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Estado de Minas PENSAR

Eliane Brum: 'A luta pela Amaz�nia � uma luta para sempre'

Jornalista que revelou a alta mortalidade e desnutri��o dos yanomami afirma: "Nossa investiga��o jornal�stica mostra claramente que h� ind�cios de genoc�dio"


27/01/2023 04:00 - atualizado 26/01/2023 23:31
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Eliane Brum
Eliane Brum, vencedora em 2021 do pr�mio Maria Moors Cabot pela obra jornal�stica: "A imprensa trabalha com o respeito aos fatos e a coragem de cont�-los; a gente checa, investiga, documenta" (foto: Lilo Clareto/Divulga��o)

 
As imagens dos ind�genas yanomamis doentes e desnutridos revelam a desumanidade imposta �quele povo. E a repercuss�o nacional e internacional dos registros deve-se, em grande medida, a um trabalho rigoroso e �tico realizado por uma equipe de jornalistas do site Suma�ma. A reportagem “N�o estamos conseguindo contar os corpos”, produzida na Amaz�nia, mostra a dimens�o da trag�dia que n�o est�vamos enxergando. 

Assinada por Ana Maria Machado, Talita Bedinelli e Eliane Brum, a reportagem, publicada em 20 de janeiro �ltimo, trouxe um n�mero estarrecedor: 570 crian�as yanomamis mortas nos �ltimos quatro anos devido a doen�as que t�m tratamento. As fotografias, feitas pelos pr�prios ind�genas e por profissionais da sa�de, tamb�m causaram tristeza e indigna��o. “Algumas das imagens mais chocantes n�o foram liberadas por afrontar a cultura yanomami ou por colocar em risco de morte o autor das fotos. Imagens s�o um tema dif�cil para os yanomamis. As lideran�as que aceitaram a divulga��o das fotografias s� tomaram essa decis�o porque est�o desesperadas. Em uma delas, foi a pr�pria lideran�a quem pediu que uma foto fosse tirada para ser levada ao mundo. Essa atitude, t�o rara para um yanomami, d� uma medida do terror de ver crian�as e velhos tombarem dia ap�s dia”, narra a reportagem.

Em entrevista ao Pensar, Eliane Brum descortinou os bastidores da reportagem e contextualizou a trag�dia vivenciada pelos yanomamis depois que a maior reserva ind�gena do Brasil foi invadida por garimpeiros, provocando danos �s matas e aos rios e comprometendo o modo de vida desse povo. 

Com 30 anos de carreira, Eliane � uma das jornalistas mais premiadas do Brasil e refer�ncia obrigat�ria para as novas gera��es de rep�rteres. Em 2021, sua obra jornal�stica recebeu o pr�mio Maria Moors Cabot, o mais importante das Am�ricas o que d� ideia da import�ncia de seu trabalho e de seu compromisso com os fatos e com as pessoas retratadas em suas reportagens. 

Nascida em Iju� (RS), em 1966, Eliane Brum mora na cidade paraense de Altamira desde 2017. Deixou S�o Paulo para mergulhar em uma nova fase da trajet�ria profissional e da vida pessoal, uma mudan�a que coaduna com o entendimento de que a quest�o clim�tica � essencial para a perman�ncia da humanidade na Terra. “Mudar para a Amaz�nia me desestruturou. E quando algu�m se desestrutura � porque aquela estrutura � qual se filiava j� tinha se tornado insuport�vel, �s vezes a gente nem entende por qu�”, conta no livro “Banzeiro �k�t� – Uma viagem � Amaz�nia centro do mundo”, mistura de relato pessoal e investiga��o jornal�stica, que lan�ou em 2021, o mesmo ano de uma perda inestim�vel.

