Em tempos de leitura digital, conhe�a a arte de fazer livros
Gr�fica e editora Impress�es de Minas, de BH, mant�m t�cnicas tradicionais como offset, tipografia e xilogravura, em meio ao avan�o cada vez maior de e-books e outras formas de produ��o e de leitura virtuais
postado em 20/09/2019 04:00 / atualizado em 20/09/2019 13:36
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Passaporte para universos reais e imagin�rios ao alcance de todos. A textura, o cheiro, a companhia do livro comprovam: essa tecnologia n�o est� superada e tampouco a experi�ncia de ler em impresso pode ser substitu�da pela vers�o digital. Velho, antigo, do s�culo 15, o livro ainda seduz pessoas de todas as idades, at� jovens que nasceram depois de o mundo se conectar pela Web. Concebido como objeto, o livro est� no centro da produ��o da editora e gr�fica Impress�es de Minas, no Bairro Floresta, na Regi�o Leste de Belo Horizonte. O artista pl�stico e ge�grafo Wallison Gontijo e a mestre em literatura Elza Silveira deram continuidade � gr�fica criada pelo sogro de Wallison, Osvaldo da Silveira, no Bairro Planalto. Em 2010, os s�cios compraram uma offset monocolor, a �nica da pequena gr�fica, e uma guilhotina semi-industrial. Levaram o maquin�rio para o Floresta para escrever o pr�ximo cap�tulo da Impress�es de Minas. Investiram em maquin�rio que permitia cortes especiais e relevos tipogr�ficos diversos. Entenderam que a artesania era o caminho.
E foram al�m. Com o prop�sito de valorizar o fazer gr�fico foi criado o Espa�o Impress�es. “Muitos parceiros nossos diziam que gostariam muito de ir ver a produ��o do livro, enquanto est� rodando. Vem, v�, filma. Vai ter impress�o em tipografia, um corte, um relevo ou a pr�pria impress�o tipogr�fica, como � isso? Adoram ver. Isso traz um retorno ao of�cio gr�fico, ao fazer livro”, diz Wallison. A editora se abre para quem quer acompanhar os processos de impress�o. Em outubro, ser�o realizados dois cursos – Xilogravura popular e introdu��o � literatura de cordel, com Oleg�rio Alfredo, e Poesia Visual e experimenta��es, do multiartista Binho Barreto, parceiro da editora.
''O autor senta junto, traz o texto, vamos entender o trabalho dele, entender como se encaixa na nossa produ��o editorial. Trabalha do texto � impress�o final do produto, � distribui��o. O ciclo de vida do livro a gente faz''
Wallison Gontijo, artista pl�stico e ge�logo, s�cio da editora e gr�fica Impress�es de Minas
Wallison e Elza perceberam que para lutar contra a crise no mercado editorial a melhor t�tica � apostar no que o livro tem de �nico. Voltar no tempo para resgatar jeitos de fazer e mostrar a m�gica de tornar pensamento, sentimento, hist�ria, desenho em papel. Resgataram diferentes t�cnicas de impress�o: offset, tipografia, xilogravura, impress�o digital.
Numa rua tranquila do Bairro Floresta, o som da tipografia apura o ouvido de quem chega. A editora pulsa em diferentes ritmos, a depender do conceito pensado para a publica��o. Pode estar a pleno vapor, com a m�quina offset, ou mais silenciosa na xilogravura. O certo � que o cora��o da editora n�o para numa produ��o org�nica dos t�tulos.
Como que protegido por um �tero para a vida que se forma, o livro � nutrido para nascer forte e cumprir o ciclo de vida. Cada t�tulo tem uma hist�ria: a concep��o, a gesta��o, cada etapa do planejamento visual, a impress�o da capa e do miolo, as estrat�gias para chegar �s m�os dos leitores e se instalar, de vez, no terreno das mem�rias. Tudo � cuidado como se cuida de uma vida; afinal, os escritores costumam confirmar: o livro � mesmo um filho. “O autor senta junto, traz o texto, vamos entender o trabalho dele, entender como se encaixa na nossa produ��o editorial. Trabalha do texto � impress�o final do produto, � distribui��o. O ciclo de vida do livro a gente faz”, conta Wallison. A capa pode ser em xilogravura e o miolo impresso em offset em uma cor pantone ou ele pode ser todo impresso com tipos m�veis.
