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Feminismo da diferen�a

A desconstru��o de estere�tipos forjados pela desinforma��o e as varia��es do movimento s�o desafios crescentes da luta das mulheres por justi�a e igualdade de direitos e contra o sexismo


08/03/2019 05:02

(foto: LEO COELHO/FRAME PHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO)
(foto: LEO COELHO/FRAME PHOTO/ESTAD�O CONTE�DO)


As redes sociais mostram que o n�mero de mulheres que se autodeclaram feministas aumentou consideravelmente nos �ltimos anos. Na passagem do Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, n�o � poss�vel mensurar exatamente quantas s�o as feministas, mas � bem percept�vel como o debate p�blico contempor�neo � pautado pelo feminismo. No entanto, ao mesmo tempo em que se amplificam as agendas do movimento, cresce a desinforma��o causada por estere�tipos associados ao feminismo e �s feministas. Al�m de reivindicar igualdade de direitos e lutar contra o sexismo, as feministas precisam empreender a��o para explicar o que � o movimento, em todas as suas vertentes, e deixar mais claros os conceitos norteadores.

Nessa dire��o, quatro lan�amentos jogam luz ao movimento: O feminismo � para todo mundo – Pol�ticas arrebatadoras (Rosa dos Tempos), de Bell Hooks, Outra educa��o � poss�vel – Feminismo, antirracismo e inclus�o em sala de aula (Mazza Edi��es), de Luana Tolentino, Debates feministas – Um interc�mbio filos�fico (Editora Unesp), de Seyla Benhabib, Judith Butler, Drucilla Cornell e Nancy Fraser, e Explos�o feminista (Companhia das Letras), organizado por Heloisa Buarque de Holanda.

Aclamada intelectual negra, Bell Hooks defende que o feminismo � para todo mundo e por isso atua para construir movimento de massa e n�o uma luta de nicho e sect�ria. O livro apresenta de maneira direta os principais temas que envolvem o movimento, das pol�ticas feministas �s discuss�es de padr�es impostos �s mulheres, passando por conceitos como sororidade e sexismo e viol�ncia contra as mulheres. Bell Hooks lembra que, apesar do avan�o do movimento, ainda h� muita desinforma��o sobre o que � o feminismo. Te�rica feminista, Bell acredita que a produ��o acad�mica, que abarca debates acalorados entre as diferentes abordagens, precisa tratar do tema com linguajar mais pr�ximo �s pessoas comuns.

“Ao ouvir que todas as reclama��es sobre a teoria feminista s�o ‘muito acad�micas’ ou ‘muito cheias de palavras que a galera n�o entende’, senti que, de alguma forma, o movimento tinha falhado, j� que n�o conseguimos esclarecer para todo mundo as pol�ticas feministas”, afirma Bell Hook. Ela se prop�s a escrever um livro f�cil que explique o pensamento feminista e incentive as pessoas a adotar pol�ticas feministas. Mas, embora a cr�tica de Bell Hooks seja extramente relevante, vale lembrar que o debate entre te�ricas feministas contribui de maneira expressiva para a filosofia pol�tica e teoria social, como demonstra o livro de Seyla Benhabib, Judith Butler, Drucilla Cornell e Nancy Fraser.

Bell usa o pr�prio exemplo para demonstrar como as pessoas n�o compreendem quando ela se apresenta como feminista e costumam associar o movimento a ideias equivocadas e, por vezes, fantasiosas. “Mas teoria feminista – � nesse ponto que as perguntas param. A tend�ncia � eu ouvir tudo sobre a maldade do feminismo e as feministas m�s.” Bell lista os estere�tipos associados �s feministas: elas odeiam homens, elas querem ir contra a natureza (e deus), todas elas s�o l�sbicas, elas est�o roubando empregos e tornando dif�cil a vida de homens brancos.

A escritora defende o debate de forma a afastar o medo e as inverdades sobre o feminismo. Ressalta que o movimento � para homens, jovens e idosos. “Feminismo � um movimento para acabar com sexismo, explora��o sexista e opress�o.” A defini��o demonstra que tanto homens quanto mulheres de todas as idades podem ter pensamentos e comportamentos sexistas.

DAS SUFRAGISTAS
�S REDES SOCIAIS


Os quatro livros prop�em reflex�es cr�ticas sobre a atua��o do movimento. � preciso pensar o feminismo de forma a interseccionar classe, ra�a e g�nero. Em outras palavras, o sexismo gera opress�o de diferentes ordens contra as mulheres, tanto econ�micas quanto de reconhecimento. Bell Hook afirma que mais do que lutar por direitos iguais entre homens e mulheres, cabe ao feminismo lutar contra o sexismo. Com essa perspectiva, ela demonstra como � importante questionar padr�es est�ticos. “Desafiar o pensamento sexista em rela��o ao corpo da mulher foi uma das interven��es mais poderosas feitas pelo movimento feminista contempor�neo”, diz Bell

As obras abordam as diferentes fases do movimento, que tem a primeira onda com a luta das sufragistas pelo direito ao voto, no in�cio do s�culo 20, e chega � quarta onda, que trata dessa explos�o feminista, que ganhou visibilidade, principalmente, nas redes sociais. Heloisa Buarque de Holanda organiza a colet�nea de artigos sobre o movimento a partir da ideia do feminismo da diferen�a.

