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Estado de Minas LUTO

Morre Pel�: da pobreza � gl�ria, a hist�ria do Rei do Futebol

Da inf�ncia humilde ao estrelato mundial, o 'atleta do s�culo' 20 encantou o mundo com seus dribles e gols e tornou-se parte importante da identidade brasileira


29/12/2022 19:45 - atualizado 29/12/2022 19:45

Pelé comemora título da Copa do Mundo
Pel� foi o mais festejado jogador de futebol do mundo e uma celebridade al�m do esporte (foto: Getty Images)
O jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues costumava dizer que "Pel� podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumpriment�-los com �ntima efus�o: 'Como vai, colega?'".

 

A grandeza de Pel� nos campos de futebol de fato alcan�ou o apogeu mundial, tendo sido eleito em 1980 "o atleta do s�culo" 20. Venceu tr�s das quatro Copas do Mundo que disputou, marcando gols em todas elas, e fez 1.283 gols — segundo o pr�prio atleta, j� que existem v�rias vers�es para esses n�meros.

Edson Arantes do Nascimento, o homem, morreu aos 82 anos, na tarde desta quinta-feira (29/12), em S�o Paulo.

 

Mas Pel�, a lenda — divis�o que ele mesmo gostava de fazer, referindo-se sempre a "Pel�" na terceira pessoa do singular — segue viva na hist�ria do futebol. "O Pel� � perfeito, o Edson � uma pessoa como qualquer outra", costumava dizer.

 

O rei do futebol estava internado no hospital Albert Einstein havia um m�s para tratamento de um c�ncer no c�lon. O funeral ser� na cidade de Santos (SP).

 

"O Hospital Israelita Albert Einstein confirma com pesar o falecimento de Edson Arantes do Nascimento, o Pel�, no dia de hoje, 29 de dezembro de 2022, �s 15h27, em decorr�ncia da fal�ncia de m�ltiplos �rg�os, resultado da progress�o do c�ncer de c�lon associado � sua condi��o cl�nica pr�via", diz a nota assinada pelos m�dicos Fabio Nasri, Rene Gansl, Alexandre Holthausen e Miguel Cendoroglo Neto.

 

Leia: Fam�lia de Pel� pedir� ao Santos para 'aposentar' camisa 10

 

Entre agosto e setembro de 2021, ele havia sido internado para a retirada de um tumor no c�lon (parte do intestino grosso), mas se recuperou.

 

Em janeiro de 2022, ele foi internado por dois dias em S�o Paulo "para dar sequ�ncia ao tratamento do tumor de c�lon, identificado em setembro de 2021", segundo boletim da equipe m�dica da institui��o.

 

A p�gina de Pel� no Instagram publicou uma mensagem dizendo que ele "pacificamente faleceu no dia de hoje. Em sua jornada, Edson encantou todos com sua genialidade no esporte, parou uma guerra, fez obras sociais no mundo inteiro e espalhou o que mais acreditava ser a cura para todos os nossos problemas: o amor."

 


 

O presidente eleito Luiz In�cio Lula da Silva fez uma sequ�ncia de posts para homenagear o ex-jogador e falou da import�ncia de Pel� para divulgar a imagem do pa�s no mundo.

 

Pel� nos deixou hoje. Foi fazer tabelinha no c�u com Coutinho, seu grande parceiro no Santos. Tem agora a companhia de tantos craques eternos: Didi, Garrincha, Nilton Santos, S�crates, Maradona... Deixou uma certeza: nunca houve um camisa 10 como ele. Obrigado, Pel�.

 

— Lula (@LulaOficial) December 29, 2022


 

A Presid�ncia da Rep�blica emitiu uma nota de pesar dizendo Pel� foi um "grande cidad�o e patriota, elevando o nome do Brasil por onde passou".

"O Presidente da Rep�blica, Jair Bolsonaro, roga a Deus que o receba em Seus bra�os e d� for�a e f� a toda a sua fam�lia e amigos para superar esse dif�cil momento."

