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Estado de Minas

Ouvidos aos clamores

Por um novo tempo na sua vida e na qualifica��o de sua cidadania, de toda a sociedade, d� ouvidos aos clamores


postado em 27/09/2019 04:00

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
 
 
 

ouvir os clamores � indispens�vel para combater indiferen�as que configuram uma ordem social e pol�tica contr�ria � dignidade humana neste complexo momento da contemporaneidade. Verifica-se que h� grande dificuldade para escutar clamores dos sofredores, pobres, enfermos, indefesos e idosos. Comprometida a escuta, consequentemente, estar�o tamb�m prejudicados os di�logos e entendimentos. "Quem tem ouvidos, ou�a." Exercer a escuta � a recomenda��o pedag�gica de Jesus.

Com frequ�ncia, d�-se ouvidos a muitas coisas que alimentam o mal. De maneira patol�gica, dedica-se aten��o ao card�pio de perversidades que alimentam sentimentos destrutivos. Um sinal desse comportamento � a considera��o, popularizada, de que "not�cia boa � not�cia ruim". Configura-se, assim, um inconsciente coletivo que gera interesse e envolvimento com o que � cruel e tem for�a destrutiva sobre imagens e reputa��es, ainda mais quando se ancora em inverdades. H� uma crescente perda do encantamento pelo bem. E � o bem que gera o sentido necess�rio para o sustento da vida, a inspira��o para intui��es que renovam din�micas, permitindo encontrar caminhos e respostas novas ante as car�ncias de toda a sociedade.

A escuta daquilo que alimenta o mal compromete uma indispens�vel compet�ncia humana: dar ouvidos aos clamores que brotam das diferentes formas de sofrimento. H� de se recuperar essa capacidade. Ao se dar ouvidos aos clamores dos que sofrem, nas muitas periferias – geogr�ficas e existenciais –, ocorrem transforma��es profundas na interioridade humana, na espiritualidade de cada pessoa, nas sinapses cerebrais. S�o alimentados os muitos sentimentos que podem sustentar o sentido do viver, inspirar escolhas, qualificar processos e garantir compet�ncia assertiva no exerc�cio de responsabilidades legislativas, judici�rias e executivas. Permite, tamb�m, a qualifica��o da insubstitu�vel compet�ncia cidad� de ser solid�rio e de cultivar a compaix�o. Certamente, a� est� um dos rem�dios para curar a sociedade da viol�ncia.

A insensibilidade para se ouvirem os clamores explica, tamb�m, o enfraquecimento de mentes, que se tornam incapacitadas para lidar com desafios mais exigentes. Por isso, h� tanta impaci�ncia e precipita��es, que levam a escolhas cegas e desist�ncias fatais ante a nobreza e o dom que � viver. N�o menos suicida � a configura��o de situa��es regidas pelas intelig�ncias e escolhas, decis�es e orienta��es de quem, ainda que ocupando cargos importantes, n�o tem a necess�ria sensibilidade cultivada a partir da pr�tica espiritual e cidad� de se dar ouvido aos clamores.

S�bia � a m�e que sai � procura de oportunidades para que seus filhos exercitem, por inser��es no mundo dos pobres e sofredores, a capacidade de ouvir clamores enquanto prestam servi�o abnegado e oblativo. Assim, n�o se deixa assorear a fonte do sentimento de compaix�o e de solidariedade, t�o e quase sempre mais importante que a fonte luminosa da raz�o. Pr�ticas religiosas, exerc�cio de poderes em governos, relacionamentos sociais e humanit�rios n�o podem dispensar o recurso simples, mas com for�a educativa e terap�utica, que � ouvir os clamores.

� significativa a refer�ncia religiosa dos primeiros cinco livros da sagrada escritura, o Pentateuco, ao indicar rumos na busca de equil�brio na ordem social e pol�tica do povo de Deus: indispens�vel � o exerc�cio permanente de se ouvirem os clamores dos pobres e sofredores. E n�o se trata, absolutamente, de coniv�ncia com algum tipo de configura��o meramente ideol�gica. Trata-se de caminho em dire��o a Deus e para conquistar uma espiritualidade necess�ria na rela��o entre semelhantes e com o Criador de todas as coisas. Os ouvidos dados aos clamores dos sofredores e pobres permitem a arquitetura do genu�no sentido da pobreza – rem�dio para a doentia mesquinhez que enjaula almas e cora��es sob a �gide da idolatria do dinheiro. O destrutivo apego aos bens leva � indiferen�a. Orienta posturas de quem at� fala sobre os pobres, tem discursos em sua defesa, mas, mesmo com os cofres cheios, n�o abre m�o de centavos para ajud�-los.

Ora, no cora��o de Deus, os pobres e sofredores ocupam lugar preferencial. Ele escuta seus clamores e deles se compadece. Sobre eles se debru�a. Dedica-se � humanidade pobre, pecadora e esgar�ada por se distanciar de seu amor. Sua compaix�o se desdobra em gestos de salva��o, no ato maior e perfeito de amor, a oferta de seu filho amado, Jesus Cristo, o Salvador. O mundo doente, homens e mulheres doentes, necessitados de fecunda terap�utica para mudar rumos e recompor cen�rios, podem encontrar sa�das, solu��es e conquistar um tempo novo. Mas, para isso, devem investir na experi�ncia-exerc�cio de se dar ouvido aos clamores dos pobres.

O convite � dirigido a todos, sem exce��o: dar ouvido aos clamores que v�m de longe e de perto, de muitos lugares. Os resultados ser�o surpreendentes no cora��o de cada pessoa, tocado pelo b�lsamo da compaix�o. Ser� alcan�ado o sentido para se lutar e se fazer o bem, impulsos para novas pr�ticas, a partir da solidariedade. � uma experi�ncia espiritual para dar sustento ao viver, com mais sabedoria nos diferentes modos de agir no mundo. Hoje, agora, n�o feche os seus ouvidos. Por um novo tempo na sua vida e na qualifica��o de sua cidadania, de toda a sociedade, d� ouvidos aos clamores. "Quem tem ouvidos, ou�a."




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