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Estado de Minas ENTREVISTA

Al� Motta: 'Depois que o livro nasce, n�o � s� meu'

Escritora carioca descreve o processo de cria��o de Velhos, sua obra rec�m-lan�ada


28/08/2020 04:00 - atualizado 28/08/2020 08:25

 
Alê Motta e o livro que nasce de um incômodo: 'Vejo muitos velhos ativos e intensos que são ignorados ao nosso redor'(foto: Autorretrato/divulgação)
Al� Motta e o livro que nasce de um inc�modo: 'Vejo muitos velhos ativos e intensos que s�o ignorados ao nosso redor' (foto: Autorretrato/divulga��o)
Por que narrativas t�o breves?
Meu desafio na escrita � o da concis�o. Contar muito, escrevendo textos curtos. Acredito que as narrativas breves agarram o leitor. Ele se inquieta, precisa refletir, deseja reler.

O Brasil tem, entre seus grandes contistas, um mestre da elipse, Dalton Trevisan. Ele � uma refer�ncia para voc�? Poderia citar outros escritores brasileiros?
Uau! Dalton Trevisan � um escritor extraordin�rio e eu o admiro muito. Gosto de ler tantos escritores brasileiros incr�veis. Dif�cil citar todos que me marcaram e marcam profundamente, mas posso destacar Adriana Lisboa, Jo�o Anzanello Carrascoza, Marcelino Freire e Rubem Fonseca.

Por que os velhos como a unidade tem�tica do livro?
O meu Velhos nasceu de um desafio, numa conversa com o escritor Marcelino Freire, num dia em que ele estava aqui no Rio. Marcelino disse que eu deveria escrever um livro sobre a velhice e um desafio do Marcelino a gente n�o deixa de lado... Abri uma pasta nova no computador e a nomeei Velhos. Demorei a notar o quanto o desafio me impactou e a tem�tica me envolveu. Estava trabalhando em outros dois projetos, de vez em quando escrevia um texto e colocava na pasta Velhos. Depois de dois anos, percebi: era um livro.

Al�m da quest�o da idade, aparecem nos contos aspectos da sociedade brasileira, como o racismo e a desigualdade social. Como o Brasil enxerga os velhos? Ou n�o os enxerga?
� real o descaso com os velhos – gosto de chamar de velhos porque envelhecemos ou morremos. N�o falamos que estamos ficando idosos, mas que estamos ficando velhos. Velhice n�o � vergonha. Estamos rodeados de pessoas com 70, 80, 90 anos. Uns s�o ativos, adaptados a modernidades, outros s�o dependentes, confusos, desagrad�veis. Com limita��es, dores e alegrias. Velhos de todo tipo. Fico incomodada porque muitos s�o ignorados, considerados irrelevantes, porque sua juventude passou. E sim, os textos tamb�m abordam o racismo e a desigualdade social. Gosto de observar a complexidade humana. E escrever usando o sarcasmo.

Como v� a forma que muitos se referem �s pessoas mais velhas durante a pandemia, como se estas pudessem ficar recolhidas para sempre, ou pior, caso morressem, isso faria parte do curso natural da vida?
Um absurdo. Revoltante. N�o somos feitos s� de amor e bondade. Enfrentando situa��es como a atual – uma pandemia – vemos isso com clareza. Um jovem n�o pode ser considerado mais valioso do que um velho. S�o vidas. E vidas s�o valiosas.

Como nasceu esse conjunto de hist�rias? Da imagina��o ou da observa��o?
Quando digito, nunca sei o que sair�. N�o planejo com anteced�ncia, mas trabalho bastante em cada texto. Alguns dias estou louca de paix�o por ele, noutros eu o ignoro. Depois volto a me apaixonar. At� o dia em que sei – o texto est� pronto. Creio que tamb�m vivo o projeto quando observo o mundo. As pessoas na rua, no supermercado, no engarrafamento, na reuni�o, no elevador, conversando na cafeteria, caminhando na praia.

Para o argentino Ricardo Piglia, no conto, “um relato vis�vel esconde um relato secreto, narrado de um modo el�ptico e fragment�rio”. Quais os relatos que se escondem nos contos de Velhos?
Depois que o livro nasce, n�o � s� meu. N�o h� algo escondido em todo relato? Esse � o meu presente pro leitor.

Voc� � formada em arquitetura pela UFRJ. De alguma forma, a arquitetura influenciou a sua escrita?
Com certeza. Aprendi a observar tudo em perspectivas variadas. Somos desafiados a ampliar nossa vis�o. Ou n�o. Depende de onde estamos ou escolhemos estar. Fazer escolhas � maravilhoso. A vida n�o fica mais interessante?


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