 

Leia: Cristiano Ronaldo lamenta morte de Pel�: 'Adeus ao eterno Rei' 

 

Com in�meras controv�rsias em sua vida privada, o Rei do Futebol, ou apenas "Rei", teve uma vida intensa marcada por recordes imbat�veis em campo, cifras altas de pagamento e uma refer�ncia inesquec�vel no imagin�rio da identidade brasileira.

Tr�s Cora��es

As curiosidades e controv�rsias sobre Pel� come�am pelo seu nome.

Em 2010, descobriu-se a certid�o original de nascimento do jogador, e s� ent�o ficou-se sabendo que ele havia nascido no dia 21 de outubro de 1940, n�o 23, como se pensava anteriormente, e que seu nome era grafado com "i", diferentemente do "Edson" que adotara.

 

Em sua conta no Twitter, Pel� disse que o "Edison" seria uma refer�ncia a Thomas Edison, o inventor da l�mpada, pois nasceu na mesma �poca em que a eletricidade chegara a seu bairro.


Pele
Pele ajudou Brasil a vencer Copas de 1958, 1962 e 1970 (foto: Getty Images)

 

Edison Arantes do Nascimento, como foi batizado, teve uma inf�ncia humilde, em que chegou a passar fome. Logo mudou-se com a fam�lia de sua cidade natal, Tr�s Cora��es (MG), para Bauru (SP).

 

Na cidade paulista, segundo ele, um dia chegou � sua casa na hora do jantar para encontrar a m�e, Celeste, em prantos porque n�o havia comida para alimentar a fam�lia.

 

Para ajud�-la, vendeu amendoim e engraxou sapatos - sendo que sua caixa de engraxate, al�m de ser um de seus orgulhos, � uma das pe�as fundamentais do Museu Pel�, criado em 2014.

 

Desde crian�a jogava futebol nas ruas sem cal�amento onde morava, chutando descal�o uma bola feita de pano.

 

Leia: Galv�o Bueno lamenta morte do 'amigo' Pel�: 'Primeiro e �nico! Eterno' 

 

Foi jogando com seus amigos de escola que surgiu o apelido Pel�. F� de um goleiro chamado Bil�, o pequeno atleta gritava "Bil�! Bil�!" quando jogava no gol, uma refer�ncia que n�o foi compreendida pelos amigos.


Números da carreira de Pelé
(foto: BBC)

 

"N�s n�o entend�amos nada quando ele defendia uma bola e falava isso. Ningu�m sabia quem era esse goleiro. Ent�o, com essa de Bil� para c� e para l�, come�amos a cham�-lo de Pel�. Ele n�o gostou, e foi a� que o apelido pegou mesmo", contou Raul Mar�al da Silva, um amigo de inf�ncia.

 

Aos 9 anos de idade, em julho de 1950, Pel� viu seu pai chorar ao p� do r�dio com a derrota da sele��o brasileira para o Uruguai, no Maracan�, Rio de Janeiro, na primeira Copa do Mundo realizada no Brasil.

 

A virada por 2 a 1, no que era efetivamente a final da competi��o, ficou conhecida como"Maracanazzo", um evento tatuado no imagin�rio da na��o como uma das maiores dores coletivas brasileiras. Pel� disse ter sentado no colo do pai e prometido a ele: "Ainda vou ser campe�o mundial para deixar voc� feliz".

O pai, Dondinho, era sua maior refer�ncia, contou mais tarde o jogador. Dondinho era famoso por ser um ex�mio cabeceador — consta que marcou cinco gols de cabe�a em uma �nica partida, em 1939.

 

No entanto, sofreu uma grave les�o no joelho que o impediu de seguir carreira. Por coincid�ncia, em abril de 1940, quando Pel� estava na barriga de sua m�e.

