
“Nesta s�rie, quer�amos entender o que as pessoas pensam quando falam em justi�a. Para algumas, e n�o s� no Brasil, justi�a � vingan�a. Para outras, justi�a significa puni��o, ou perd�o, ou repara��o”, conta a apresentadora Branca Vianna, presidente da R�dio Novelo, tamb�m idealizadora e apresentadora do bem-sucedido “Praia dos ossos”, que teve grande repercuss�o ao discutir o machismo estrutural no pa�s a partir da reconstitui��o do comportamento da sociedade durante os julgamentos de Doca Street, assassino de �ngela Diniz, nos anos 1970.
“Em ‘Crime e castigo’ tentamos entender, do ponto de vista de pessoas que se viram de alguma forma envolvidas com crimes, quais as consequ�ncias da ruptura provocada por um ato de viol�ncia”, explica a presidente da R�dio Novelo, ressaltando que a dissipa��o dos limites entre justi�a e vingan�a n�o � exclusividade da sociedade brasileira: “O conflito � inerente ao ser humano e � tratado pela filosofia e pela religi�o h� mil�nios”.
“Em ‘Crime e castigo’ tentamos entender, do ponto de vista de pessoas que se viram de alguma forma envolvidas com crimes, quais as consequ�ncias da ruptura provocada por um ato de viol�ncia”, explica a presidente da R�dio Novelo, ressaltando que a dissipa��o dos limites entre justi�a e vingan�a n�o � exclusividade da sociedade brasileira: “O conflito � inerente ao ser humano e � tratado pela filosofia e pela religi�o h� mil�nios”.
Nos seis epis�dios de “Crime e castigo”, � incorporado � narrativa um material que poderia ficar restrito ao making of, como a irrita��o de Branca com o comportamento de um entrevistado de “Praia dos ossos”, al�m de conversas entre ela e as outras idealizadoras e apresentadoras, Flora Thomson-DeVeaux e Paula Scarpin, bem como d�vidas das tr�s sobre posicionamentos e atitudes de entrevistados. “Foi uma ideia dos roteiristas (Ludmila Naves e Lucas Calmon), que achavam interessantes os debates que t�nhamos nas nossas reuni�es de roteiro”, revela Branca. “Eles propuseram que troux�ssemos esse bastidor para os ouvintes, para compartilhar com eles um pouco da nossa perplexidade diante de tudo que est�vamos apurando”, complementa.
Na entrevista a seguir, Branca Vianna revela a origem do novo trabalho, analisa a ascens�o da produ��o de podcast no pa�s e a sua expectativa para “Crime e castigo”: “Esperamos que o ouvinte, ao concluir o podcast, saia com mais d�vidas do que certezas. Assim, temos menos chance de errar.”
Como “Praia dos Ossos” levou a “Crime e castigo”?
O tema de “Praia dos Ossos” era a vida e o assassinato de �ngela Diniz e suas consequ�ncias no movimento feminista da �poca e tamb�m na imprensa e no Judici�rio. O assassino, Doca Street, morreu pouco depois da publica��o do podcast, aos 86 anos. A partir da�, come�amos a receber mensagens de ouvintes, nas redes e por e-mail, dizendo que no Brasil deveria ter pena de morte, que o Doca deveria ter ficado preso at� sua morte, que o Brasil era o pa�s da impunidade. Ficamos surpresas e intrigadas com essa rea��o, e decidimos investigar um pouco mais de onde vinham essas no��es. Era para ser um epis�dio b�nus do “Praia”, mas acabou virando uma s�rie independente de seis epis�dios.
Como foram definidos os epis�dios e as hist�rias que seriam contadas em cada um deles?
Para as hist�rias, procuramos v�timas, fam�lias de v�timas e especialistas que tivessem reflex�es interessantes e surpreendentes a fazer. Para dar coes�o ao que levantamos, tivemos a ajuda de dois roteiristas, Ludmila Naves e Lucas Calmon. Quando eles entraram no projeto, t�nhamos muitas horas de entrevistas, muitas reflex�es, mas n�o sab�amos como tornar isso uma s�rie coerente. Foram eles que pegaram este amontoado de coisas e transformaram no “Crime e Castigo”.
