
Por BBC
Em menos de dez dias, foram registrados dois ataques a tiros dentro de escolas no Brasil. Ambos os crimes foram cometidos com armas obtidas, a princ�pio, legalmente — uma delas pertencia a um CAC (colecionador, atirador desportivo ou ca�ador) e a outra era de um policial militar.
O caso mais recente aconteceu na manh� de quarta-feira (5/10), quando um adolescente de 15 anos atirou contra tr�s estudantes em uma escola na cidade de Sobral, no Estado do Cear�. As informa��es foram passadas pela assessoria de imprensa da Secretaria da Seguran�a P�blica e Defesa Social do Estado � BBC News Brasil.
Duas das tr�s v�timas foram atingidas na cabe�a. Ambas est�o em estado grave. Uma delas tinha quadro est�vel no in�cio da tarde, enquanto a outra estava entubada. A terceira foi atingida na perna e n�o teve os detalhes de seu quadro cl�nico divulgados.Ainda n�o h� informa��es sobre como o adolescente teve acesso � arma.
A diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carol Ricardo, afirma em entrevista � BBC News Brasil que o n�mero de armas adquiridas por CACs mais do que triplicou de 2018 a 2022. Hoje, h� mais de 1 milh�o de armas em circula��o em rela��o � 330 mil, quatros anos atr�s.
A advogada e soci�loga, Carol Ricardo, diz que tr�s fatores principais contribuem para que esses incidentes com armas em escolas se tornem recorrentes.
"O primeiro � o aumento das armas em circula��o. O segundo � a falta de fiscaliza��o e controle por parte do Ex�rcito e o terceiro � o incentivo e a banaliza��o ao armamento por parte do poder p�blico. H� um discurso de que ter uma arma e guard�-la em casa n�o oferece risco", afirma.
De acordo com informa��es preliminares da Pol�cia Civil do Cear�, o estudante que abriu fogo contra tr�s colegas de classe em Sobral usou uma arma dele, que � CAC, para cometer o crime. Segundo a Delegacia Municipal de Sobral da Pol�cia Civil, o adolescente planejou o ataque ap�s ter sido v�tima de bullying na escola.
Em agosto, um menino de 8 anos matou o pr�prio cunhado de maneira acidental com uma arma deixada no banco de tr�s do carro onde ele estava sentado. A v�tima, de 27 anos, era CAC e tinha ido buscar o filho de 2 anos em um col�gio em Jacare�, no interior de S�o Paulo.

Quando os tr�s estavam no carro, o menino de 8 anos pegou a pistola, carregada com 12 balas, e disparou contra a cabe�a do cunhado. Quando o socorro chegou ao local, ele j� estava morto.
A especialista disse que, durante a gest�o do presidente Jair Bolsonaro (PL), foram aprovados diversos projetos de lei que n�o apenas facilitam o acesso a armas, mas tamb�m alguns permitem que sejam comprados armamentos mais potentes e muni��o em maior quantidade.
Arma da pol�cia
No dia 26 de setembro, um adolescente de 14 anos matou a tiros uma aluna cadeirante em Barreiras, no oeste baiano. De acordo com a pol�cia, a arma usada no crime foi um rev�lver calibre 38 que ele pegou do pai dele, que � policial militar.
O adolescente teria encontrado a arma embaixo do colch�o, onde o pai costumava guard�-la. Ele entrou encapuzado pelo port�o principal do col�gio e fez os disparos contra a aluna no p�tio da escola.
Carol Ricardo, do Sou da Paz, diz que � preocupante como o Brasil "come�a a colecionar" casos de atiradores em escolas, como ocorre com mais frequ�ncia nos Estados Unidos.
"Toda vez que tem um ataque nos Estados Unidos, ocorre essa discuss�o de controle de arma. Aqui tamb�m alertamos sobre os riscos desse amplo acesso �s armas de fogo. A gente deve continuar vendo casos assim com mais frequ�ncia por conta dessa facilidade ao acesso."
Para ela, esse caso deixa claro que, mesmo em posse de agentes de seguran�a, h� riscos de a arma ser usada para praticar crimes. Ela diz que os argumentos para liberar mais armas n�o t�m fundamento e que os recorrentes casos de incidentes revelam que n�o h� cuidado com a maneira como elas s�o armazenadas.
"A narrativa que busca legitimar o uso � a de que a arma � um bem e quem mata � o homem. Mas n�o h� nenhuma informa��o ou treinamento sobre como elas est�o sendo armazenadas. � uma situa��o grave, aliada a um sistema que n�o fiscaliza e n�o controla a distribui��o desse armamento", afirmou.

Para ela, as pol�ticas que permitem um acesso mais f�cil a armas para CACs est�o causando trag�dias. Ela afirma que a legisla��o sofreu constantes mudan�as que facilitaram a compra desse armamento.
"Nessa categoria, mesmo antes do Bolsonaro, j� via-se um crescimento de compra porque � mais f�cil se cadastrar e conseguir armas com o Ex�rcito do que com a Pol�cia Federal. Mas agora est� muito mais f�cil", afirmou.
Ela alertou para que as escolas tenham mais preparo para discutir essa escalada da viol�ncia e os casos de bullying.
"N�o estou acusando a escola, mas hoje sabemos que a viol�ncia nas escolas e o bullying s�o uma realidade e que isso gera novas formas de agress�es entre os estudantes. � necess�rio que as escolas entrem nessa discuss�o o quanto antes".
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63152623
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