"Eu s� queria ser ele. Ele era jogador de futebol, ent�o desde pequeno eu s� queria ser jogador de futebol. Acho que tive um pouco mais de sorte", disse Pel� a jornalistas em S�o Paulo certa vez, em uma homenagem. "Meu pai nunca ganhou uma Copa do Mundo, ent�o eu decidi fazer isso por ele.

Primeiras conquistas

O futuro "atleta do s�culo" come�ou sua saga jogando pela equipe infanto-juvenil do Bauru Atl�tico Clube, time de futebol amador de Bauru, onde morava. Pelo chamado "Baquinho", conquistou o bicampeonato da Liga Citadina, em 1954 e 1955.

 

No ano seguinte, foi aprovado para treinar no Santos Futebol Clube, da cidade litor�nea de Santos. Estreou pela equipe adulta em um jogo treino contra uma equipe da cidade vizinha de Cubat�o.

 

O Santos venceu por 6 a 1, com quatro gols de Pel� - gols que n�o entraram nas estat�sticas de sua carreira, mas lhe abriram portas importantes, passando a jogar nas partidas oficiais da equipe. Foi o come�o de sua �pica jornada santista, que incluiriam dois Mundiais de Clubes e duas Libertadores da Am�rica, nos anos de 1962 e 1963.

 

Foi tamb�m no Santos onde teve seu maior n�mero de conquistas: mais de 40 ta�as. Foi artilheiro do campeonato paulista 11 vezes, 9 delas consecutivas. Tamb�m foi artilheiro da Libertadores em 1965, da Ta�a Brasil tr�s vezes e do Torneio Rio-S�o Paulo em 1963.

 

Entrou no caminho para se tornar Embaixador Mundial do Futebol com apenas 17 anos, quando estreou na Sele��o Brasileira em 1957. De cara, em seu primeiro jogo, fez um gol contra a Argentina no Est�dio do Maracan� no Rio de Janeiro.


Pelé em campo
Pel� joga pela sele��o brasileira em amistoso na Su�cia em 1960 (foto: AFP/Getty Images)

 

Tornou-se campe�o mundial pela primeira vez na Copa do Mundo na Su�cia, em 1958, quando marcou seis gols.

 

Na �poca, o racismo imperava de maneira brutal no futebol, com comiss�es t�cnicas formadas por m�dicos e psic�logos que faziam pareceres "cient�ficos" que influenciavam os m�dicos a montarem o time titular. Resultado: geralmente os brancos iam para campo e os negros, para a reserva. Entre eles, estavam Pel�, Garrincha e Djalma Santos.

 

Pel�, que ainda tinha apenas 17 anos, s� estreou no terceiro jogo do Brasil, contra a Uni�o Sovi�tica, quando o treinador precisava da vit�ria. Didi e Nilton Santos imploraram para que Pel� e Garrincha assumissem as vagas de Joel e Mazzola, respectivamente, e os dois jogadores acabaram sendo a sensa��o daquele Mundial.

 

O Brasil venceu por 2 a 0, com dois gols de Vav�, mas a for�a de Pel� e Garrincha lado a lado ficou na mem�ria do p�blico. Nas palavras do jornalista Gabriel Hanot, idealizador da Copa dos Campe�es Europeus, o massacre da dupla din�mica contra a Uni�o Sovi�tica foram "os tr�s minutos mais fant�sticos do futebol". E os dois jamais perderam uma partida juntos at� 1966.

 

Em 1961, Pel� mais uma vez marcou a hist�ria do futebol brasileiro, tendo sido respons�vel pelo surgimento do termo "gol de placa" durante um jogo contra o Fluminense pelo Torneio Rio-S�o Paulo.

 

Em 5 de mar�o de 1961, Pel� recebeu a bola em sua intermedi�ria e disparou em dire��o aos seus advers�rios, driblando sete jogadores.

Quando a jogada terminou, as duas torcidas aplaudiram em p� entusiasmadas com a jogada que � considerada at� hoje um dos mais belos gols do futebol brasileiro.

