Acedriana Vicente Vogel
Diretora pedag�gica do Sistema Positivo de Ensino
Quem j� passou dos 40 anos e viveu em algum canto do Brasil experimentou, certamente, exerc�cios sistem�ticos de paci�ncia. Paci�ncia para enviar uma carta e ter de aguardar uns 15 dias a resposta; para esperar aquecer o tubo de imagem da televis�o, em seguida ajustar com cuidado as linhas verticais e horizontais e, ainda, para arrumar a esponja de a�o que ficava na ponta da antena... paci�ncia para tolerar os chiados do som 'mono', sonhando com o 'stereo' dos aparelhos 3 em 1; para virar o lado dos discos de vinil a fim de ouvir todas as faixas, limpando, a cada pouco, a agulha da vitrola ou, de forma artesanal, para desenrolar a fita cassete que se enroscava e comprometia, quase que irremediavelmente, aquela m�sica preferida. Isso n�o bastando, era necess�rio aguardar a utiliza��o das 12, 24 ou 36 poses do filme da m�quina fotogr�fica, enviar para a revela��o e torcer para que as fotos ficassem boas.
Para muitos, esse relato trata de um tempo long�nquo, t�o distante que parece de outro mundo. Para outros, apenas a oportunidade de ser testemunha ocular da hist�ria. � fato, no entanto, que entre o saudosismo de uns e o espanto de outros n�o � dif�cil perceber que as facilidades e a velocidade da modernidade acabaram por privar os jovens de oportunidades para exercitar a paci�ncia.
A vida � uma rela��o com o tempo e, para ser plena, necessariamente, deve ser repleta de planos, sonhos e esperas. A fuga do tempo, na atual l�gica do instant�neo, precipita o fim; um fim dif�cil de decifrar por conta da sua natureza provis�ria. � similar ao que se faz ao envolver um abacate em um pano ou jornal: acelera-se o amadurecimento, mas compromete-se o sabor da fruta. � evidente, nas novas gera��es, a rela��o de tortura com os ponteiros do rel�gio, nos remetendo a pensar que, como adultos respons�veis, nossa tarefa tamb�m seja a de ajudar esses jovens a rever a import�ncia do respeito ao tempo na constru��o do sentido da vida: a import�ncia de ser paciente.
Paci�ncia que nada tem a ver com passividade, mas com a qualidade do que se aprende e se realiza durante a espera, sem perder de vista o horizonte m�vel que direciona o nosso deslocamento. Quando se analisa a vida de pessoas que realizaram grandes feitos, em diversos campos, tornam-se evidentes virtudes comuns como paci�ncia, perseveran�a e persist�ncia – ou seja, nem pressa, nem pregui�a. Sobre isso, j� nos alertava Paulo Freire: "Ningu�m chega l� saindo de l�", defendendo, nesse sentido, a import�ncia do desenvolvimento da paci�ncia hist�rica. N�o h� m�gica para as conquistas humanas; se algo precisa ser aprendido, � necess�rio que algu�m se disponha a ensinar e, nesses tempos, mais ainda, a dar o testemunho, visto que n�o h� como ensinar algo que antes n�o se tenha aprendido.
Essa din�mica tacocr�cica, cuja raiz tem origem no termo grego t�khos (r�pido), que Bauman intitula de "modernidade l�quida", ressalta, entre outras caracter�sticas, o perigo do consumo descart�vel, como forma de preencher os vazios daqueles que andam somente porque t�m pernas. Pessoas assim desenvolvem baixa resist�ncia � frustra��o e pouca vitalidade para o enfrentamento da realidade.
Se for verdade a cren�a de que a qualidade da escola tem rela��o direta com a qualidade das pessoas dela egressas, n�o h� como questionar o fato de que no 'patchwork curricular', o desenvolvimento de habilidades e compet�ncias s�o retalhos soltos a serem entretecidos, por meio de fios virtuosos, entre os quais se destacam a paci�ncia, a perseveran�a e a persist�ncia, a fim de dar firmeza e consist�ncia � obra artesanal de cada vida inserida no trabalho educativo escolar.