Companheiro de trabalho de Eliane nos �ltimos anos, o fot�grafo Lilo Clareto morreu em decorr�ncia da COVID-19. Deixou um legado de registros de viola��es ambientais e humanas na maior floresta tropical do mundo. “Nosso Lilo, meu Lilo, virou �rvore, virou rio, virou floresta. Virou luz e virou chuva. Virou vaga-lume, borboleta amarela na terra do Meio”, escreveu Eliane na �poca, quando era rep�rter e colunista do El Pa�s. A imagem da capa de “Banzeiro �k�t�” � do fot�grafo, lembrado tamb�m na dedicat�ria: “Para Lilo Clareto, que se encantou em on�a”.

Eliane Brum ajudou a criar, no ano passado, o projeto que pega o nome emprestado da frondosa �rvore da Amaz�nia para o empreendimento jornal�stico: Suma�ma – jornalismo do centro do mundo. E foi uma reportagem do Suma�ma que ajudou a abrir os olhos dos brasileiros para a trag�dia vivida pelos yanomamis. Ao lado, uma entrevista com Eliane Brum sobre o seu trabalho. 
 
 
Arte de Quinho a partir de fotografia publicada pelo site Sumaúma
Arte de Quinho a partir de fotografia publicada pelo site Suma�ma (foto: Quinho)
 
Como foi o trabalho de reportagem que chegou ao n�mero de �bitos e as imagens que voc�s divulgaram e provocaram repercuss�o mundial?
Suma�ma foi lan�ado em 13 de setembro de 2022 e a reportagem de estreia era uma mat�ria sobre o colapso humanit�rio na terra ind�gena yanomami, principalmente causado pela invas�o de milhares de garimpeiros ilegais. N�s escolhemos dar essa mat�ria de estreia, que foi um grande investimento de uma plataforma que estava no seu in�cio, porque a gente entendia que era a situa��o mais s�ria no Brasil. Contamos essa situa��o pelo ponto de vista das mulheres yanomamis, que eram e ainda s�o as mais invisibilizadas. Ent�o, naquele momento, ainda no governo Bolsonaro, a gente conseguiu os dados por meio da Lei de Acesso � Informa��o. E os n�meros j� eram alarmantes: o salto da mal�ria, por exemplo, de 2.928 casos em 2014 para 20.394 em 2021.
Nos primeiros 5 meses de 2022, 46 crian�as com menos de 5 anos j� haviam perdido a vida e isso a gente sabia que era por causas evit�veis e a gente sabia que havia uma subnotifica��o por causa de um apag�o estat�stico. Se n�o tem profissionais para contabilizar os dados, ent�o os dados n�o s�o realistas e, tamb�m, mesmo com essa subnotifica��o, mais de 50% dos das crian�as yanomamis, com menos de 5 anos, estavam desnutridas.
 
Tamb�m relatamos naquele momento que os postos de sa�de que funcionam dentro do territ�rio foram fechados 13 vezes por conta das a��es de garimpeiros, deixando os ind�genas sem atendimento m�dico e, desde ent�o, a gente acompanha a situa��o dos yanomamis. No come�o de dezembro, a gente come�ou a receber fotos de fontes de lideran�a de profissionais de sa�de que atuam dentro do territ�rio, fotos dram�ticas de crian�as, velhos e mulheres completamente subnutridos, mal parando em p�. Eram fotos terr�veis. E a� a gente sabe que, para os yanomamis, a quest�o da imagem � muito s�ria. A fotografia faz parte da pessoa, do que cada um �. Quando um beb�, uma pessoa velha, uma pessoa doente � fotografada, isso fragiliza ainda mais quem j� est� numa condi��o de grande vulnerabilidade. 
 
As consequ�ncias dentro da cultura deles para isso podem ser muito graves, a pessoa pode acabar indo para o mundo dos mortos. Ent�o, a gente sabia que n�o podia simplesmente jogar essas fotos na internet sem autoriza��o da lideran�a, sem saber, sem conversar, sem entender e acertar junto com eles quais fotos poderiam ser publicadas.
 