Um dos epis�dios chama-se “N�o � t�o simples assim”. De certa forma, esse t�tulo tamb�m resume o trabalho de voc�s neste podcast?
Acho que sim, o t�tulo � um bom resumo do que pensamos e sentimos ao fazer este podcast. A verdade � que n�o � mesmo t�o simples assim. Por outro lado, foi bom ver que h� muita gente pensando em solu��es de resolu��o de conflito que n�o s�o simples, mas que podem ajudar a resolver o impasse de um pa�s com a terceira maior popula��o carcer�ria do mundo e que continua muito violento. Se a pris�o � a solu��o para a viol�ncia, ent�o h� algo errado porque n�o est� resolvendo.
Um dos pontos marcantes de “Crime e castigo” � n�o se limitar ao aspecto jur�dico ou a depoimentos de familiares de v�timas e mostrar a explora��o do crime por parte de pol�ticos e religiosos. Esse era um dos objetivos do novo podcast? Mostrar que as consequ�ncias de um ato violento v�o muito al�m da esfera criminal?
Vimos nas entrevistas que as consequ�ncias de um ato violento s�o muito vastas. Afetam todos os que est�o perto, em alguns casos para sempre. Mesmo quando os criminosos s�o condenados e presos, as v�timas e suas fam�lias continuam insatisfeitas com o resultado. Elas raramente t�m a sensa��o de que a justi�a foi feita. Quer�amos ouvi-las, e tamb�m criminosos, ex-detentos, al�m de pessoas que tentaram solu��es extrajudiciais. Um ato de viol�ncia � uma ruptura muito profunda no tecido social, exige reflex�o da parte de todos os envolvidos, mas tamb�m da sociedade e do Estado.
Depois de “Crime e castigo”, voc� chegou a alguma conclus�o a respeito da forma mais eficiente de puni��o a um crime e, assim, tentar “restabelecer a paz social”, para citar uma express�o que aparece em um dos epis�dios? Ou surgiram mais d�vidas do que certezas?
Certamente, surgiram mais d�vidas do que certezas. Esperamos que o ouvinte, ao concluir o podcast, tamb�m saia com mais d�vidas do que certezas. Temos menos chance de errar quando temos menos certezas.
O que foi mais marcante na repercuss�o de “Praia dos ossos”?
Dois tipos de mensagens me impressionaram depois do lan�amento do Praia. As que citei acima, pedindo pena de morte e pris�o perp�tua, e as de fam�lias de v�timas de feminic�dio. Recebemos muitas hist�rias tristes e traum�ticas, muitas vezes de crimes cometidos d�cadas antes. Um ato de viol�ncia assim rompe a vida das pessoas em um antes e um depois. Cabe ao Estado garantir a ordem e a paz social, mas cabe � sociedade debater como isso deve ser feito.
Por que tantos brasileiros est�o escutando podcasts? H� risco de satura��o?
O n�mero de podcasts brasileiros aumentou muito nos �ltimos anos, mas estamos ainda longe da satura��o. Acho que n�o existe concorr�ncia entre podcasts, mas sim forma��o de p�blico. Muita gente no Brasil ainda n�o ouve podcasts e quanto mais produ��es diferentes houver, para todos os p�blicos, mais ouvintes formaremos.
Quais as pr�ximas hist�rias que a R�dio Novelo pretende contar?
As hist�rias que contamos t�m a ver com quest�es que julgamos importantes para o Brasil: pol�tica com o “Retrato narrado”, corrup��o com o “O sequestro da Amarelinha”, machismo com o “Praia dos Ossos”, viol�ncia com o “A rep�blica das mil�cias”, ra�a com o “Vidas negras”, o sistema judici�rio com “Crime e castigo” e por a� vai. Ainda n�o falamos de clima, outro tema importante para o pa�s, e queremos falar mais de racismo e viol�ncia, duas quest�es fundamentais e interligadas. Teremos lan�amentos importantes nos pr�ximos meses.
“Crime e castigo”
- Podcast em seis epis�dios
- Produ��o da R�dio Novelo
- Idealiza��o, pesquisa e apresenta��o de Branca Vianna, Flora Thomson-DeVeaux e Paula Scarpin.
- Dispon�vel nos aplicativos de streaming e no site radionovelo.com.br/crimeecastigo