
Jo�o Dewet Moreira de Carvalho
Engenheiro-agr�nomo
O Brasil alimenta um quarto de todos os habitantes do planeta. Quem n�o conhece a real hist�ria de suor, desprendimento e muito idealismo existente por tr�s dela, at� pensa que tudo � devido, como disse, h� mais de 500 anos, Pero Vaz de Caminha, ao fertil�ssimo solo p�trio, em que "se plantando, tudo d�". Boba ilus�o do entusiasmado escrevente portugu�s.
Ilus�o predominante ainda hoje em dia. Pois a maioria da popula��o brasileira desconhece que a maior parte do nosso territ�rio � composta de solos pobres. Sendo alguns at� bem problem�ticos. Realmente, impr�prios para a agricultura em seu estado natural. Mas que, devido ao trabalho abnegado de in�meros agr�nomos, tornou poss�vel um pa�s pobre e incapaz de produzir, na maior parte do s�culo 20, o alimento necess�rio � subsist�ncia do seu povo, ser transformado no maior celeiro mundial.
Como em toda guerra a vit�ria s� vem depois de in�meras batalhas, o mesmo aconteceu no "case agr�cola brasileiro". O processo foi lento, mas, firme. No fim do s�culo 19 e in�cio do 20, v�rias escolas agr�colas de n�vel superior foram criadas no pa�s. E passaram a introduzir e propagar as modernas t�cnicas da ci�ncia agr�cola em suas regi�es de atua��o. No entanto, nem todas essas tecnologias se adaptavam adequadamente devido ao clima predominante por aqui ser tropical. Bem diferente do ber�o origin�rio dessas t�cnicas dispon�veis, com seu clima temperado da velha Europa ou da Am�rica do Norte.
Contudo, as primeiras regi�es beneficiadas por todo esse processo transformador do meio rural brasileiro foram justamente as contempladas com a instala��o dessas escolas. Que, posteriormente, vieram a se tornar imensas universidades com atua��o em diversas outras �reas. As pioneiras s�o: a Escola Superior de Agricultura Lu�s de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, S�o Paulo; a Escola Superior de Agricultura de Lavras (Esal), em Lavras, Minas Gerais; a Escola de Agronomia do Km 47, no Rio de Janeiro; a Universidade Federal de Vi�osa (UFV), em Vi�osa, Minas Gerais.
No entanto, o processo n�o foi t�o r�pido quanto o desejado. Afinal, toda transforma��o de uma r ealidade t�xica e enraizada no cotidiano de uma na��o leva tempo e demanda estrat�gias para que surjam resultados alvissareiros. Contudo, os primeiros passos haviam sido dados logo ap�s a implanta��o das primeiras escolas agr�colas de n�vel superior. E ao ser constatado que n�o bastava apenas enviar elementos ao exterior para que eles trouxessem ao Brasil t�cnicas exitosas nos pa�ses de origem, mas totalmente ineficientes no ambiente agr�cola nacional. Ent�o, os vision�rios passaram a investir na forma��o de agr�nomos que aprendessem a pensar e, com a capacidade apurada de raciocinar, pesando os pr�s e contras nos experimentos, desenvolvessem t�cnicas condizentes � realidade do pa�s. E, em outros casos, no m�nimo, promovessem adapta��es dessas tecnologias estrangeiras de forma que lhes viabilizasse o uso com efici�ncia.
A�, no meio desse ambiente revolucion�rio, surge a figura de um garoto de origem humilde. Mas vocacionado para ser um destacado agente transformador de toda uma realidade adversa vivida, at� ent�o, pela sofrida na��o brasileira. Seu nome: Alfredo Scheid Lopes. Estudou nos anos de forma��o no famoso educand�rio presbiteriano Gammon, em Lavras, Minas. E, em seguida, entrou para a Escola Superior de Agricultura de Lavras. Onde passou, depois de formado, a ser, em 1962, professor e pesquisador. O esp�rito competitivo e o ardor guerreiro que o caracterizavam, levando-o a ser um dos mais destacados atletas mineiros das d�cadas de 50 e 60, quando fez parte de equipes de atletismo e da Sele��o Mineira de basquete, conquistando in�meros t�tulos regionais e nacionais, logo se fez sentir no agr�nomo Alfred�o.
Seus estudos dos solos do imenso e improdutivo cerrado brasileiro, em sua condi��o natural, e os procedimentos t�cnicos e cient�ficos por ele adotados, entre os quais o uso do elemento mineral f�sforo, visando possibilitar o desenvolvimento saud�vel e produtivo das culturas, reverteram o car�ter in�spito do solo do cerrado. E, com isso, o inovador Alfred�o revolucionou toda a agricultura nacional. Na verdade, transformou o Brasil no garantidor da exist�ncia futura da maior parte da humanidade, ao n�o lhe negar o mais precioso meio de subsist�ncia existente: o alimento.
Outro gigante respons�vel direto pela transforma��o do Brasil como o maior celeiro alimentar mundial, tamb�m professor e reitor da Escola de Agricultura de Lavras nos anos 60 e 70, al�m de ser o insuper�vel ministro da Agricultura, criador da Embrapa e de tantas outras institui��es fundamentais � eleva��o da na��o brasileira no cen�rio internacional, o Dr. Alisson Paulinelli disse: "A import�ncia do Alfredo � incompar�vel. A morte dele, no s�bado, 23 de maio (2020), ficar� na hist�ria como o fim da exist�ncia terrena de um homem incomum. E grande parceiro de jornada. Dele, n�o apenas a fam�lia ou os amigos ter�o saudades, mas toda a humanidade, pelos benef�cios recebidos".
Pena que homens da envergadura do Dr. Alisson Paulinelli e do Dr. Alfredo Scheid Lopes, que tanto orgulho trazem ao povo brasileiro, estejam em falta na atualidade. Principalmente nas altas esferas dos tr�s poderes da Rep�blica. Tanto no Executivo, quanto no Legislativo e no Judici�rio. Onde as nulidades tomaram conta e tanto t�m envergonhado a na��o brasileira diante do mundo, nos �ltimos 20 anos, e fazendo a na��o chorar copiosamente. N�o de saudades, como se chora hoje pelo Alfred�o. Mas de raiva e de vergonha por estar sendo representada por verdadeiras excrec�ncias nacionais.