Algumas das piores fotos n�o foram publicadas exatamente pela situa��o de imensa vulnerabilidade das pessoas, o que tornaria tudo mais arriscado para eles. Por isso as imagens de todas as pessoas, adultos ou crian�as, aparecem borradas. Isso foi acordado. Claro que foi uma conversa longa, com idas e vindas, e com diferentes associa��es e lideran�as que pensam de forma diferente. Mas a gente entendeu que n�o poderia fazer de outra forma. Enquanto isso, fomos entrevistando algumas pessoas em off. Sab�amos que essas pessoas poderiam ser mortas, j� que v�rias �reas do territ�rios s�o dominadas pelo garimpo e parte desse garimpo � dominado pelo crime organizado, muito diferente do que foi no passado, com o uso evidente de armas pesadas.
 
 Conversamos tamb�m com agentes do Censo, que estavam l� dentro, e profissionais de sa�de, que tamb�m poderiam perder o emprego no governo anterior. No meio do processo, em dezembro, essas fotos vazaram pela internet e algumas mat�rias foram feitas com essas fotos. A gente pensou que deveria seguir fazendo o nosso trabalho do jeito que a gente acredita que deve ser feito. Foi o que fizemos.
 
Somos uma equipe pequena, mas bem experiente. Alguns de n�s t�m mais de 30 anos de experi�ncia no jornalismo fazendo reportagem na Amaz�nia. Ent�o seguimos. E a�, finalmente, quando a gente tinha um n�mero de relatos consistentes, s�lido, robusto, e as fotos bem decididas de como poderiam ser publicadas, entramos em contato com o Minist�rio da Sa�de. Pedimos os dados de 2022, porque para os outros anos j� t�nhamos pela Lei de Acesso � Informa��o. E a� foi bem demorado. Depois de muita press�o, conseguimos os dados em 18 de janeiro. O minist�rio explicou que, nesta gest�o, pauta a rela��o com a imprensa pela transpar�ncia e resposta imediata para os dados. Mas eles tiveram dificuldades por conta do per�odo de transi��o. Ent�o, finalmente, com os dados de 2022 na m�o, a Talita Bedinelli, que trabalha com jornalismo de dados e com DataSUS h� quase 20 anos, fez a tabula��o e trabalhou com os dados. No dia 19, a gente teve os dados de 570 crian�as com menos de 5 anos mortas por doen�as que t�m tratamento. Ou seja, se a Constitui��o tivesse sido cumprida, se essas crian�as tivessem assist�ncia de sa�de e os direitos garantidos pelo governo passado, elas estariam vivas: um aumento de 29% comparado aos governos anteriores. Finalmente, a gente tinha um n�mero que, apesar de terr�vel – 570 crian�as mortas – ainda � subnotificado, porque havia um apag�o estat�stico. Esses dados n�o eram contabilizados pelos governos passados ou eram parcialmente contabilizados. Esse n�mero de mortes � provavelmente bem maior, o que � absolutamente estarrecedor. Com o n�mero s�lido e com o arcabou�o de fotos autorizadas, a gente publicou a mat�ria em 20 de janeiro. Essa � a hist�ria dessa reportagem.

Na reportagem, voc�s enfatizam que lideran�as ind�genas autorizaram a publica��o das fotos devido � urg�ncia da situa��o. Dentro da cultura yanomami, o que representa a divulga��o das imagens? 
Na cultura yanomami, e isso eu aprendi com os antrop�logos e bem diretamente com Ana Maria Machado, uma das autoras da mat�ria, com experi�ncia de 15 anos com os yanomamis. Ela � tamb�m tradutora do yanom�, uma das l�nguas yanomamis, e indigenista. A gente procura trabalhar sempre fazendo as mat�rias com uma tradutora profissional para entender exatamente o que eles est�o dizendo, porque as palavras s�o muito importantes e tamb�m. Com as palavras vem uma cultura muito diferente da nossa e que precisamos respeitar quando fazemos uma reportagem. Ent�o, o que eu aprendi com a Ana � que a imagem capturada numa fotografia � um dos componentes da pessoa. N�o � a fotografia que � um dos componentes da pessoa. � a imagem capturada na fotografia. Ent�o, quando um beb�, uma pessoa velha, uma pessoa doente � fotografada, isso fragiliza ainda mais quem j� est� numa condi��o de fragilidade, e as consequ�ncias podem ser graves, j� que por ter sido fotografada e filmada, a pessoa pode acabar indo para o mundo dos mortos. Ent�o, jogar simplesmente as fotos numa reportagem, mesmo que a inten��o seja denunciar uma viola��o absoluta de direitos, se a gente n�o tiver cuidado pode se tornar mais uma viola��o. Quando um yanomami morre, tudo o que � parte dele, os seus pertences, o pr�prio corpo, � queimado num longo ritual muito particular, muito bonito. Tudo dele precisa desaparecer. Como retirar da internet uma fotografia que, no entendimento deles, capturou a imagem deles, ou seja, capturou uma parte deles? Isso � muito s�rio. A gente precisa ter muito cuidado. O fato de as lideran�as autorizarem a publica��o – e houve at� um caso em que a pr�pria lideran�a pediu que a foto fosse feita – mostra o total e absoluto desespero dessas lideran�as de testemunhar, dia ap�s dia, o seu povo morrer. Porque � muito arriscado, muito grave ter essas imagens, essas fotografias e essas filmagens circulando pela internet. Mesmo como a gente fez, borrando o rosto.