O �nico tricampe�o mundial

Na Copa do Chile, em 1962, Pel� participou apenas de dois jogos. Na estreia, contra o M�xico, uma vit�ria por 2 a 0, ele deu o passe para o gol de Zagallo e marcou o segundo do Brasil, ap�s driblar quatro mexicanos.

 

Na segunda partida, por�m, contra a Tchecoslov�quia, sofreu uma distens�o muscular que o tirou da equipe pelo resto da competi��o. Quem brilhou em seu lugar foi Garrincha, decisivo na conquista do segundo Mundial pelo Brasil.

A maior frustra��o de Pel� veio quatro anos depois, na Copa da Inglaterra, quando o sonho brasileiro do tricampeonato tornou-se um vexame hist�rico, refletido na 11ª coloca��o .

 

"Quando voc� vai para sua primeira Copa do Mundo, voc� vai sem press�o, mas �s seguintes voc� vai com a miss�o de ganhar. E, nesse caso, tive aquelas les�es, joguei e perdemos, e disso me arrependo", refletiu, anos mais tarde, sobre a les�o no joelho direito que sofreu durante o jogo contra Portugal, que terminou em 3 a 1 para os portugueses.

 

Em 1969, quando muitos duvidavam de sua participa��o em mais uma Copa do Mundo, Pel� fez o que ficou historicamente conhecido como seu "mil�simo gol", numa cobran�a de p�nalti pelo Santos contra o Vasco da Gama, no est�dio do Maracan�.

 

Com o peso nos ombros por n�o ter participado plenamente das duas Copas anteriores devido a les�es, o Rei n�o apenas disputou o Mundial seguinte, em 1970, no M�xico, como deu a volta por cima.

 

Foi o grande destaque do torneio, em que o Brasil tornou-se tricampe�o mundial. Pel� entrou de vez para o imagin�rio coletivo, n�o apenas pelo n�mero de gols em sua carreira, mas tamb�m pela brilhante atua��o na Copa mexicana, particularmente na final contra a It�lia.

 

O mais impressionante foi o gol de cabe�a que abriu o placar, quando Pel� subiu mais de um metro de altura para alcan�ar a bola.

 

"Antes do jogo, disse a mim mesmo que ele era feito de carne e osso como qualquer um. Mas eu estava enganado", disse na �poca o treinador italiano, Tarcisio Burgnich.

 

Foi a �ltima Copa do Mundo de Pel�, que ainda � o �nico jogador a conquistar a ta�a tr�s vezes. Ele concluiu sua carreira na Sele��o Brasil em 1971, com um saldo de 115 partidas e 103 gols - sendo 92 jogos oficiais, segundo a Fifa, em que marcou 77 vezes.

 

Ap�s encerrar sua carreita no Santos em 1975, Pel� jogou no New York Cosmos, no per�odo de 1975 a 1977, onde simbolizou a apresenta��o do futebol ao p�bico americano e atuou ao lado de estrelas internacionais, como o alem�o Franz Beckenbauer e o italiano Giorgio Chinaglia. O Cosmos fecharia nos anos 1980, mas seria relan�ado em 2010, com Pel� como seu presidente honor�rio.

 

Na Nova York dos anos 1970, o Rei do Futebol ganhou status de celebridade.

Frequentava eventos na cidade ao lado de grandes astros, do cantor Frank Sinatra ao artista Andy Warhol - o mundo inteiro queria encontrar Pel� e ser fotogrado ao lado de seu sorriso. Pel� foi ainda recebido na Casa Branca, tanto pelo presidente republicano Gerard Ford como por seu sucessor, o democrata Jimmy Carter.

 

Sua condi��o de estrela global chegou a Hollywood com o filme Fuga para a Vit�ria (1981), dirigido por John Huston, em que Pel� atuou ao lado do ator brit�nico Michael Caine, do americano Sylverster Stallone e do sueco Max von Sydow.

