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Estado de Minas INSEGURAN�A P�BLICA

Mil�cias tomam casas, expulsam moradores e roubam at� ponte no Rio

Uma mulher moradora da zona oeste do Rio foi uma das v�timas. Ela foi obrigada a deixar a casa em que morava havia 40 anos com o marido


31/10/2023 12:19 - atualizado 31/10/2023 13:11
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Frame de vídeo mostrando ponte que 'quase' foi roubada no RJ
Frame de v�deo mostrando ponte que 'quase' foi roubada no RJ (foto: Divulga��o/Super R�dio Tupi)
A busca das mil�cias do Rio de Janeiro por novas formas de renda e amplia��o de poder levou os grupos a mirarem o controle do setor imobili�rio nas regi�es dominadas. Os criminosos usam de viol�ncia e amea�a para expulsar moradores de suas casas e tomar posse dos seus terrenos.

Em geral, os milicianos erguem novas constru��es, que ent�o s�o vendidas ou alugadas, gerando dinheiro para a quadrilha. Investiga��es da pol�cia apontam que a pr�tica � corriqueira.

Uma mulher moradora da zona oeste do Rio foi uma das v�timas. Ela foi obrigada a deixar a casa em que morava havia 40 anos com o marido.

A v�tima contou ter sido amea�ada por milicianos em outubro do ano passado. "Eles disseram para chamar quem quer que fosse, de nada iria adiantar", disse � pol�cia, segundo o boletim de ocorr�ncia. Por temer retalia��es, ela pediu para n�o ter seu nome divulgado.

Segundo o registro, ela foi procurada pelo dono de um com�rcio localizado em uma favela ao lado do bairro onde morava. Esse homem teria dito que seu marido havia doado o terreno e a casa. Ela disse que a hist�ria n�o era verdade, j� que seu marido est� doente e n�o doaria seu �nico bem.

Ap�s se recusar a deixar o local, o casal foi surpreendido por pedreiros, que passaram a realizar obras no terreno. O caso foi registrado como esbulho possess�rio —quando algu�m toma posse de uma propriedade de forma ilegal.

As obras continuaram e, atualmente, ela tenta reaver o terreno na Justi�a. O caso foi encaminhado � Draco (Delegacia de Repress�o �s A��es Criminosas Organizadas), que investiga a a��o dos grupos.

Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, as mil�cias atuam em mais de 800 �reas da regi�o metropolitana do Rio, principalmente na zona oeste e na Baixada Fluminense.

"O crime de esbulho possess�rio � configurado quando algu�m invade, com viol�ncia ou grave amea�a, im�vel ou terreno alheio", afirmou o advogado criminalista Reinaldo de Almeida.

"O processo e julgamento � de compet�ncia do Jecrim [Juizado Especial Criminal], por se tratar de um crime de menor potencial ofensivo, com pena de um a seis meses", disse.

Segundo o Tribunal de Justi�a do Rio de Janeiro, nos �ltimos cinco anos foram levados a audi�ncias 468 casos de esbulho possess�rio no estado. O Jecrim da Barra da Tijuca, zona oeste, � o que mais teve casos no per�odo, com 91 julgamentos. A regi�o concentra bairros com presen�a de mil�cia, como Barra de Guaratiba, Carmorim, Vargem Grande, Grumari, Vargem Pequena e Recreio dos Bandeirantes.

�reas de mil�cia lideram tamb�m os registros do crime nas delegacias, de acordo com levantamento solicitado pela Folha de S.Paulo ao ISP (Instituto de Seguran�a P�blica) via Lei de Acesso a Informa��o. De janeiro de 2019 a dezembro de 2022 foram 430 casos. Na cidade do Rio, os bairros que mais t�m casos s�o Recreio dos Bandeirantes, Pedra de Guaratiba, Campo Grande, Taquara — todos na zona oeste e com presen�a desses grupos.

Na mesma regi�o, h� relatos de terrenos que foram invadidos e loteados por milicianos —os criminosos chegaram a anunciar na internet o espa�o por R$ 20 mil.

Em outro caso, um morador de Sepetiba (tamb�m na zona oeste) encontrou sua casa rec�m-comprada trancada com um cadeado. Ele disse aos policiais que um vizinho ligado � mil�cia foi o respons�vel por bloquear a entrada. Com medo de sofrer retalia��es, o propriet�rio foi embora e nunca mais voltou ao local.

De acordo com a pol�cia, a presen�a das mil�cias no setor imobili�rio n�o se resume a invas�es e amea�as a moradores. Investiga��es mostram, por exemplo, que trilhos de trem t�m sido roubados pelos criminosos, que usam o material nas obras irregulares.

A Supervia, concession�ria que administra os trens, afirma que fez registros dos roubos.