Em uma s�rie de postagens nas redes sociais, a ex-ministra Damares Alves afirmou que n�o houve omiss�o do governo federal nos �ltimos quatro anos, criticou a imprensa e questionou a pol�tica do isolamento imposta, segundo ela, a algumas comunidades. Como analisa a rea��o de Damares?
A ex-ministra Damares Alves, atual senadora, � uma mentirosa. Ela mentiu v�rias vezes durante o tempo em que esteve � frente do minist�rio e mente mais uma vez, como foi a pr�tica do governo Bolsonaro. Quando a realidade n�o lhes conv�m, eles negam a realidade e mentem. S� que a realidade � a realidade. Se n�o houve omiss�o, vai ser preciso explicar como 570 crian�as com menos de 5 anos morreram em 4 anos, como aumentou 29% em compara��o ao governo anterior, como h� milhares de garimpeiros ilegais dentro do territ�rio yanomami, como houve um apag�o da sa�de, um apag�o estat�stico, como essas pessoas est�o morrendo de fome e de doen�as. Crian�as, adultos, homens e algumas mulheres gr�vidas, eles est�o a�; o mundo est� vendo. Eu s� espero que as institui��es brasileiras sejam fortes e s�lidas o suficiente para que a ex-ministra Damares Alves, atual senadora, responda finalmente por suas mentiras. Como � uma pessoa com cargo p�blico, suas mentiras t�m uma consequ�ncia ainda maior, porque a sua responsabilidade tamb�m � p�blica. 

O ministro Fl�vio Dino determinou abertura de inqu�rito por “ind�cios de genoc�dio”, o que foi feito na �ltima quarta-feira pela Pol�cia Federal. Pelo que voc� observou e apurou, � poss�vel falar em genoc�dio?
Sim. A nossa investiga��o jornal�stica, assim como outras investiga��es jornal�sticas na terra ind�gena yanomami, mostra claramente que h� ind�cios de genoc�dio. Quando a gente mostra que 570 crian�as com menos de 5 anos foram mortas por causas que poderiam ser evit�veis, ou seja, se tivessem tido acesso a tratamentos, se a Constitui��o tivesse sido cumprida, essas crian�as hoje estariam brincando, estariam vivas, estariam existindo. Isso � genoc�dio. N�o foi o primeiro ato genocida do governo Bolsonaro. H� v�rias comunica��es do Tribunal Penal Internacional mostrando atos deliberados e neglig�ncia de Bolsonaro, especialmente contra os ind�genas. O que se espera � que Bolsonaro, finalmente, responda pelos seus atos, dentro do pa�s, porque h� lei para isso. � fundamental porque a justi�a � fundamental. E parte do que tornou poss�vel a elei��o de um extremista com o Bolsonaro, que quando era militar planejou um ataque terrorista, e mesmo assim chegou � Presid�ncia da Rep�blica, � porque nunca foi punido, n�o precisou responder pelos seus atos. Isso tamb�m ser� fundamental para a reconstru��o de nossa democracia. E, pelo nosso pr�prio futuro, a puni��o precisa ser exemplar.

