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Estado de Minas CONTRASTES

Teto que esquenta na favela, �rvore e ar-condicionado no bairro rico: a desigualdade sob calor extremo

Contrastes na cidade de S�o Paulo s�o produzidos por diferen�as na condi��o financeira das fam�lias, mas tamb�m pela pr�pria infraestrutura da cidade, que prejudica quem vive em �reas menos arborizadas e planejadas.


23/09/2023 07:12 - atualizado 23/09/2023 08:27
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Vista da cidade de São Paulo
Contrastes na cidade de S�o Paulo s�o produzidos por diferen�as na condi��o financeira das fam�lias, mas tamb�m pela pr�pria infraestrutura da cidade, que prejudica quem vive em �reas menos arborizadas e planejadas (foto: Getty Images)

O aumento da temperatura no Brasil fez o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitir alertas de "grande perigo" para �reas localizadas em nove Estados do pa�s.

A onda de calor come�ou na segunda-feira (18/9) e deve ter o �pice neste fim de semana, com os term�metros podendo marcar at� 43°C.

O alerta � v�lido at� as 18h de domingo (24/9).

Segundo a Climatempo, as �reas mais afetadas ser�o Centro-Oeste, Norte e interior do Nordeste.

Em S�o Paulo (SP), maior cidade da Am�rica Latina, os term�metros podem chegar a 37,1%u202F°C, de acordo com o Centro de Gerenciamento de Emerg�ncias (CGE), da Defesa Civil do estado.

Mas o calor n�o deve ser experimentado da mesma maneira por todos os moradores da capital paulista.

Al�m da diferen�a entre a temperatura marcada pelos term�metros, a sensa��o t�rmica pode variar muito conforme as condi��es de moradia, �reas de sombra, n�mero de pr�dios e arboriza��o dos diferentes bairros, afirmam especialistas.

Na comunidade do Jardim Colombo, no complexo de Parais�polis, Zona Oeste de S�o Paulo, moradores t�m sofrido mais do que em outras regi�es mais nobres devido � falta de �reas verdes e das casas prec�rias, com pouqu�ssima ventila��o.

A casa de Maria do Carmo da Silva, apelidada no bairro de Rosinha, � coberta por um telhado de fibrocimento, instalado sem forro e com pouca altura.

Ela conta que, nos dias de calor, a cobertura contribui para esquentar os c�modos significativamente.

Aos 53 anos, ela est� desempregada e mora com outras tr�s pessoas em dois quartos.

Rosinha em sua casa no Jd. Colombo
'N�o conseguimos ficar no segundo andar da casa, porque fica muito quente', diz Rosinha (foto: BBC)

"No dia a dia, n�o conseguimos ficar no segundo andar da casa, porque fica muito quente", conta.

"N�o tem quase ventila��o nenhuma e tenho que improvisar para conseguirmos dormir � noite."

Rosinha usa dois ventiladores para refrescar os quartos, um deles sem a grade pl�stica de prote��o.

"Eu tirei a tampa para tentar ventilar mais", diz.

Ela coloca tamb�m uma bacia com �gua todas as noites ao lado da cama da filha Lorena, de 2 anos, que sofre com asma e bronquite.

"Est� sendo muito dif�cil com ela assim. Semana passada tive que correr com ela [para o hospital] porque ela estava com febre e chegando l� j� estava com falta de ar", diz Rosinha, que est� tratando a menina com anti-inflamat�rios e um aparelho de inala��o emprestado de uma vizinha.


Telhado e ventilador sem tampa na casa de Rosinha
Telhado que esquenta e ventilador sem tampa: na favela, moradores sofrem para se aliviar durante onda de calor (foto: BBC)

De modo geral, um alerta vermelho, segundo o Inmet, � emitido quando � esperado um fen�meno meteorol�gico de "intensidade excepcional, com grande probabilidade de ocorr�ncia de grandes danos e acidentes, com riscos para a integridade f�sica ou mesmo � vida humana".

Segundo Denise Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de S�o Paulo (USP), assentamentos urbanos informais como as favelas tendem a ser densamente povoados e pouco arborizados, o que os torna mais quentes e vulner�veis em momentos de alertas.

A falta de espa�o para escoamento do ar quente, decorrente das constru��es estreitas coladas umas nas outras, ainda impede o resfriamento r�pido durante a noite.

E se o entorno n�o favorece, as condi��es internas das moradias tamb�m s�o prejudiciais para a sa�de dos moradores, de acordo com Duarte.

"Casas nessas zonas tendem a ter telhados met�licos e poucas e pequenas janelas. Nesses casos, n�o t�m passagem do calor ou ventila��o cruzada para ajudar a refrescar e a casa vira uma estufa", diz a especialista, que realiza pesquisas sobre microclimas urbanos e conforto clim�tico.

"Em assentamentos informais, como as favelas, moram por vezes mais de 1.000 habitantes por hectare — e n�o h� espa�o para abrigar as pessoas. As casas s�o grudadas e cai muito a qualidade de vida e a qualidade ambiental."