 

A experi�ncia de Pel� como artista tamb�m incluiu a m�sica. Pel� sempre disse que, se n�o fosse jogador de futebol, teria se dedicado � carreira musical, pois adorava escrever sambas.

 

Apesar de admitir n�o cantar bem, Pel� fez um dueto com Elis Regina, em 1969, e no final dos anos 1970 gravou um disco com S�rgio Mendes, com destaque para a faixa Meu Mundo � uma Bola.

Vida ap�s o futebol

Terminada sua carreira no futebol, Pel� n�o teve grande sucesso como comentarista de TV. Tamb�m fracassou in�meras vezes nos neg�cios, com sociedades que se tornaram processos na Justi�a brasileira.

 

No come�o dos anos 1980, ap�s ter completado 40 anos, Pel� aparecia frequentemente em p�ginas de jornais e capas de revistas ao lado de sua ent�o namorada, a modelo Xuxa, que no in�cio do relacionamento tinha apenas 18 anos.

 

Foi Ministro dos Esportes entre os anos de 1995 e 1998, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

 

No comando da pasta, mudou a chamada Lei Zico, que passou a ser chamada de Lei Pel�, seguindo em linhas gerais as diretrizes da Fifa para contrata��o de jogadores.

 

Depois disso, continuou o trabalho como Embaixador do Futebol com apari��es em toda sorte de campanha de publicidade, o que lhe rendeu uma fortuna consider�vel, apesar dos fracassos nos neg�cios, al�m do apelido de "garoto propaganda do s�culo".

 

Estimava-se que seus rendimentos anuais superassem os US$ 15 milh�es, com clientes de peso como Mastercard, Nokia e Coca-Cola.

 

Em sua carreira, Pel� reuniu um tesouro pessoal de valor estimado em R$ 28 milh�es composto por 2.413 itens, incluindo a bola do gol mil, uma r�plica da Ta�a Jules Rimet, medalhas das tr�s Copas que venceu (1958, 1962 e 1970) e o trof�u de "Atleta do S�culo", entregue pelo jornal franc�s L'�quipe.

 

H� tamb�m objetos mais inusitados, como um frasco pl�stico com fragmentos do menisco direito do ex-jogador conservados em uma solu��o de formol e uma placa entregue por uma sele��o argentina que aponta Pel� como "el mejor de todos los tiempos".

 

A rivalidade entre Brasil e Argentina, ali�s, traduziu-se em um eterno debate sobre quem foi o melhor jogador de todos os tempos, Pel� ou Diego Maradona, quest�o alimentada pela imprensa e por torcedores dos dois pa�ses.

 

A revista inglesa FourFourTwo, por exemplo, apontou Maradona como o maior jogador da hist�ria das Copas do Mundo e Pel� no segundo lugar. A justificativa da revista foi que, apesar de Pel� ter conquistado mais Copas, sua atua��o n�o foi t�o decisiva nas conquistas quanto a do argentino em 1986. 

 

Por outro lado, a atualiza��o de 2018 do videogame Fifa, da EA Sports, apontou Pel� como melhor que Maradona. Em uma an�lise do n�vel total do jogador, o brasileiro tirou a maior pontua��o do jogo, 98, enquanto o argentino ficou com 97. Pel� venceu Maradona em todos os quesitos avaliados no jogo - ritmo, drible, chute, defesa, passe e capacidade atl�tica.

 

Quando Maradona morreu, em novembro de 2020, Pel� prestou homenagem ao jogador argentino. "Que not�cia triste. Perdi um grande amigo e o mundo perdeu uma lenda. (...) Um dia, espero que possamos jogar bola juntos no c�u", declarou.

Controv�rsias

A vida pessoal de Pel� foi marcada por pol�micas. Em 1996, o processo de paternidade de Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento ganhou as manchetes brasileiras.

 

"Nunca soube do paradeiro da m�e. Deve ter sido coisa de crian�a, uma escapada, uma excurs�o do Santos", disse o ex-jogador. Pel� negou a paternidade de Sandra Regina e recorreu 13 vezes, at� fazer um exame de DNA e ser obrigado a reconhecer que ela era mesmo sua filha.