Como � poss�vel, de imediato e de forma efetiva, ajudar os yanomamis para impedir mais mortes?
Neste momento, � uma situa��o totalmente emergencial, que o governo est� enfrentando de forma correta. Acabei de ver a informa��o de um aumento de inscri��es de volunt�rios para as for�as do SUS de 700%, o que mostra como grande parte dos brasileiros estavam ansiosos por finalmente ser uma comunidade, agir a favor do pa�s, depois de quatro anos de um governo que agia contra o pa�s. Ent�o, esse engajamento � incr�vel. Isso mostra que a gente pode reconstruir o Brasil. Neste momento, � preciso atendimento � sa�de porque a situa��o � de cat�strofe humanit�ria. As pessoas est�o morrendo de fome em �reas de dif�cil acesso. Mas n�o basta chegarem as cestas b�sicas como as que chegam na periferia de Belo Horizonte, Rio ou S�o Paulo. Os yanomamis s�o um povo muito particular, com alimenta��o pr�pria. Precisa ser uma cesta b�sica que seja adaptada �quilo que eles comem. Em casos de desnutri��o grave, caso de muitas pessoas, n�o � simples. � muito dif�cil reverter uma situa��o de desnutri��o severa. Ent�o, � uma a��o emergencial na �rea de sa�de numa regi�o de dif�cil acesso, que precisa de muito recurso financeiro, muitos recursos humanos, muito respeito � cultura, muito trabalho com as associa��es e lideran�as, muito conhecimento de quem realmente conviveu e pesquisou esse povo e sua cultura durante d�cadas. Tamb�m � preciso a imediata a expuls�o do garimpo ilegal, do crime organizado. E de forma efetiva. Porque a expuls�o j� aconteceu outras vezes e eles voltam. S�o milhares de pessoas, muitos trabalhando numa situa��o an�loga � escravid�o. Se essas pessoas n�o tiverem alternativa, v�o voltar. Trabalhar com as comunidades que, de forma acelerada, tiveram sua cultura completamente transtornada; pararam de fazer suas ro�as, j� n�o podem pescar porque os rios est�o contaminados por merc�rio, n�o tem mais animais de ca�a, porque a ca�a fugiu ou tamb�m morreu nas condi��es de deteriora��o ambientais produzidas pelo garimpo. Ent�o, � uma a��o que parte da emerg�ncia e precisa se tornar permanente, efetiva. E s� pode ser feita se for constru�do – isso � muito importante – se for constru�do com as comunidades yanomamis, com os diferentes povos yanomamis, com as lideran�as e associa��es. Se n�o for constru�do com eles n�o ter� efetividade.

No mesmo dia em que foram divulgadas as imagens, come�ou a surgir uma onda de fake news com desinforma��o, afirmando que os ind�genas que aparecem desnutridos nas fotos, por exemplo, s�o todos venezuelanos. Como enfrentar essa estrat�gia de desinforma��o?
N�s vivemos no Brasil quatro anos com um presidente de extrema-direita que mentia todos os dias e v�rias vezes por dia. Chegou a mentir na ONU com as imagens da floresta queimando para todo mundo ver que n�o havia inc�ndios na Amaz�nia. Ele governava a partir de mentiras. E seguiu fazendo isso, tanto que negou o resultado das elei��es, e como os golpistas foram tolerados em frente aos quart�is do Ex�rcito, chegou-se a uma tentativa de golpe, algo que n�o acontecia desde 1964, em 8 de janeiro deste ano. Ou seja, a gente vive, h� v�rios anos, submetida a fake news, �s mentiras. � uma estrat�gia de controle do poder. S� que esse � um outro momento do pa�s. Esse � o momento em que � preciso que as pessoas p�blicas que mentem respondam pelas suas mentiras, conforme a legisla��o prevista no Brasil, dentro do rito democr�tico. E como a gente enfrenta isso? Com os fatos. As pessoas podem negar a realidade, mas a realidade se imp�e e n�s podemos testemunhar. E a realidade nesse momento s�o ind�genas que mal param em p�, ind�genas yanomamis que mal param em p� e um n�mero assombroso de mortes. E a imprensa tem um papel muito importante nesse restabelecimento da verdade, da palavra que representa aquilo que �. A imprensa trabalha com o respeito aos fatos e a coragem de cont�-los. A gente checa, investiga, documenta. Esse � o nosso papel. 

