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Estado de Minas ENTREVISTA

"Escrevi como se fosse futuro, mas j� � o presente", diz autor de romance sobre devasta��o da Amaz�nia

Autor de 'N�o ver�s pa�s nenhum', escrito em 1981, Ign�cio de Loyola Brand�o fala sobre colapso ecol�gico, governos autorit�rios e escassez de recursos


27/09/2019 04:00 - atualizado 08/05/2020 17:03

Loyola sobre o livro escrito em1981:
Loyola sobre o livro escrito em1981: "N�o antecipei nada,s� exagerei" (foto: ignaciodeloyolabrandao.com.br)

A distopia premonit�ria de Ign�cio de Loyola Brand�o, de 83 anos, eleito em mar�o para a Academia Brasileira de Letras, levou o escritor paulista a imaginar no in�cio dos anos 1980 um cen�rio prospectivo que, se criticado e tido por absurdo � �poca, hoje, dialoga com �spera realidade. O romance N�o ver�s pa�s nenhum (1981) � o segundo da trilogia iniciada com Zero (1974) e encerrada com Desta terra nada vai sobrar, a n�o ser o vento que sopra sobre ela (2018). Se Zero, que aponta o dedo aos horrores da ditadura militar, foi traduzido para diversos idiomas sob o ep�teto conferido por Antonio C�ndido de “realismo feroz”, N�o ver�s pa�s nenhum tem em Souza, o narrador-personagem morador de S�o Paulo, o arauto de um futuro em que o colapso ecol�gico amea�a a sobreviv�ncia. S�o tempos de exterm�nio de florestas, de calor insuport�vel, seca, que traz escassez de �gua e de alimentos, combinados com um governo autorit�rio, que falsifica a hist�ria e exerce a viol�ncia do estado de formas variadas, oprimindo a popula��o.


“N�o antecipei nada. S� exagerei � �poca as not�cias que estavam diante de mim. J� se falava do desmatamento, do problema da �gua, os cientistas previam na d�cada de 1970 o aquecimento global. Eu fui descobrindo pequenas not�cias e, como ficcionista, exagerei: tinha quatro mil recortes de livros, jornais, revistas que deram lastro ao livro”, conta Loyola Brand�o, cuja imagina��o, perspic�cia e intelig�ncia correram � frente da realidade para prospectar o futuro que se faz presente. “A realidade hoje � t�o absurda que tem de trabalhar com a fic��o e a fantasia, a distopia. N�o d� para fazer um livro realista, ent�o voc� tem que fazer uma met�fora”, afirma o autor, que tomar� posse na Academia Brasileira de Letras em 18 de outubro. “Escrevi o livro como se fosse no futuro, mas agora � o nosso presente. Est� tudo a�”.

Como N�o ver�s pa�s nenhum dialoga, 40 anos depois, com a realidade brasileira?
O aquecimento global est� a�, ainda que alguns digam que n�o exista. E veja que Karl Marx jamais escreveu sobre mudan�as clim�ticas. Inclusive, h� um document�rio emblem�tico, chamado Quentura, e uma jovem chamada Mari Corr�a (Instituto Catitu). Ela percorreu tr�s regi�es amaz�nicas colhendo depoimentos e mostrando a realidade de mulheres de tr�s etnias. Todas constatam o mesmo: o clima mudou, est� quente demais, j� n�o se sabe mais quando � ver�o. Inc�ndios florestais duram meses seguidos. �reas ricas em biodiversidade s�o destru�das. Peixes est�o escassos. Esse document�rio mostra a agricultura completamente desmantelada e destru�da com as mudan�as do clima provocadas pela devasta��o da floresta e queimadas. Pois antes o �ndio plantava em determinada �poca e colhia em determinada �poca. Essas �pocas desapareceram. Para mim, basta esse pequeno exemplo para mostrar as mudan�as clim�ticas. Apesar disso, os del�rios est�o na base do governo Bolsonaro, falando que o aquecimento global seria um problema de marxismo, comandados por um guru, astr�logo, de fora. Estamos diante de algo que nunca vi em minha vida. Ali�s, abordo em meu novo livro, Desta terra nada vai sobrar, a n�o ser o vento que sopra sobre ela, uma outra distopia, em que foi eleito o primeiro presidente sem c�rebro. � triste. Deveria ter escrito outro livro lindo e feliz. Se escrevi este e deu o que deu, deveria ter escrito um livro feliz.

O senhor tem alguma palavra animadora para uma nova obra de fic��o?
Vamos um dia nos juntar para formar um pa�s. Pois � impressionante como tem muita gente preparada, com boas ideias e projetos. Mas, infelizmente, querem destruir essa gente boa, que s�o os pesquisadores, os professores, os fil�sofos, os soci�logos, os cientistas com vis�o clara das coisas. Queremos esse pa�s com essas pessoas. N�o de um mero capit�o expulso do Ex�rcito, que est� se vingando da sociedade. Para o futuro, provavelmente seremos ou muito felizes, ou muito infelizes ou n�o existiremos mais. O que a gente n�o pode perder � a indigna��o contra essa loucura que est� a�. Como escritor, a vida inteira fui indignado e vou continuar sendo. 


N�o ver�s pa�s nenhum 
De Ign�cio Loyola Brand�o
Global (27ª edi��o)
384 p�ginas
R$ 59

Podcast 

Ou�a o podcast do Pensar sobre a Amaz�nia, com entrevista de Ign�cio de Loyola Brand�o e depoimentos de bombeiros mineiros que trabalharam no combate �s queimadas na regi�o, no site em.com.br


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