
Essa transi��o indica uma sa�da acelerada do chamado b�nus demogr�fico, como � chamado o conceito que associa o aumento da renda per capita ao maior crescimento da popula��o em idade ativa, enquanto os grupos et�rios economicamente dependentes, como crian�as e idosos, ainda s�o relativamente menores.
Espera-se que ocorra aumento m�dio da renda por pessoa durante o b�nus demogr�fico porque � na fase adulta que o ganho financeiro tende a ser maior do que o consumo, segundo C�ssio Turra, professor de demografia do Cedeplar (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional) da UFMG.
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O efeito do b�nus pode ser estendido para outras �reas, como aumento da arrecada��o tribut�ria, redu��o da pobreza, expans�o da educa��o e do sistema p�blico de sa�de, redu��o da desigualdade e desenvolvimento do sistema de previd�ncia.
"Quando o crescimento da popula��o idosa acelera e se torna maior do que da popula��o em idade ativa, muitos desses efeitos positivos tendem a diminuir", diz Turra.
No Brasil, o b�nus demogr�fico teve in�cio por volta de 1970 e durou por 50 anos, at� o in�cio desta d�cada.
Alguns dos benef�cios desse b�nus se manifestaram na redu��o da pobreza, constru��o de um sistema quase universal de previd�ncia e maior cobertura do sistema de educa��o p�blica.
Pr�ticas bem-sucedidas na sa�de p�blica, por exemplo, resultaram no aumento da expectativa de sobrevida, indicando que o pa�s acertou ao melhorar quest�es como acesso a vacinas e tratamentos m�dicos.
"Por outro lado, em uma sociedade muito desigual e com baixa capacidade de planejamento de m�dio e longo prazo, como a brasileira, aproveitamos menos do que a din�mica demogr�fica ofereceu nesse per�odo", afirma Turra.O cen�rio de envelhecimento acelerado acompanhado do aproveitamento do b�nus demogr�fico abaixo do desej�vel � especialmente preocupante para a economia do pa�s, segundo o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social.
Reflexo importante ocorre no pagamento de aposentadorias e pens�es. Sem crescimento da massa de sal�rios, as contribui��es feitas ao sistema de previd�ncia s�o insuficientes para cobrir os gastos com benef�cios. Outras fontes de arrecada��o s�o exigidas para compensar o d�ficit, prejudicando investimentos do governo e o pr�prio crescimento do pa�s.
"S�o dois problemas. O primeiro � que a velocidade do envelhecimento tem surpreendido, o pa�s est� envelhecendo r�pido. O segundo � que o Brasil tem sido retardat�rio nas reformas para lidar com isso", diz.
Em 2019, a gest�o do ent�o presidente Jair Bolsonaro (PL) aprovou uma reforma previdenci�ria que imp�s idades m�nimas para a aposentadoria pelo INSS, voltada a homens e mulheres que trabalham no setor privado. Neri aponta a reforma como correta, por�m, tardia.
� na educa��o para o mercado de trabalho, por�m, onde o pa�s mais patinou quanto ao aproveitamento do b�nus, segundo Neri. Justamente por esse motivo � este ponto que deve ser foco das pol�ticas p�blicas daqui por diante.
Na pr�tica, diz Neri, o pa�s precisa tomar como prioridade a qualifica��o de trabalhadores mais velhos para que esse p�blico possa acessar postos de trabalho qualificados, com sal�rios mais altos.
Esfor�os para compensar a passagem do b�nus demogr�fico precisam ir al�m da quest�o econ�mica, levando a popula��o acima dos 60 anos para o centro das pol�ticas p�blicas, segundo Alexandre Kalache, m�dico especializado no estudo do envelhecimento e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil.
Virada de chave importante deve ocorrer, por exemplo, na sa�de p�blica. Pr�ticas voltadas � preven��o tendem a reduzir a demanda para procedimentos de alta complexidade, como cirurgias card�acas.
"A press�o sobre os custos da sa�de n�o ocorre, necessariamente, pelo envelhecimento populacional, o que custa caro � o avan�o da tecnologia [devido � incorpora��o de novos equipamentos e medicamentos]. Quest�es como a hipertens�o podem ser prevenidas com menor ingest�o de sal e atividade f�sica", exemplifica o m�dico.
Estudioso da longevidade h� 48 anos, Kalache, 78, afirma que o envelhecimento segue longe de ser prioridade. "Analisei programas de 37 partidos pol�ticos, apenas dois ou tr�s tratavam do tema, ainda assim, de forma superficial", diz. "Como governar um pa�s se a popula��o que mais cresce est� fora do radar."