Suma�ma faz um trabalho de fundamental import�ncia, baseado na Amaz�nia. Sabemos o alto risco aos jornalistas. Voc�s j� sofreram algum tipo de amea�a? O que destaca de mais importante no seu trabalho?
Criamos o Suma�ma porque a gente acredita que, neste momento de crise clim�tica, de extin��o em massa de esp�cies, ambas produzidas por humanos, a gente precisa deslocar o que � centro e o que � periferia. O centro do mundo � onde est� a vida: s�o as florestas tropicais, como a Amaz�nia, s�o os oceanos, os outros biomas. Os centros s�o onde est� a vida, e n�o onde est�o os mercados. Trabalhar baseada de Altamira, um dos epicentros da viol�ncia, do desmatamento contra a floresta, mas tamb�m da resist�ncia, significa enfrentar v�rias for�as poderosas. Ent�o, trabalhamos com riscos. � importante deixar claro que os riscos que a gente corre como jornalistas s�o muito menores do que os enfrentados pelas pessoas cujas hist�rias a gente conta, as que est�o na linha de frente nessa luta na floresta, como os pr�prios ind�genas, os ribeirinhos, os quilombolas e os camponeses. Ent�o, neste momento, mesmo com a troca de governo, tenho amigos que est�o em ref�gios; ou seja, escondidos, exilados dentro do pr�prio pa�s. Estavam amea�ados de morte e seguem amea�ados: s�o militantes, ativistas da floresta e de outros biomas que est�o escondidos para n�o ser mortos. H� outras amea�as, de pistolagem, mil�cia, grileiros, pistoleiros, fazendeiros, muitos vivendo no Centro-Sul do pa�s, mas com terras griladas aqui na Amaz�nia, ent�o a situa��o continua grav�ssima. Por isso prefiro falar dos riscos que elas est�o vivendo neste momento, mesmo com outro governo, do que dos nossos riscos. A luta pela Amaz�nia � uma luta para sempre. Vivemos uma guerra contra a natureza, uma guerra global. � muito importante que, assim como os brasileiros est�o se engajando para fazer sua parte na cat�strofe humanit�ria contra os yanomamis, seguir no engajamento na luta pela floresta, pelos outros biomas e pela natureza, na luta pelos povos, que em v�rias regi�es da Amaz�nia, junto com a floresta, est�o amea�ados de morte. S�o eles que mantiveram a floresta em p� at� agora, e, portanto, mantiveram a nossa possibilidade de futuro em p�.
 
 

“N�o estamos conseguindo contar os corpos”


Reportagem de Ana Maria Machado, Talita Bedinelli e Eliane Brum. A �ntegra da reportagem pode ser lida no site sumauma.com

Saiba como doar para as associa��es yanomamis


Associa��o Ypasali Sanuma
Banco do Brasil
Ag�ncia 0250
C/C 125.892-3
PIX CNPJ:34.141.441/0001-25

Urihi Associa��o Yanomami
Banco do Brasil
Ag�ncia: 2617-4
C/C: 59027-4
CNPJ:34.807.578/0001-76

Hutukara Associa��o Yanomami
PIX CNPJ: 07.615.695/0001-65

* Os recursos doados ser�o revertidos em alimenta��o, ferramentas para melhoria das ro�as e frete a�reo para envio de doa��es
 
 

“Banzeiro �k�t�”


  • De Eliane Brum
  • Companhia das Letras
  • 448 p�ginas
  • R$ 44,99 


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