
As cat�strofes ambientais t�m sido cada vez mais rotineiras mundo afora, resultado muitas vezes da atividade humana predat�ria, feita sem qualquer respeito � natureza. Particularmente no Brasil, de norte a sul, temos assistido com frequ�ncia assustadora a not�cias de agress�es ao meio ambiente. S�o desmatamentos gigantescos, queimadas descontroladas, garimpo ilegal em rios da Amaz�nia, al�m de minera��o em �reas que deveriam ser preservadas.
Em rela��o ao desmatamento, um dos cap�tulos mais recentes da devasta��o est� contido no levantamento feito pela ONG Global Forest Watch e divulgado na semana passada: o Brasil foi respons�vel por 40% de tudo o que foi desmatado em 2021 no mundo. Nosso pa�s perdeu nada menos que 1,5 milh�o de hectares de florestas tropicais prim�rias. De acordo com o relat�rio, a taxa de desmatamento tem se mantido alta nos �ltimos anos no Brasil e est� relacionada principalmente aos inc�ndios.
S�o n�meros que deveriam servir de alerta �s autoridades do pa�s, especialmente agora com o in�cio do per�odo de seca em grande parte do territ�rio nacional. No entanto, � pouco prov�vel que tenhamos uma grande a��o preventiva para evitar o fogo descontrolado.
Outras amea�as e agress�es ao meio ambiente tamb�m preocupam, como o garimpo em �reas ind�genas, poluindo rios e para�sos naturais, e a minera��o em �reas impr�prias, pr�ximas a grandes cidades.
A minera��o � uma atividade importante, que gera riquezas e empregos e n�o deve ser demonizada. Mas isso n�o significa que ela pode ser feita de qualquer jeito, sem planejamento, e em qualquer lugar. Se isso n�o � respeitado, o resultado s�o trag�dias como as que vimos nos �ltimos anos ou, no m�nimo, a destrui��o de patrim�nios naturais.
� o que est� acontecendo agora na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, em fato que ganhou repercuss�o nacional. Uma mineradora, a Tamisa, recebeu licen�a do Conselho de Pol�tica Ambiental (Copam) para explorar milh�es de toneladas de min�rio de ferro em uma �rea de 1.200 hectares na Serra do Curral, maci�o de montanhas que emoldura a capital mineira.
Embora a empresa alegue que cumpriu todas as etapas t�cnicas para implantar o empreendimento, ambientalistas afirmam que a devasta��o da �rea para retirar o min�rio ser� gigantesca, com preju�zos para a fauna e a flora. No caso da vegeta��o, eles argumentam que existem no local esp�cies amea�adas de extin��o, como o cacto Arthrocereus glaziovii, que s� � encontrado nessa regi�o do pa�s. Al�m dos danos � biodiversidade, nascentes ser�o destru�das e h� quem aponte riscos para o sistema de abastecimento de �gua da Regi�o Metropolitana de BH.
A �rea a ser minerada fica a menos de tr�s quil�metros de bairros da capital e cidades vizinhas, pr�xima, inclusive, de um dos maiores hospitais da cidade. Isso significa que moradores e pacientes v�o ter de conviver com explos�es que ser�o feitas pela Tamisa – como � comum em qualquer minera��o – e tamb�m com a poeira que vai ser levada da �rea escavada para a cidade. Sem contar o tr�fego incessante de ve�culos pesados, como caminh�es, utilizados para retirada do material escavado.
A Prefeitura de BH e o Minist�rio P�blico j� entraram na Justi�a contra a explora��o da serra, deputados tentam criar uma CPI para investigar como foi aprovado o projeto da mineradora, e a popula��o se mobiliza para preservar seu patrim�nio.
Do outro lado, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), defende pessoalmente – e em tom enf�tico – a atividade da mineradora e a aprova��o do complexo miner�rio feita pelo Copam. Segundo ele, “pessoas que n�o t�m nenhuma forma��o n�o deveriam estar opinando” sobre o assunto. A Secretaria do Meio Ambiente do governo mineiro, que deveria zelar pela preserva��o de nossos patrim�nios ambientais, vai no mesmo tom do governador.
O que o atual ocupante do governo de Minas parece desconhecer � que essas “pessoas sem forma��o” s�o ningu�m menos que os pr�prios moradores de BH, respons�veis pela elei��o da Serra do Curral como s�mbolo da cidade, em 1997. Eles est�o indignados. Sabem que essa serra � muito mais do que uma forma��o geol�gica: tem uma dimens�o simb�lica. Foi – e ainda � – decisiva para a constru��o da identidade de BH, do senso de pertencimento de seus moradores e desperta fasc�nio tamb�m nos visitantes da capital mineira.
Algu�m imagina uma minera��o no Corcovado ou no P�o de A��car?