� inadmiss�vel que integrantes do governo e um grupo de parlamentares com interesses bem espec�ficos usem o massacre na Escola Raul Brasil, em Suzano (SP), para defender n�o s� a posse, mas tamb�m o porte de armas. Como se a raz�o pelo assassinato de 10 pessoas por dois jovens fosse o desarmamento. Seria de bom tom que esses senhores que pregam o armamento da popula��o ficassem calados, pelo menos em respeito �s v�timas e ao sofrimento das fam�lias que perderam entes queridos. Armar a popula��o n�o resolver� o problema da viol�ncia que est� disseminada pelo pa�s. Muito pelo contr�rio.
Os defensores da posse e do porte de armas alimentam o discurso de que, armados, os cidad�os est�o mais protegidos. � um engodo. Estudo publicado pela conceituada Universidade de Col�mbia, de Nova York, Estados Unidos, um dia antes do massacre de Suzano, mostra que os estados norte-americanos com leis de acesso a armas mais permissivas e com �ndice maior de cidad�os armados s�o, tamb�m, os que registram mais ataques a tiros.
Na pesquisa, publicada na revista especializada British Medical Journal, os cientistas analisaram as legisla��es dos 50 estados dos EUA e deram notas que v�o de zero (restri��o total ao acesso a armas) a 100 (permiss�o completa para adquirir artefatos de fogo). Depois, eles cruzaram esses dados com os epis�dios de ataques em massa ocorridos no pa�s. Conclus�o: restringir o acesso a armas pode ajudar a prevenir crimes como o que ocorreu ontem no interior de S�o Paulo. Portanto, antes de se defender a liberaliza��o para o uso de armas, � preciso entender o que se passa no Brasil. Por que tanta viol�ncia?
Est� claro que o Brasil vive uma epidemia de assassinatos – s�o mais de 60 mil por ano. E isso n�o tem nada a ver com o fato de os jovens estarem assistindo a mais videogames. A raiz do quadro alarmante de viol�ncia est� na desestrutura��o da sociedade. O Estado n�o se preocupou em dar suporte �s fam�lias, sobretudo por meio de uma educa��o de qualidade. N�o preparou as escolas para lidar com as fragilidades emocionais dos estudantes. Pior, se ausentou de �reas carentes, onde o crime organizado e as mil�cias tomaram conta do terreno e cooptaram jovens carentes, que n�o estudam nem trabalham – um em cada quatro jovens est� desempregado.
Todos, sem exce��o, t�m sua parcela de culpa pelas 10 mortes no massacre de Suzano e em todos os epis�dios semelhantes que assombraram o pa�s. Nos �ltimos anos, o grosso da sociedade passou a aceitar e a estimular a cultura da viol�ncia. Tal comportamento, por sinal, jogou por terra o discurso de que os brasileiros s�o pac�ficos. N�o s�o – nem nunca foram. Um pa�s onde se mata mais do que na��es em guerra jamais pode ser classificado como um local tranquilo.
Enfim, a pergunta �: quantos mais casos como o de Suzano ter�o de acontecer para que o pa�s tome medidas concretas para reverter a viol�ncia, que n�o perdoa ningu�m?. N�o h� solu��o �nica para os problemas. Talvez possamos come�ar pela reflex�o de cada um de n�s, por ouvir mais os que nos cercam, ficar atentos aos sinais que s�o emitidos e repudiar o �dio que se dissemina. Juventude traduz o futuro e a esperan�a. Mas, infelizmente, estamos enterrando o futuro e a esperan�a com os jovens cujas vidas est�o sendo interrompidas de forma t�o est�pida.
