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Estado de Minas MUDAN�AS NO CLIMA

Chuvas em SP: como cidades podem se preparar para eventos clim�ticos extremos cada vez mais frequentes?

Enquanto a popula��o e os �rg�os de fiscaliza��o cobram as prefeituras e o governo do Estado de S�o Paulo por sua atua��o - ou falta dela -, o volume de chuva acende um alerta para pesquisadores: como estudar e se preparar para o aumento dos eventos clim�ticos extremos e cen�rios cada vez mais imprevis�veis?


23/02/2023 16:33 - atualizado 24/02/2023 11:07


Foto aérea mostra devastação em cidade no litoral
Frequ�ncia de eventos extremos aumenta com as mudan�as clim�ticas (foto: Reuters)

O munic�pio de S�o Sebasti�o, o mais afetado pelos temporais que atingiram o litoral norte de S�o Paulo, tem um plano municipal de redu��o de riscos elaborado em 2018 pelo Instituto de Pesquisas Tecnol�gicas (IPT) que considerava os piores cen�rios com base nas chuvas mais intensas registradas na cidade.

A quantidade de chuva que a regi�o recebeu no �ltimo fim de semana, no entanto, foi muito acima do evento mais extremo da hist�ria recente.

Em 24h, a regi�o recebeu 640 mm de chuva, n�mero tr�s vezes maior que os 179 mm precipitados em 2014, durante a chuva mais intensa registrada nas �ltimas d�cadas.

O tamanho da trag�dia no litoral - o total de mortos j� chegou a 49 e equipes ainda buscam pessoas soterradas - tem sido apontado por especialistas como resultado de desigualdade, da falta de investimentos em habita��o e de falhas no sistema de avisos de emerg�ncia.

Enquanto a popula��o e os �rg�os de fiscaliza��o cobram as prefeituras e o governo do Estado de S�o Paulo por sua atua��o - ou falta dela -, o volume de chuva acende um alerta para pesquisadores: como estudar e se preparar para o aumento dos eventos clim�ticos extremos e cen�rios cada vez mais imprevis�veis?


Foto de deslizamento em São Sebastião
Trag�dia deixou pelo menos 49 mortos (foto: EPA-EFE/REX/Shutterstock)

Alerta

Embora sejam necess�rios estudos para determinar se o evento espec�fico do �ltimo fim de semana teve rela��o direta com as mudan�as clim�ticas, j� � um consenso cient�fico que o aquecimento global tem aumentado a frequ�ncia e a intensidade de eventos clim�ticos extremos - como mostram os relat�rios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudan�as Clim�ticas).

Em entrevista � BBC News Brasil, o meteorologista Marcelo Sluchi afirmou que acredita que possa haver rela��o entre as chuvas do fim de semana e o aquecimento do planeta.

"Um aumento da temperatura traz um aumento de vapor. Ou seja, para pa�ses tropicais como o Brasil, uma mudan�a de 1ºC significa muito mais vapor do que aumentar 1ºC na Ant�rtida ou na Patag�nia", afirmou.

"Voc� torna o clima tropical mais �mido, mais quente e mais inst�vel. Uma mesma frente fria consegue provocar hoje mais chuva do que h� 100, 200 anos. E para piorar, as frentes frias est�o ficando mais intensas em algumas circunst�ncias", disse ele. "N�o � uma situa��o normal, e justamente as mudan�as clim�ticas determinam um novo normal, n�?"

"Esta chuva de 2023 e outras dos �ltimos anos t�m mostrado que diminuiu muito o intervalo de recorr�ncia de eventos extremos, que antes era de 100, de 200 anos", afirma Alessandra Corsi, pesquisadora da se��o de investiga��es, riscos e gerenciamento ambiental do IPT.

Corsi diz acreditar que, mesmo que S�o Sebasti�o tivesse implementado todas as recomenda��es feitas no plano municipal de redu��o de riscos de 2018, a cidade ainda assim teria tido um desafio em lidar com o volume de chuvas registrado no �ltimo fim de semana.

"Minha opini�o � que, mesmo que a cidade tivesse colocado tudo em pr�tica, alguma coisa ainda assim iria acontecer", diz ela.

Corsi explica que os deslizamentos chegaram a atingir �reas al�m das que haviam sido mapeadas na regi�o da Vila Sahy.

"A �rea atingida depende de uma s�rie de fatores como altura da encosta, volume pluviom�trico. Se voc� tem um acumulado de chuvas de 80 mm, 100 mm (que j� eram cen�rios extremos) o porte do deslizamento vai ser diferente", explica.