 

Sandra chegou a escrever um livro sobre o ocorrido, intitulado A Filha que o Rei n�o Quis. Mesmo ap�s o reconhecimento de paternidade, Pel� n�o manteve, at� onde se sabe, qualquer rela��o com Sandra. Ela morreu de c�ncer de mama em 2006, e Pel� n�o compareceu ao enterro.

 

Em entrevista ao UOL em 2002, Pel� afirmou: "Sandra preferiu recorrer aos advogados e � imprensa. Nunca havia me encontrado pessoalmente com ela at� fazer o teste do DNA. Certa vez, foi feita uma tentativa de aproxima��o entre n�s, mas ela recusou. No in�cio, dizia que queria apenas usar o meu nome. Quando conseguiu, entrou na Justi�a pedindo dinheiro".

 

Quando ele adoeceu, por�m, os filhos de Sandra visitaram o av� no hospital e postaram nas redes sociais que "toda fam�lia tem brigas e rusgas, e a nossa n�o � diferente, mas h� momentos em que a uni�o e o amor s�o mais importantes do que qualquer coisa! Agrade�o a Deus por ter proporcionado esse momento, pois era o que minha m�e mais sonhava".

 

Outro problema familiar controverso enfrentado por Pel� foi o envolvimento de seu filho Edson Cholbi do Nascimento, o Edinho, com tr�fico de drogas e lavagem de dinheiro. Edinho foi condenado a 33 anos de pris�o em 2005, teve a pena reduzida para 12 anos e 11 meses em fevereiro de 2017 e foi preso diversas vezes por n�o cumprir medidas da liberdade provis�ria. Ele foi libertado em 2019. Em entrevista em novembro de 2020 ao canal de televis�o SporTV, disse ser inocente e injusti�ado.

 

Mas talvez uma das quest�es mais controversas da trajet�ria do Rei seja a racial. Mesmo sendo considerado o maior jogador do s�culo 20 e uma inspira��o para milh�es de negros no mundo inteiro, Pel� nunca se engajou na luta antirracista.

 

Ele inclusive sofreu racismo em diversos momentos da sua carreira, desde apelidos que recebia quando jogador - como "crioulo", "gasolina" (em refer�ncia � cor de sua pele, que era comparada � do petr�leo) e alem�o (uma ironia em rela��o ao seu tom de pele, mais uma vez). A jornalista Ang�lica Basthi explorou o tempo em seu livro Pel�: estrela negra em campos verdes.

 

Quando o goleiro Aranha foi chamado de "macaco" durante um jogo em 2014, Pel� admitiu pela primeira vez ter sofrido racismo, ainda que tenha criticado a atitude do goleiro, que n�o aceitou a ofensa e se tornou refer�ncia na luta antirracista nos esportes.

 

O Rei do Futebol, por sua vez, disse que Aranha "se precipitou" e afirmou que, se tivesse parado todo jogo em que algum torcedor havia o chamado de "macaco" ou "crioulo", teria interrompido todos os jogos em que participou.

"Pel� passou a vida negando que tivesse sofrido racismo. � a primeira vez que admite ter sido chamado v�rios vezes de macaco ou de crioulo em campo", afirmou Ang�lica Basthi na �poca.

 

No entanto, a jornalista sublinha que a trajet�ria do jogador contribuiu para a quest�o racial brasileira mesmo sem seu engajamento. "O talento e a trajet�ria do Pel� foram fundamentais para arrancar o espa�o e o reconhecimento para o negro no futebol brasileiro, mesmo que ele nunca tenha se envolvido diretamente no combate ao preconceito racial", completou.

 

No Dia da Consci�ncia Negra de 2020, Pel� dividiu opini�es na internet ao oferecer uma camisa autografada sua ao presidente Jair Bolsonaro, que tem um hist�rico de declara��es pol�micas sobre a quest�o racial no Brasil - em 2019, o presidente dissera que racismo era "coisa rara" no Brasil.