Helo�sa Buarque prop�e reflex�o sobre os feminismos: transfeminismo, feminismo negro, feminismo asi�tico, feminismo crist�o, feminismo ind�gena. Para discutir as diferentes abordagens, ela convida mulheres intelectuais que discutem cada um dos temas, como Cidinha da Silva e Stephanie Ribeiro, que tratam do feminismo negro; �rica Sarmet que fala do feminismo l�sbico; e Helena Vieira e Bia Pagliarini Bagagli, que tratam do transfeminismos.

Helo�sa retrata o debate sobre abordagens que fazem o enquadramento das lutas feministas a partir da justi�a econ�mica, a ideia da redistribui��o ou do reconhecimento das demandas apresentadas por esse grupo social. A autora diz que uma alternativa a essas duas abordagens � a agenda da justi�a pol�tica.

O FEMINISMO � PARA TODO MUNDO
Bell Hooks
Rosa dos tempos
175 p�ginas
R$ 37,90
R$ 26,91 (e-book)

EXPLOS�O FEMINISTA
Heloisa Buarque de Holanda
Companhia das Letras
532 p�ginas
R$ 55,90
R$ 19,95 (e-book)

DEBATES FEMINISTAS
Seyla Benhabib, Judith Butler, Drucilla Cornell e Nancy Fraser
Editora Unesp
271 p�ginas
R$ 52,00
R$ 45,92 (e-book)

OUTRA EDUCA��O � POSS�VEL

Luana Tolentino
Mazza Edi��es
120 p�ginas
R$ 35,00


Entrevista

Helo�sa Buarque de Holanda,

professora e escritora

"O feminismo h�tero, branco, considerado universal, n�o cobria as demandas das mulheres em suas especificidades"

Voc� aborda o conceito de feminismo da diferen�a. Em que medida as diversas abordagens fortalecem o movimento feminista?     

Sei que � primeira vista essas divis�es parecem fragmentar e enfraquecer o feminismo. Mas, na realidade, o feminismo h�tero, branco, considerado universal, n�o cobria as demandas das mulheres em suas especificidades. O cap�tulo sobre o feminismo da diferen�a mostra isso claramente. E temos que reconhecer que at� recentemente s� eram atendidas (quando eram...) demandas das mulheres brancas. De forma sutil, a luta das mulheres negras talvez seja at� anterior �s das brancas. No desenvolvimento do feminismo come�am a se tornar mais e mais vis�veis as quest�es gays, l�sbicas, ind�genas, asi�ticas, e, mais recentemente, o transfeminismo . Essas mulheres e suas demandas sempre foram”menores” na pauta do feminismo “universal”, que detinha o privil�gio de fala. Hoje, vivemos um momento emergencial de confronto em defesa da diversidade dos “lugares de fala” que muitas vezes gera conflitos, mas que � necess�rio para serem ouvidos os v�rios feminismos e atendidas suas diferentes situa��es de opress�o. O di�logo vir�, assim que essas falas estiverem t�o fortalecidas quanto as do privil�gio.    

Voc� trabalha a partir de qual marco temporal para falar sobre a “explos�o feminista”? O que caracteriza essa explos�o?  

Trabalho com dois marcos. O das marchas de 2013, que define novas formas de fazer pol�tica horizontal, sem protagonistas, nem intermedi�rios. O outro � a chegada das m�dias sociais e seu poder de difus�o, articula��o e forma��o de redes de interesse que, sem d�vida, s�o respons�veis diretas pela explos�o que estamos vivendo.     

Como definir a quarta onda do feminismo?  

O proativismo. A quarta onda n�o faz projetos. Defende direitos que considera adquiridos (�s vezes de um ponto de vista otimista demais) e age. Age, divulga, agrega e confronta o machismo com armas inventadas a cada dia, sejam hashtags, testemunhos, comportamento, performances. Vai ser dif�cil calar essas minas maravilhosas.     

Em termos de direitos das mulheres e luta contra o sexismo, como voc� avalia o momento atual pelo qual o Brasil passa?  

O Brasil e o mundo est�o num momento conservador, especialmente no que diz respeito aos direitos de g�nero, que s�o curiosamente chamados de “ideologia de g�nero”. A afirma��o identit�ria n�o � da ordem da ideologia, � da ordem dos direitos humanos. Pode haver uma diminui��o da visibilidade e do volume de som dessas lutas, mas retrocesso, n�o creio.


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