Em agosto, homens suspeitos de liga��o com uma mil�cia tentaram roubar uma ponte de um ramal desativado de trens em Santa Cruz, na zona oeste.

A a��o deu errado porque o grupo n�o calculou corretamente o peso do equipamento. Ap�s a ponte ser derrubada, ela foi amarrada em um caminh�o, que deveria pux�-la para fora do rio. Mas aconteceu o contr�rio, o ve�culo acabou caindo dentro da �gua.

"Foi um barulh�o de madrugada. Depois, vimos a ponte e o caminh�o dentro da �gua, ajudamos no socorro", disse um pescador que mora pr�ximo ao local. Ele pediu para n�o ser identificado por quest�es de seguran�a.

Sem a ponte, que at� agora est� atravessada no rio, uma comunidade pr�xima ficou isolada.

"Chegamos a ficar sem pescar por uma semana, at� conseguir dar a volta com os barcos pela mata. Mas ainda atrapalha muito pois n�o conseguimos cruzar o rio com facilidade", afirmou outro pescador � reportagem.

 

A��O DAS MIL�CIAS TEM CONSEQU�NCIA AMBIENTAL

A gest�o Eduardo Paes (PSD), respons�vel pelas licen�as de obras na cidade, afirma que desde 2021 j� realizou cerca de 3.000 demoli��es por irregularidades.

"O nosso foco de atua��o est� na baixada de Jacarepagu�, nas regi�es como Muzema, Gard�nia Azul, Rio das Pedras, Recreio, Terreir�o, na zona oeste, Campo Grande, Paci�ncia, Cosmos [�reas da mil�cia], mas tamb�m nas comunidades que sofrem influ�ncia do tr�fico de drogas", afirmou o secret�rio de Ordem P�blica, Breno Carnevale.

"Temos esse intuito de preservar vidas j� que essas constru��es s�o feitas sem nenhum tipo de seguran�a ou estudo t�cnico. Tamb�m frear esse crescimento desordenado, frear desmatamento, e tamb�m asfixiar financeiramente o crime organizado", disse.

A a��o das mil�cias tamb�m tem impacto no ambiente. Nos �ltimos dois anos, o Inea (Instituto Estadual do Meio Ambiente) efetuou o embargo cautelar de 21 constru��es que foram erguidas na regi�o metropolitana do Rio sem licen�a ambiental ou por oferecer riscos iminentes de degrada��o.

O delegado Wellington Vieira, da Delegacia de Meio Ambiente, afirma que o combate aos grupos � uma de suas prioridades. "A mil�cia aproveita �reas extensas como Guaratiba que tem grandes �reas sem ocupa��o e faz loteamentos irregulares. Em um s� dia, para se ter ideia, prendi um engenheiro duas vezes".

O profissional era respons�vel t�cnico por duas obras, que n�o tinham licen�a e eram realizadas na Muzema, favela na zona oeste.

"Em depoimento, ele disse que cobrava R$ 15 mil para fiscalizar cada obra, enquanto o valor de mercado legalizado gira em torno de R$ 80 mil para o mesmo profissional", disse o delegado.

Ainda segundo a pol�cia, apesar do valor mais baixo, o mercado ilegal tem mais demanda do que o ilegal, o que acaba atraindo os profissionais da �rea.

De acordo com o processo, o engenheiro ficou preso trinta dias. O caso ainda corre em sigilo.

A reportagem foi at� um dos pr�dios que havia sido embargado na comunidade. No local, pedreiros continuavam trabalhando. Vieira afirmou que enviou uma viatura ao local.

A Muzema � a mesma comunidade na qual o desabamento de dois pr�dios terminou com a morte de 24 pessoas em 2019. Os im�veis que foram ao ch�o eram irregulares e investiga��es apontaram rela��o com a mil�cia local.

 

S�RIE DE REPORTAGENS DA FOLHA DE S.PAULO DESCORTINA O PODER DAS MIL�CIAS NO RJ

Por dois meses, a reportagem da Folha de S.Paulo percorreu 60 �reas da zona oeste do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense perguntando a moradores e comerciantes se queriam falar sobre os milicianos. Mais de 130 entrevistas foram realizadas, incluindo especialistas e moradores. O resultado est� na s�rie de reportagens Mil�cia no RJ.

As reportagens mostram como esses grupos criminosos se mant�m, com relatos de extors�es sofridas por empres�rios, vassoureiros e prostitutas.

A rep�rter Bruna Fantti tamb�m explica como ocorreu a uni�o da mil�cia com o tr�fico e por que as �reas controladas por esses grupos lideram a expuls�o de moradores de suas resid�ncias, entre outros temas.

A s�rie retrata ainda outras v�timas da mil�cia, como m�es que perderam filhos e mulheres que ficaram vi�vas de criminosos por terem seus maridos mortos em disputas por territ�rio.


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