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Estado de Minas Primeira leitura

A poeta Adriane Garcia apresenta o mito da cria��o em 'Eva-proto-poeta'

Os versos s�o escritos � luz de discuss�es contempor�neas sobre autonomia da mulher, relacionamentos abusivos e rela��es homoafetivas


25/12/2020 04:00 - atualizado 25/12/2020 16:01


 
Intui��o de coruja
Lilith sonha que
Ad�o
� uma esp�cie de
Serpente


Barraco
Lilith grita
Ad�o n�o ouve

Deus sai de fininho


Maria da Penha
Ad�o ergue o bra�o
Contra Lilith
E conspurca o Para�so
 
 
Ao juiz
Lilith denuncia
Ad�o

Chama
O nome de Deus

Em v�o


Playboy
Ad�o chor�o
Foi pedir ajuda
Ao papai

Perguntar n�o ofende
Deus aguarda os tr�s anjos
Quer saber tudo
Tim-tim por tim-tim

Mas ele j� n�o sabe 
 

 
SOBRE o livro

(foto: Micaelle Ariel/Divulgação)
(foto: Micaelle Ariel/Divulga��o)
 

 

 O mito fundador da cultura ocidental, a cria��o de Ad�o � semelhan�a de Deus e Eva tirada da costela, orientou os pap�is de homem e mulher, bem como a ideia de casal, fam�lia e a rela��o entre homem e mulher. A poeta Adriane Garcia, de maneira divertida, reescreve o mito fundante na perspectiva de Eva no livro Eva-proto-poeta (Editora Caos e Letras). 
 
Os versos s�o escritos � luz de discuss�es contempor�neas sobre autonomia da mulher, relacionamentos abusivos e rela��es homoafetivas. Adriane Garcia lan�a m�o da t�cnica da s�ntese para trazer com precis�o sua perspectiva do mito fundante.
 
No livro, Ad�o � um playboy chor�o que pede ajuda ao pai. Tamb�m � alvo do arrependimento de Deus a cria��o dele.  Traz para a hist�ria a figura de Lilith, imagem da mulher insubmissa que foi apagada na tradi��o judaico-crist�. “� medida que escrevi esse livro, me senti meio que vingada. A hist�ria � muito absurda. Vamos considerar que n�o � uma met�fora, inclusive � usada por muitos como se n�o fosse. Mesmo n�o sendo met�fora, as pessoas n�o percebem os absurdos que h� ali. Por exemplo, n�o perceber que o Ad�o � um covarde. Ele comeu do fruto, mas bota a culpa nela. O cara n�o � parceiro nunca. Nasce sem ser parceiro. O cara junto com ela, da esp�cie dela. Come do fruto, desobedece igualmente. Na hora H, quando perguntado, ele diz foi ela. O cara � um X- 9.” 
 
O discurso de Ad�o se estende aos dias de hoje, em que a culpa sempre � atribu�da � mulher, por exemplo, nos crimes de estupro, quando dizem que a v�tima n�o estava no lugar certo ou que a roupa dela � muito provocativa. “� a roupa que ela vestiu, o lugar que ela frequentou, a bebida, o modo como se comporta, o palavr�o que ela fala, a ele s� resta ser um bom estu- prador”, diz Adriane. 
 
O mito � repetido at� os dias atuais e, culturalmente, faz parte da vida da sociedade ocidental. “� tanto perigoso literalmente como � perigoso como met�fora.” Na narrativa, Lilith e Eva se encontram e fazem um pacto de sororidade. “S�o duas mulheres, mas podem ser a mesma. Pode ser uma tornando-se a outra. O que separa Eva de Lilith � s� a submiss�o”, provoca Adriane. 
 
A poeta brinca com a quest�o da sexualidade. “Nisso eu adorei mexer. O mito fundante tem carga muito grande para gerar homofobia. A gente sabe que gera.” Adriane lembra que no mito fundante o casal � h�tero: “Amai-vos e reproduzi-vos. N�o admite outra coisa. Outra coisa n�o � normal. N�o � divino e nem ordem de Deus. Outra coisa s� pode ser do diabo.”
 
Ao falar de Eva como a primeira poeta, Adriane reivindica o direito das mulheres � escrita e  tamb�m ao ato de nomear, algo que confere poder. “Ad�o nomeou as coisas e isso fez de Ad�o o primeiro poeta. O protopoeta. Engra�ado, porque Ad�o nomeou as coisas e n�o Eva. Ou por que n�o nomearam juntos? Por que foi Ad�o quem deu nome a todas as coisas?”.
 
Eva-proto-poeta
Adriane Garcia
Editora Caos e Letras
R$ 35
O livro pode ser adquirido
no site da editora (caoseletras.com) 


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