Wallison tem uma equipe que participa de todo o processo artesanal do livro. No dia do anivers�rio de 30 anos, na �ltima quarta-feira, Camila Gon�alves Gomes estava concentrada na tarefa de dobrar as p�ginas uma a uma da publica��o do artista S�rgio Kall e Monica Toledo. “Tenho que prestar muita aten��o. Uma folha virada traz erro para o livro todo.” Ela finalizava a montagem do livro Avencas, com dobra e costura artesanal. “Quer�amos que o objeto escrito e o objeto livro andassem juntos. Queremos livros que conversem com o que est� l� dentro”, diz Wallison. Um exemplo � o livro Dicion�rios de imprecis�es, de Ana Elisa Ribeiro: s� h� uma orelha destac�vel, que pode ser usada como marcador de p�ginas, no miolo papel vegetal. Enfim, o projeto gr�fico pensado a partir da ideia de imprecis�o.
'VALORIZAR O OF�CIO DE GR�FICO'
O processo de produ��o: maquin�rio permite cortes especiais e relevos tipogr�ficos diversos, mostrando que o livro tem de ser �nico e diferenciado (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Colocar o livro no centro � tamb�m valorizar o of�cio de gr�fico, um trabalho que tem perdido espa�o frente ao advento da impress�o digital. “Valorizar o of�cio do fazer livro, da impress�o, of�cio da gr�fica. Of�cio lindo, o gr�fico.” Os livros tamb�m recebem o tratamento de Gilson Zeferino, de 70 anos, gr�fico h� cinco d�cadas. “Comecei como chapista”, recorda-se do in�cio numa tipografia em Caratinga, onde trabalhava com o tio. “Imprimir � transformar a mat�ria-prima bruta. � muito m�gico. Corre no sangue.” Quando v� o livro impresso o sentimento se confirma: “Dei vida ao que o artista produziu”. O tempo de estrada fez com que ele tenha vivido a evolu��o de cada uma das t�cnicas. “Comecei na tipografia. Tudo muito artesanal. A m�o de tintca n�o secava bem.”
A distribui��o � parte importante do ciclo de vida do livro. Wallison e outros editores entenderam que � preciso fazer com que as publica��es cheguem aos leitores. Os livros s�o expostos em livrarias, mas v�o literalmente para a rua. A editora participa das feiras Textura, realizada quatro vezes ao ano em parceria com o Agosto Butiquim; Urucum, feita em parceria com a designer Rita Davis na Casa Guaja, no Bairro Funcion�rios, semestralmente. Em parceria com o multiartista Binho Barreto est� sendo planejada a Feira Curupira, apenas com t�tulos infantis, que ser� realizada em 5 de outubro n'A Central, na Pra�a da Esta��o. A feira dedicada �s crian�as est� cheia de novidades: o Duelinho de MCs, um sarauzinho, conta��o de hist�ria e muita m�sica com o Tremelengue. “As editoras t�m que criar meios para que os livros cheguem �s pessoas”, diz.
Outro trunfo da editora � a qualidade dos autores, com artistas de v�rios campos: escritores, m�sicos, poetas, artistas pl�sticos. As publica��es saem pelo selo Jubarte, para livros infantis; Leme, de poesia e prosa; e Impress�es de Minas. Ainda h� uma parceria com Monica Toledo, que criou o selo Bloop para livros de arte. Na cartela de produtos, a Impress�es de Minas conta com livros como Carlos Viaja, de Tulipa Ruiz, com ilustra��o de China; Per�metro urbano, de Binho Barreto; Gratifica-se quem me encontrar, de Mar�lia Pires e Rita Davis. Em geral, a tiragem � de 200 a 300 exemplares. Uma publica��o de Otto est� no forno.
Das t�cnicas mais antigas, a tipografia se caracteriza pela cria��o e impress�o de tipos. Offset tamb�m � uma t�cnica de impress�o utilizada desde a segunda metade do s�culo 20, que conjuga alta qualidade e tiragens maiores. Trata-se de um processo anal�gico em que � preciso fazer os fotolitos, com a mancha a ser impressa, que depois se transformam em chapas de alum�nio, que imprimem na blanqueta, que imprime no papel. A impress�o � indireta e o papel passa pelo cilindro de borracha. Na xilogravura, os moldes recebem a tinta e s�o delimitados por fios e ramas. Uma bobina pressiona o papel contra a superf�cie com a tinta. � uma t�cnica que se assemelha ao carimbo.
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
CURSOS
Xilogravura popular e introdu��o � literatura de cordel, com Oleg�rio Alfredo
1º, 8, 22 e 29 de outubro.
Inscri��es at� 27 de setembro: (31) 3492-2383
Poesia visual e experimenta��es, com Binho Barreto