
Intui��o de coruja
Lilith sonha que
Ad�o
� uma esp�cie de
Serpente
Barraco
Lilith grita
Ad�o n�o ouve
Deus sai de fininho
Maria da Penha
Ad�o ergue o bra�o
Contra Lilith
E conspurca o Para�so
Ao juiz
Lilith denuncia
Ad�o
Chama
O nome de Deus
Em v�o
Playboy
Ad�o chor�o
Foi pedir ajuda
Ao papai
Perguntar n�o ofende
Deus aguarda os tr�s anjos
Quer saber tudo
Tim-tim por tim-tim
Mas ele j� n�o sabe
SOBRE o livro

O mito fundador da cultura ocidental, a cria��o de Ad�o � semelhan�a de Deus e Eva tirada da costela, orientou os pap�is de homem e mulher, bem como a ideia de casal, fam�lia e a rela��o entre homem e mulher. A poeta Adriane Garcia, de maneira divertida, reescreve o mito fundante na perspectiva de Eva no livro Eva-proto-poeta (Editora Caos e Letras).
Os versos s�o escritos � luz de discuss�es contempor�neas sobre autonomia da mulher, relacionamentos abusivos e rela��es homoafetivas. Adriane Garcia lan�a m�o da t�cnica da s�ntese para trazer com precis�o sua perspectiva do mito fundante.
No livro, Ad�o � um playboy chor�o que pede ajuda ao pai. Tamb�m � alvo do arrependimento de Deus a cria��o dele. Traz para a hist�ria a figura de Lilith, imagem da mulher insubmissa que foi apagada na tradi��o judaico-crist�. “� medida que escrevi esse livro, me senti meio que vingada. A hist�ria � muito absurda. Vamos considerar que n�o � uma met�fora, inclusive � usada por muitos como se n�o fosse. Mesmo n�o sendo met�fora, as pessoas n�o percebem os absurdos que h� ali. Por exemplo, n�o perceber que o Ad�o � um covarde. Ele comeu do fruto, mas bota a culpa nela. O cara n�o � parceiro nunca. Nasce sem ser parceiro. O cara junto com ela, da esp�cie dela. Come do fruto, desobedece igualmente. Na hora H, quando perguntado, ele diz foi ela. O cara � um X- 9.”
O discurso de Ad�o se estende aos dias de hoje, em que a culpa sempre � atribu�da � mulher, por exemplo, nos crimes de estupro, quando dizem que a v�tima n�o estava no lugar certo ou que a roupa dela � muito provocativa. “� a roupa que ela vestiu, o lugar que ela frequentou, a bebida, o modo como se comporta, o palavr�o que ela fala, a ele s� resta ser um bom estu- prador”, diz Adriane.
O mito � repetido at� os dias atuais e, culturalmente, faz parte da vida da sociedade ocidental. “� tanto perigoso literalmente como � perigoso como met�fora.” Na narrativa, Lilith e Eva se encontram e fazem um pacto de sororidade. “S�o duas mulheres, mas podem ser a mesma. Pode ser uma tornando-se a outra. O que separa Eva de Lilith � s� a submiss�o”, provoca Adriane.
A poeta brinca com a quest�o da sexualidade. “Nisso eu adorei mexer. O mito fundante tem carga muito grande para gerar homofobia. A gente sabe que gera.” Adriane lembra que no mito fundante o casal � h�tero: “Amai-vos e reproduzi-vos. N�o admite outra coisa. Outra coisa n�o � normal. N�o � divino e nem ordem de Deus. Outra coisa s� pode ser do diabo.”
Ao falar de Eva como a primeira poeta, Adriane reivindica o direito das mulheres � escrita e tamb�m ao ato de nomear, algo que confere poder. “Ad�o nomeou as coisas e isso fez de Ad�o o primeiro poeta. O protopoeta. Engra�ado, porque Ad�o nomeou as coisas e n�o Eva. Ou por que n�o nomearam juntos? Por que foi Ad�o quem deu nome a todas as coisas?”.
Eva-proto-poeta
Adriane Garcia
Editora Caos e Letras
R$ 35
O livro pode ser adquirido
no site da editora (caoseletras.com)