'S� percebo o quanto est� quente quando saio na rua'

�s 15h de quinta-feira, 21 de setembro, a temperatura marcada pelo Centro de Gerenciamento de Emerg�ncias Clim�ticas da Prefeitura de S�o Paulo (CGESP) na subprefeitura do Butant�, onde Rosinha mora, era de 31,9 ºC.

Enquanto isso, os term�metros da subprefeitura da S�, no centro de SP, marcavam dois graus a menos.

A regi�o central da cidade tamb�m tende a reter mais calor, por conta do excesso de asfalto e dos pr�dios altos. Mas em bairros espec�ficos, especialmente em �reas nobres com maior quantidade de vegeta��o e uma arquitetura melhor planejada, a sensa��o t�rmica costuma ser de menos calor, diz Denise Duarte.

� o caso de Higien�polis, zona rica da cidade que faz parte da subprefeitura da S�. Muitas das moradias de classe alta do bairro t�m janelas grandes e estruturas que facilitam a ventila��o, al�m de aparelhos de ar condicionado e ventiladores de boa pot�ncia.


Parque Buenos Aires, em Higienópolis
Parque Buenos Aires, em Higien�polis (foto: Getty Images)

Os pr�prios moradores da regi�o admitem usufruir de um conforto clim�tico proporcionado pela intensa arboriza��o e distribui��o dos pr�dios.

A aposentada Olga Gonz�lez, de 79 anos, conta que aproveita a proximidade entre sua casa e o Parque Buenos Aires para caminhar e se refrescar pelo menos duas vezes ao dia.

“Est� realmente muito calor, mas d� para aguentar. Felizmente, o pr�dio � bem arborizado e meu apartamento bastante arejado”, diz a espanhola, que mora no Brasil desde os 13 anos de idade.

“Basicamente n�o tivemos inverno esse ano. Mas gosto desse clima.”


Olga González, de 79 anos, em banco do Parque Buenos Aires
'Est� realmente muito calor, mas d� para aguentar', diz aposentada moradora de Higien�polis (foto: BBC)

No mesmo bairro, na rua Maranh�o, um casar�o hist�rico constru�do no in�cio do s�culo 20, onde hoje funciona uma das sedes da FAU/USP, sequer precisa de ar condicionado ou ventiladores para manter alunos e funcion�rios refrescados.

O p� direito alto do edif�cio, o jardim no entorno e as janelas amplas fazem com que o ambiente fique naturalmente fresco.

"A onda de calor tem sido relativamente tranquila aqui no casar�o, porque o p� direito � alto, quase 6 metros, e o ar circula muito", diz Paulo Cesar dos Santos, t�cnico de documenta��o que trabalha no local.

"S� percebo o quanto est� quente quando saio para andar na rua. Ou ent�o na minha casa, que � mais abafada."

Vila Penteado
Em casas cercadas de �rvores e com o p� direito alto, como � o caso da Vila Penteado, atualmente cedido � FAU/USP, o calor tende a ser menor (foto: BBC)

'A conta n�o fecha'

A professora da FAU explica que fatores como dimensionamento correto dos espa�os, orienta��o solar adequada e ventila��o cruzada tornam as casas e apartamentos mais frescos.

Al�m disso, segundo ela, solos gramados e �rvores no entorno fazem grande diferen�a.

As �rvores absorvem uma parte do calor do sol e atuam como uma esp�cie de barreira entre os raios solares e as constru��es, impedindo o aquecimento de pisos, paredes e telhados.

Para efeito de compara��o, o distrito da Consola��o, onde fica Higien�polis, tem uma m�dia de quase 1.300 �rvores por km², plantadas nas cal�adas e canteiros.

A m�dia da cidade toda � de 670 �rvores por km², segundo o Mapa da Desigualdade de 2019, o �ltimo a trazer dados sobre o tema.


Paraisópolis
Parais�polis: comunidade do Jd. Colombo faz parte do complexo no oeste de S�o Paulo (foto: Getty Images)

J� no distrito da Vila S�nia, que engloba a comunidade onde Rosinha mora, existem cerca de 760 �rvores por km².

A vegeta��o, por�m, se concentra mais em outras �reas do bairro do que no Jardim Colombo, que tem uma urbaniza��o deficit�ria e � formado por habita��es prec�rias e nenhuma zona de lazer.

A realidade se repete em outras �reas menos favorecidas da cidade, como Parelheiros, Graja� e Brasil�ndia, que est�o entre os distritos menos arborizados, e Itaim Paulista, considerado por muitos como o bairro mais quente de S�o Paulo.

Pr�dios e casas mais afastados uns dos outros tamb�m evitam a forma��o das chamadas ilhas de calor urbanas, quando a aglomera��o de edif�cios e o excesso de ruas asfaltadas nas grandes cidades levam � reten��o de calor.

"A distribui��o do adensamento na cidade � muito desigual. Enquanto em algumas zonas se vive em casas onde n�o h� espa�o ou conforto suficientes, em �reas mais nobres se constroem apartamentos enormes onde moram apenas duas pessoas", afirma Denise Duarte. "A conta n�o fecha."


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