O evento clim�tico do �ltimo fim de semana foi mais um dos que acenderam o alerta para os pesquisadores de que � preciso atualizar os par�metros para as an�lises e recomenda��es de longo prazo.

"J� estamos pensando nisso, estamos tentando elaborar algum m�todo para que os mapas para eventos extremos sirvam para a defesa civil, sirvam para os munic�pios repensarem sua forma de ocupa��o, mas ao mesmo tempo n�o sejam alarmistas", afirma a pesquisadora.

"Ainda n�o chegamos a uma resposta", diz Corsi. "Estamos analisando mais de um evento, para conseguir consolidar um m�todo."

Os pesquisadores tamb�m est�o fazendo buscas de artigos cient�ficos com protocolos internacionais que levem em considera��o esse novo cen�rio causado pelas mudan�as clim�ticas e adaptando esses protocolos para a realidade brasileira.

Apesar desse desafio, as cartas de riscos e planos de redu��o de riscos existentes continuam relevantes - e t�m recomenda��es que diminuiriam muito o n�mero de v�timas se fossem seguidas, afirma o ge�logo �lvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor do IPT.

"Chuvas de muito menor intensidade do que a que ocorreu j� mataram muita gente nos munic�pios afetados. Caso as medidas preventivas, corretivas e emergenciais tivessem sido implementadas o n�mero de v�timas seria muito menor", diz.

O futuro e o presente

De acordo com Corsi, o que esse novo cen�rio que maior frequ�ncia de eventos extremos aponta � a necessidade de come�ar desde j� uma ampla adapta��o das cidades - especialmente as do litoral, que, al�m de tudo, ter�o que lidar com o aumento do n�vel do mar no longo prazo.

"A adapta��o deve come�ar pelo plano diretor, determinando as �reas que n�o devem ser ocupadas. � preciso tamb�m uma mudan�a no c�digo de obras, para que as constru��es sejam mais resilientes", diz Corsi. "E todo um trabalho com a comunidade para haver comunica��o, treinamento, capacita��o."

"� preciso treinar a popula��o para que as pessoas se apropriem dessa percep��o de risco e das mudan�as clim�ticas", afirma a pesquisadora.

Isso sem contar os investimentos em habita��o e diminui��o das desigualdades sociais que hoje, como aponta o ge�logo �lvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor do IPT, est�o no cerne de trag�dias como a que afetou o litoral norte de S�o Paulo - j� que as mortes em geral s�o resultado de ocupa��o de �reas de alto risco natural por popula��es sem acesso � moradia adequada.

"� a parte social do problema, atender � demanda habitacional da popula��o de baixa renda, o que ter� como decorr�ncia o al�vio da press�o de ocupa��o das �reas de risco por parte dessa popula��o."

"Mais do que nunca se coloca hoje a obriga��o dos munic�pios aplicarem as recomenda��es do meio t�cnico expressas, especialmente, nas Cartas Geot�cnicas. A atitude preventiva sempre ter� um car�ter muito mais efetivo do que as corretivas e emergenciais", afirma Rodrigues dos Santos.


Mapa das cidades afetadas
(foto: BBC)

Ou seja, se os pesquisadores j� est�o preocupados em como dar conta de eventos extremos mais frequentes nas an�lises, os munic�pios ainda precisam correr atr�s de colocar em pr�tica as recomenda��es j� existentes.

O pesquisador aponta as cidades de S�o Vicente e de Santos como bons exemplos de cidades que tomaram medidas para mitigar os riscos.

"N�o mais foram ocupados terrenos em �reas de risco, �reas de alto risco foram desocupadas, obras de conten��o e de drenagem foram executadas, cartilhas de orienta��o para a popula��o foram elaboradas e distribu�das, sendo que o pessoal local participou ativamente de todo o processo", afirma.

"Tamb�m foi implantado um Plano de Conting�ncia atrav�s do qual em momentos de alerta pluviom�trico v�rias a��es s�o automaticamente e preventivamente tomadas."

O munic�pio de S�o Sebasti�o n�o respondeu ao pedido de informa��es da BBC News Brasil.

A cidade, no entanto, chegou a tomar algumas medidas de preven��o - ela ficou em 32º lugar na lista de cidades resilientes, um programa do governo do Estado que d� uma pontua��o para os munic�pios que mais e melhor investiram em preven��o de risco e em adapta��o �s mudan�as clim�ticas.

O munic�pio teve 79 pontos. Citada como exemplo de boas pr�ticas, Santos ficou em 8º lugar, com 89.5.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cxrpxg7q9eno


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