Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especializa��o em direito tribut�rio da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ
O nosso presidente aparenta ter uma profunda atra��o pela morte. De forma��o militar, em qualquer formatura de sargentos n�o perde a oportunidade de falar “em dar a vida pela p�tria”. Nos faz recordar aquele general espanhol, adepto do feroz ditador Franco (antes da democratiza��o da Espanha), que diante de Unamuno, lend�rio humanista e reitor da Universidade de Salamanca que pedia respeito � vida, gritou ensandecido: “Viva la muerte”. Em nossa p�tria, h� um presidente que � antivacina, contra a ci�ncia, a OMS e as maiores autoridades m�dicas do mundo. Ele estudou medicina?

Agora, uma nova variante, chamada de �micron, mais virulenta, fez com que os EUA, a R�ssia, a China, a Comunidade Europeia de Na��es (CEE) adotassem dos viajantes a apresenta��o do atestado vacinal junto com o passaporte, uma provid�ncia simples, pr�tica e eficaz, para evitar que os habitantes dos respectivos pa�ses ficassem a salvo do cont�gio, j� que a variante da COVID-19 surgiu na �frica do Sul.
Entretanto, nosso presidente se nega terminantemente, em nome de um idiota esp�rito liberal, como se liberais n�o fossem os EUA, a Alemanha, a Fran�a, o Reino Unido, al�m de outras n�o t�o liberais, como a R�ssia e a China, a tomar a simples decis�o de exigir dos visitantes de nosso pa�s, onde vivemos e trabalhamos e onde vivem nossos entes queridos, o fundamental atestado vacinal, nos expondo � doen�a e ao agravamento da pandemia.
Como se pode qualificar uma pessoa dessa laia, al�m de genocida? S�dico? Maluco? Acha que � tudo isso, al�m de uma no��o equivocada de coragem. Aquela mesma que ele invocou quando era um simples tenente para levar seus companheiros – contra a disciplina e a hierarquia militares – a fazer “greve” por melhores soldos, o que lhe acarretou a sa�da do Ex�rcito nacional. Quando se sai das For�as Armadas (ele foi persuadido a sair, ao inv�s de ser expulso, o que n�o interessava �s institui��es militares) ganha-se a patente seguinte. E, por isso, o est�rdio saiu com a patente de capit�o, a menor da categoria.
Antes disso, estudou o prim�rio, o secund�rio, o cient�fico e a escola superior militar em institui��es p�blicas sustentadas pelos nossos impostos. � um pensionista da na��o sustentada por n�s e nunca contribuiu com um centavo para manter as institui��es.
Muito imoralmente, sempre foi simp�tico �s mil�cias da baixada fluminense, ao argumento de que as institui��es judiciais n�o funcionavam, esquecido que as tais mil�cias extorquem dinheiro pelos servi�os de seguran�a, licenciamento de energia e telefonia e at� vendas de botij�es de g�s.
Percebeu a demanda popular pela “moralidade na pol�tica” ap�s passar 27 anos como deputado – sem que ningu�m soubesse –, sempre eleito pela Baixada Fluminense, o que n�o o recomenda, e com essa cantilena se elegeu, sem programa de governo, presidente da Rep�blica.
Poucos se lembravam dele. Num �nico momento fugidio se exp�s no Congresso Nacional. Deu-se no impeachment da presidente Dilma, quando, aos berros, disse “sim! Em nome do coronel Brilhante Ustra, o pavor de Dilma”.
Quem � essa pessoa desconhecida do grande p�blico? Nada menos que o torturador-mor do DOI-Codi, o �rg�o mais temido da ditadura militar. Ele era useiro e vezeiro no uso de m�todos brutais para obter informa��o – afogamento, chicote, pau de arara et caterva.
� de se concluir, por quem nutre tanta admira��o por um torturador contumaz, que tamb�m ele � um torturador ou gostaria de s�-lo. Voltemos ao seu pendor pela morte. Todos n�s nos lembramos o quanto vociferou contra as vacinas, o isolamento social e as aglomera��es de pessoas, t�cnicas utilizadas por todos os povos da Terra e recomendadas pelos m�dicos infectologistas e sanitaristas de todos os lugares, e principalmente pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). Sua teoria � furada. A humanidade tem pelo menos 160 milh�es de anos, ent�o j� era – antigamente inexistiam rem�dios fortes – para estarmos imunizados.
Ele queria que houvesse uma mortandade grande na cren�a perigosa e sem respaldo na infectologia de que se expor ao v�rus e enfrent�-lo � melhor do que se vacinar. � a mesma coisa que dizer que o cientista Sabin foi um desservidor da humanidade por ter inventado a vacina contra a poliomielite (paralisia infantil). Para ser coerente, todos deveriam se expor ao v�rus e obter imunidade natural, refor�ando nosso sistema defensivo imunol�gico...
Ora essa, as vacinas n�o enfraquecem sistema imunol�gico; ao contr�rio, o ajudam a ser mais eficaz. Quem � contra uma vacina o � contra todas as vacinas, incluindo a tr�plice, que todos tomamos aos poucos dias de vida: caxumba, difteria e coqueluche, sem mencionar a anti-hansen�ase (lepra) e tuberculose, al�m da antipoliomielite (cinco dias depois de nascer) e outras mais, a� inclu�das as vacinas contra a influenza (gripe), que mata muita gente.
