
"Para mim foi uma dor maior do que quando eu perdi meu pai. Eu me sentia protegida pelo Pedrinho como eu n�o me sentia protegida pelo meu pai." Assim Iza Toledo, 52, psicanalista de Pedrinho Matador, define o que sentiu quando soube da morte dele, no �ltimo dia 5, em Mogi das Cruzes (Grande SP).
Ela escreveu a biografia "Serial Killer (?) Eu N�o Sou o Monstro", que conta a hist�ria de Pedro Rodrigues Filho, 68, que ficou conhecido pelo apelido por ter sido respons�vel por mais de cem assassinatos, ele passou 42 anos preso e foi solto em 2018.
"Eu perdi meu pai quando eu tinha 26 anos. Ele n�o era um homem carinhoso, era um homem muito reservado. Com o Pedrinho, a gente tinha uma conviv�ncia, a gente brincava. Ele n�o era o Pedrinho Matador, era o Pedrinho Rodrigues. Era a pessoa que ele tava descobrindo que ele era, que estava se transformando", afirma a terapeuta.
Pedrinho deixou para tr�s a cidade de Mogi das Cruzes e foi morar em Itanha�m, no litoral paulista, no segundo semestre de 2021, depois de dois meses fazendo terapia online com Toledo.
Ele morava em um c�modo, na parte de baixo da casa onde a terapeuta vive com o marido, um m�dico.
"A gente conversava tr�s vezes por semana, por duas horas. E foi ganhando confian�a em mim e queria que eu escrevesse um livro que mostrasse o lado ruim dele, mas tamb�m o bom. Ele n�o queria ser santo, mas queria mostrar o que tinha acontecido com ele e por que ele tinha se arrependido e queria uma vida nova", conta.
A abordagem com Pedrinho envolvia pet terapia, em que ele cuidava dos cinco cachorros da fam�lia. A escrita criativa tamb�m era utilizada para que ele se lembrasse de passagens de sua vida para o livro.
Ele passou a conviver com a fam�lia. "Havia um v�nculo muito forte. Ele estava come�ando a viver agora. N�s passamos a ser a fam�lia do Pedrinho. As pessoas acham estranho porque elas s�o s�rdidas e projetam no outro toda a sordidez que tem dentro delas", avalia.
A terapeuta afirma que Pedrinho usava uma correntinha que ganhou de outro m�dico. Um dia, o paciente pediu a alian�a da terapeuta para pendurar no colar.
"Eu disse que meu marido ia ficar bravo. Mas ele pediu a alian�a do meu marido tamb�m e andava com as nossas alian�as no pesco�o. Dizia que com a corrente e a minha alian�a e a do meu marido, ele era muito amigo do meu marido, ele se sentia sempre protegido, era como se carregasse a fam�lia com ele", conta.
Ela reclama que tem sido alvo de fake news desde a morte de Pedrinho.
"As pessoas me chamam de vi�va do Pedrinho. Dizem que sou amante dele. Outras dizem que eu estou milion�ria, que ganhei muito dinheiro com ele, mas � tudo mentira. Al�m de eu n�o poder elaborar o meu luto, tenho que lutar contra essas fake news", diz.
Ela afirma que todo o cuidado e conviv�ncia que teve com Pedrinho n�o significam uma romantiza��o da criminalidade.
"N�s queremos levar uma mensagem de esperan�a para a sociedade. Uma demonstra��o de que o ser humano quando quer e � acolhido com humanidade, ele consegue se superar se regenerar, essa � a mensagem", conclui.
Pedrinho foi assassinado na porta da casa de uma irm�, em Mogi das Cruzes. Ele foi atingido por tiros e depois degolado. Um dos autores do crime utilizava uma m�scara do personagem Coringa, segundo relato de uma testemunha.
A hist�ria de vida e dos crimes dele vai ser tema de document�rio e de uma s�rie. O respons�vel pelas produ��es � o cineasta Fernando Grostein de Andrade.
Grostein conheceu Pedrinho Matador enquanto dava aulas de teatro para detentos na penitenci�ria Adriano Marrey, em Guarulhos.