Entre pol�micas e pr�mios

A hist�ria do Rei do Futebol foi contada diversas vezes em livros e filmes, entre os mais recentes Pel� - O Nascimento de uma Lenda e o document�rio Pel�, lan�ado pela Netflix em fevereiro de 2021.

 

Em 2016, o ex-jogador dep�s como testemunha de defesa de Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do Comit� Ol�mpico do Brasil (COB) e do comit� organizador da Rio-2016, acusado de ter participado da compra de votos para a escolha do Rio como sede da Olimp�ada em troca de vantagens pessoais. Pel� disse n�o ter conhecimento de qualquer negociata feita durante essas viagens e defendeu Nuzman dizendo que ele era um 'apaixonado pelo Brasil'.

 

Pel� recebeu homenagens em v�rias partes do mundo. Entre as de maior prest�gio, al�m do t�tulo de "Atleta do S�culo", est�o o t�tulo de Sir-Cavaleiro Honor�rio do Imp�rio Brit�nico, das m�os da Rainha Elizabeth 2ª, em 1997, e o de jogador de futebol do s�culo 20 pela Fifa em 2002.

 

Chorou ao receber o trof�u Bola de Ouro no palco do Kongresshaus de Zurique (Su��a), em 2013.

 

"Ganhei tantos trof�us e pr�mios na minha carreira, mas tinha inveja porque todos esses caras (europeus) ganharam a Bola de Ouro, que eu n�o pude ganhar porque n�o jogava na Europa. Agora agrade�o a Deus por poder completar a minha cole��o de trof�us em casa", disse Pel�, na ocasi�o.

 

Compareceu em todas as cerim�nias em sua homenagem que p�de, at� que sua sa�de passou a atrapalh�-lo. Conhecido por ser orgulhoso e teimoso na vida pessoal, Pel� n�o perdia uma oportunidade de exaltar a si mesmo e de ser homenageado pelos outros. Chegou a afirmar, sempre na terceira do singular, que "Pel� n�o tem compara��o, � uma coisa de Deus. � como m�sica. H� 500 bons pianistas, mas Beethoven s� existiu um".

 

Tamb�m nunca admitiu equ�vocos publicamente. Por outro lado, atendia a seus f�s com uma impressionante paci�ncia, sendo capaz de ficar horas distribuindo aut�grafos.

 

A partir de 2012, Pel� come�ou a cancelar apari��es com mais frequ�ncia devido a sucessivos problemas de sa�de. Passou por uma cirurgia no quadril em 2012 - na qual afirmou ter havido erro m�dico, o que foi refutado pelo Hospital Albert Einstein, onde ocorreu a opera��o. Em 2014, voltou � mesa de cirurgia para retirar c�lculos renais, no ano seguinte teve hiperplasia na pr�stata e em 2016 teve que fazer outra cirurgia de corre��o no quadril, j� com a locomo��o bastante prejudicada.

 

"Mesmo sem ser mais atleta, estou pagando a conta (de les�es)", disse � Folha de S.Paulo em 2018.

 

Durante a pandemia do coronav�rus, Pel� manteve-se isolado em casa, conversando com familiares por meio de encontros virtuais, disse seu filho Edinho, em novembro de 2020, ao SporTV. Quando voltou a fazer exames de rotina, em setembro de 2021, acabou identificando um c�ncer no c�lon e submeteu-se a uma cirurgia para sua retirada. Ele continuou recebendo tratamento quimioterapia, o que exigiu interna��es em 2021 e 2022.

 

Pel� driblou como p�de os problemas de sa�de, mas mesmo a lenda emblem�tica do futebol � feita de carne e osso. No entanto, como disse diversas vezes em entrevistas, fazendo um trocadilho com sua cidade natal: "Nunca tive medo de morrer, sou um homem de Tr�s Cora��es". Seu legado continua.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59859467


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