento a partir de 2022, j� que as ondas da doen�a s�o c�clicas", diz a m�dica Melissa Falc�o, da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Por fim, Code�o destaca que "temos uma popula��o empobrecida, com dificuldades de moradia, e vemos a precariza��o das cidades".
"Tudo isso dificulta o controle de vetores que transmitem a doen�a", explica a especialista, que coordena o InfoDengue, uma iniciativa da FioCruz e da Funda��o Get�lio Vargas (FGV) para o monitoramento das doen�as relacionadas ao Aedes.
"Tamb�m � importante observar o espalhamento da doen�a para o Sul do pa�s, onde ela era pouco ativa ou quase inexistente. Essa expans�o pode estar relacionada �s mudan�as clim�ticas e � pr�pria adapta��o do mosquito", complementa a epidemiologista.
A tend�ncia, de acordo com o que aconteceu nas temporadas anteriores, � que os casos de dengue continuem a subir no pa�s pelo menos at� o meio de maio. A partir da�, com a chegada de temperaturas mais baixas nas regi�es Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste, os registros devem voltar a cair.
"Os n�meros da dengue costumam ser mais elevados durante ver�o, por causa da alta temperatura e da quantidade de chuvas, mas o per�odo de ascens�o da doen�a come�a em outubro e vai at� maio. A tend�ncia � uma redu��o mais acentuada no n�mero de casos a partir de junho", estipula Falc�o.
"Mesmo assim, os cuidados de preven��o contra dengue devem acontecer durante todo o ano", ressalta a infectologista.
Detectadas as causas do problema, o que pode ser feito para lidar com essa epidemia oculta de dengue?
A resposta das autoridades
Como n�o existe uma vacina aprovada contra a dengue, as a��es preventivas mais efetivas envolvem eliminar os criadouros do mosquito transmissor — e o ideal � que esse trabalho se inicie em janeiro ou fevereiro, quando os ovos come�am a eclodir.
"Com a pandemia, sobraram menos recursos para combater o Aedes", diz Granato.
Agora em abril, existem menos a��es que podem ser feitas. "Resta apostar no fumac�, que ajuda a inibir o mosquito adulto", completa o infectologista.
Outra atitude importante � ampliar e refor�ar os servi�os p�blicos de sa�de, para conseguir acolher os pacientes com complica��es da dengue.
O boletim epidemiol�gico do Minist�rio da Sa�de contabiliza neste ano 378 epis�dios de dengue grave e outros 4,7 mil com sinais de alarme.
Granato tamb�m se mostra preocupado com a recorr�ncia da dengue em regi�es que j� tiveram surtos e epidemias num passado recente.
"Existem quatro sorotipos do v�rus, o que significa que uma mesma pessoa pode pegar dengue quatro vezes. O problema � que ter um segundo ou um terceiro quadro da doen�a aumenta o risco de sofrer com as formas mais graves", explica.
"E temos algumas regi�es, especialmente no noroeste de S�o Paulo, que passam por surtos de dengue desde os anos 1980. Isso representa maior risco de morte nesses locais", continua.

A BBC News Brasil entrou em contato com as Secretarias Estaduais de Sa�de de Goi�s, Distrito Federal, Tocantins e S�o Paulo, locais com as cidades mais atingidas at� o momento.
A secretaria do Distrito Federal afirmou que promove sempre a��es de combate ao Aedes em todas as regi�es administrativas.
"Semanalmente � realizada uma an�lise da incid�ncia de casos por regi�o e tamb�m das cidades em que h� maior presen�a do mosquito. Ap�s essa an�lise, as regi�es que apresentam maior aumento passam a receber uma intensifica��o das a��es, inclusive com o uso do UBV Pesado [fumac�], que � apenas uma das estrat�gias utilizadas no combate ao mosquito."
J� os representantes de Goi�s admitem que "o avan�o dos casos colocam o Estado em situa��o de alerta para a possibilidade de uma epidemia por dengue".
"A Secretaria Estadual de Sa�de vincula o aumento expressivo da infesta��o do Aedes aegypti e da quantidade de casos das doen�as causadas pelo vetor � intensidade das chuvas e � baixa ades�o da popula��o em limpar os seus domic�lios."
A secretaria de S�o Paulo destacou que o n�mero de casos no Estado est� mais baixo (ou ligeiramente parecido) em 2022 na compara��o com 2021, apesar da situa��o ruim de algumas cidades neste ano.
"Conforme as diretrizes do Sistema �nico de Sa�de, o trabalho de campo para combate ao mosquito transmissor da dengue compete primordialmente aos munic�pios."
A Secretaria Estadual de Sa�de do Tocantins e o Minist�rio da Sa�de foram procurados, mas n�o enviaram respostas at� o fechamento desta reportagem.
Falc�o entende que as pol�ticas p�blicas precisam se reinventar e apostar em novas tecnologias no combate ao mosquito. "J� vimos que o que tem sido feito ao longo dos �ltimos anos n�o surtiu efeito."
"Outro ponto-chave � o investimento em infraestrutura, no saneamento b�sico, levando a uma parcela cada vez maior da popula��o acesso ao abastecimento de �gua, sistema de esgotos, coleta de lixo e drenagem de �guas pluviais", lista a m�dica.
O que voc� pode fazer
Al�m das pol�ticas p�blicas, os especialistas chamam a aten��o para as responsabilidades individuais no combate � dengue.
Aqui entram aquelas recomenda��es cl�ssicas de evitar qualquer reservat�rio de �gua parada sem prote��o em casa. O mosquito pode usar como criadouros grandes espa�os, como caixas d'�gua e piscinas abertas, at� pequenos objetos, como tampas de garrafa e vasos de planta.
Vale fazer uma faxina no quintal e na varanda, com especial aten��o para dep�sitos, calhas e objetos que ficam ao relento e podem acumular �gua da chuva.
Instalar telas em portas e janelas ou usar repelentes na pele s�o atitudes que tamb�m podem ajudar.
Por fim, � importante ficar atento aos sintomas da dengue, como febre, cansa�o, vermelhid�o em partes do corpo, coceira e dores na cabe�a, nos m�sculos, nas articula��es ou atr�s dos olhos.
Ap�s o diagn�stico da doen�a, a recomenda��o � fazer repouso, caprichar na hidrata��o e, se necess�rio, usar rem�dios que aliviam alguns desses inc�modos.
"Todos precisam conhecer os sinais de que a doen�a pode estar evoluindo para as formas mais graves. Os principais s�o v�mitos dif�ceis de controlar, febre que n�o diminui, dor na barriga e sangramentos", lista Granato.
"Nessa situa��o, � essencial procurar um pronto-socorro o mais r�pido poss�vel", conclui o m�dico.
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