
O cen�rio apontado pelo relat�rio se agrava quando se leva em considera��o a imuniza��o completa, ou seja, quando foram aplicadas todas as doses previstas no plano de vacina��o. Neste caso, tanto para a DTP quanto para a prote��o contra a poliomielite, o n�mero de crian�as desprotegidas sobe para 2,4 milh�es entre 2019 e 2021.
O relat�rio aponta que 40% das crian�as sem prote��o contra difteria, t�tano e coqueluche da Am�rica Latina est�o no Brasil. Al�m do n�mero considerado alto de pequenos n�o imunizados, a cobertura vacinal, historicamente alta no pa�s, tamb�m amarga queda no per�odo analisado.
“Essas crian�as foram deixadas para tr�s, ficando desprotegidas de doen�as s�rias e evit�veis. As crian�as nascidas pouco antes ou durante a pandemia agora est�o ultrapassando a idade em que normalmente seriam vacinadas, ressaltando a necessidade de uma a��o urgente para alcan�ar aquelas que perderam as vacinas e prevenir surtos e a volta de doen�as j� erradicadas no Brasil, como a p�lio”, afirma Youssouf Abdel-Jelil, representante do Unicef no Brasil.
A apresenta��o dos resultados do relat�rio teve a participa��o de membros do Minist�rio da Sa�de, incluindo a chefe da pasta, N�sia Trindade. A ministra destacou que o objetivo � retomar os altos percentuais de cobertura vacinal entre as crian�as no pa�s.
“J� tivemos 95% de cobertura em rela��o a vacinas como a da poliomielite, e agora n�o chegamos a 60% de crian�as vacinadas. Esse quadro tem que mudar. Para isso, de uma maneira muito clara, temos de combater o negacionismo em rela��o a essa prote��o dada pelas vacinas e �s fake news que infelizmente t�m sido veiculadas de uma forma irrespons�vel e criminosa”, disse N�sia Trindade.
O cen�rio nacional acompanha uma tend�ncia global, j� que 112 pa�ses tamb�m tiveram quedas de cobertura entre 2019 e 2021. A pandemia � apontada como um dos fatores que explica esse contexto por ter exacerbado as desigualdades sociais. De acordo com o Unicef, uma a cada cinco crian�as n�o recebeu nenhuma vacina em domic�lios mais pobres, sendo que em localidades mais ricas, essa propor��o cai para uma crian�a em 20. A maior taxa de desprote��o � percebida em zonas rurais, comunidades ind�genas e nas periferias de grandes cidades.
O diretor do Departamento de Imuniza��es do Minist�rio da Sa�de, �der Gatti, contextualizou os n�meros de crian�as n�o vacinadas no pa�s nos �ltimos anos. Segundo ele, a realidade apresenta desafios e a quantidade de crian�as desprotegidas � relevante diante do n�mero total.
“O levantamento que o Unicef fez mostra pra gente que o Programa Nacional de Imuniza��es tem um grande desafio. O Brasil tem, em m�dia, 3 milh�es de nascidos vivos por ano. Esse � o grupo que nasce e recebe as vacinas, ent�o estamos falando mais ou menos de 9 milh�es de crian�as. Ter 1,6 milh�o sem nenhuma vacina � um quantitativo grande, um n�mero que n�o nos orgulha e nos deixa muito preocupados”, disse Gatti durante a coletiva.
Combate � desinforma��o
Durante a coletiva de apresenta��o do relat�rio, a equipe do Minist�rio da Sa�de tratou sobre o combate �s desinforma��es como estrat�gia para retomar o ritmo das imuniza��es no pa�s. Questionada sobre m�dicos que desincentivam a vacina��o de crian�as, a secret�ria de Vigil�ncia em Sa�de, Ethel Leonor Noia Maciel, disse que a pasta faz reuni�es com entidades profissionais para combater esse comportamento.
“Estamos com v�rias a��es, j� tivemos uma reuni�o na Associa��o M�dica Brasileira e nossa pr�xima a��o � com os conselhos federais. Essas pessoas (que desincentivam a vacina��o) cometem crimes contra a sa�de p�blica e precisam ser combatidas conforme a lei. O minist�rio j� enviou um of�cio para todos os conselhos perguntando sobre as a��es que eles est�o tomando para combater esses profissionais que est�o sendo respons�veis pela amplia��o do movimento antivacina no Brasil”, afirmou a secret�ria.
De acordo com o relat�rio Situa��o Mundial da Inf�ncia 2023, houve uma queda na percep��o da import�ncia da imuniza��o infantil em 52 dos 55 pa�ses pesquisados. No Brasil, antes da pandemia, 99,1% confiava nas vacinas para crian�as e esse �ndice caiu para 88,8%. O perfil da queda da confian�a entre os brasileiros, no entanto, � diferente do resto do mundo. Enquanto no cen�rio global a redu��o foi observada entre mulheres e pessoas com menos de 35 anos, por aqui, a incerteza cresceu mais entre homens com mais de 65 anos.
De acordo com o Minist�rio da Sa�de, o perfil dos que desconfiam das vacinas no Brasil coaduna com o do integrante m�dio de grupos de desinforma��o nas redes sociais e da circula��o de mensagens de �dio. A secret�ria Ethel Maciel tamb�m responsabilizou a postura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a constru��o deste cen�rio.
“A gente tinha mais de 99% de aceita��o de vacinas no Brasil antes da pandemia e antes desse �ltimo governo que foi porta-voz desse movimento antivacina no Brasil. Isso precisa sempre ser lembrado. Inclusive temos a� um ex-presidente respondendo processo por ligar a vacina contra a COVID � transmiss�o do v�rus HIV. � nesse mundo que chegamos no Brasil, onde t�nhamos a maior autoridade falando esse tipo de barbaridade. Responde por processo e espero que possa ser responsabilizado pelo que disse e ter levado v�rias pessoas � d�vida e desconfian�a”, afirmou.
Sugest�es do Unicef
Para reverter o quadro de vacina��o infantil no Brasil, o relat�rio do Unicef sugere que o governo identifique e alcance urgentemente todas as crian�as, especialmente aquelas que perderam a vacina��o durante a pandemia de covid-19; que fortale�a a demanda por vacinas, inclusive construindo confian�a; que priorizem o financiamento de servi�os de imuniza��o e aten��o prim�ria � sa�de; e reforce os sistemas de sa�de, incluindo investimento e valoriza��o de profissionais de sa�de, em sua maioria mulheres.
A busca ativa das crian�as que n�o est�o em dia com o calend�rio de imuniza��es � um dos pontos preconizados Youssouf Abdel-Jelil. O representante do Unicef no Brasil destaca que � preciso ter urg�ncia nas a��es desta natureza para que as crian�as consigam recuperar o tempo perdido sem vacina��o.
“Uma busca ativa dessas crian�as, olhando para munic�pios e estados com maiores n�meros absolutos de n�o vacinadas e n�o imunizadas, � essencial, pois elas j� ficaram para tr�s, e correm o risco de nunca ser imunizadas e protegidas contra doen�as evit�veis. � urgente, tamb�m, retomar as campanhas de vacina��o e estrat�gias de comunica��o voltadas a fam�lias e profissionais de sa�de, mas de forma regionalizada, respeitando a situa��o espec�fica de cada territ�rio”, afirma.