Lan�amentos recentes refor�am multiplicidade de vozes

“Araras vermelhas”

A escritora Cida Pedrosa busca o substrato de sua poesia na hist�ria brasileira. O acontecimento condutor do livro “Araras vermelhas" � a Guerrilha do Araguaia, epis�dio ocorrido na regi�o conhecida como “Bico do Papagaio”, nas divisas dos estados do Par�, Maranh�o e Tocantins nas d�cadas de 1960 e 1970.  Os textos s�o escritos a partir da mem�ria.

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A autora reconstr�i poeticamente a regi�o, com toda a exuber�ncia da fauna e da flora, apresenta quem esteve na resist�ncia e denuncia a a��o violenta da ditadura militar. Os poemas est�o organizados sob a forma de “cantos”, o que tanto nos remete �s araras, como podem ser percebidos no ritmo e musicalidade que emprega na constru��o dos versos. Antes de cada canto, a poeta situa o leitor: entremeia momentos da pr�pria trajet�ria a fatos hist�ricos do mundo.

Cida trabalha as dimens�es das palavras: verbal, visual e sonora. No segundo canto, ela trabalha com primor o aspecto verbivocovisual, ao apresentar a participa��o das mulheres na guerrilha: “mulher � mais que m�e � mais que pranto parto pernas (...) (...) ela sabia da mata e das suas armadilhas sabia dos p�ssaros e seus cantares das folhas e suas serventias (...). Um trabalho que atesta o talento da poeta que conquistou o pr�mio Jabuti 2020 nas categorias poesia e livro do ano com “Solo para  vialejo”.

• Araras vermelhas
• Cida Pedrosa 
• Companhia das Letras
• 144 p�ginas
• R$ 64,90 

“Um p� na cozinha”

Ta�s de Sant’Anna Machado se debru�ou sobre a contribui��o das cozinheiras em sua tese da qual deriva o livro “Um p� na cozinha”. A cozinha � um espa�o historicamente associado � mulher negra, rela��o essa cercada por muitos estere�tipos. No entanto, ela investiga a atua��o de mulheres negras na cozinha dom�stica desde o p�s-Aboli��o at� a gastronomia contempor�nea.

A chef Carmem Virg�nia, que escreve a orelha da obra, nos d� a chave da leitura: ‘Cozinhar e servir pode ser um presente - falo de servir com amor, e n�o da servilidade que nos foi imposta por termos a pele dos escravizados.  � importante que as mulheres negras entendam que cozinhamos n�o s� por necessidade, mas tamb�m por voca��o.

• Um p� na cozinha
• Ta�s de Sant'Anna Machado
•  Editora F�sforo
• 265 p�ginas
• R$ 99,90

“Mikaia” 

O romance de estreia de Taiane Santi Martins, “Mikaia” foi o vencedor do Pr�mio Sesc de Literatura 2022 na categoria Romance. A protagonista, uma bailarina negra, traz o corpo e a dan�a para retomar as mem�rias. A narrativa come�a quando Mikaia sofre uma amn�sia repentina. No processo de resgate das lembran�as, ela nos apresenta a hist�ria de mulheres que fugiram de Mo�ambique devido � guerra civil.

A escritora ainda se dedica aos aspectos lingu�sticos do texto, que aproximam os dois pa�ses de l�ngua portuguesa, mas d� relevo ao emakhuwa-enahara, uma variante regional da l�ngua emakhuwa falada na prov�ncia de Nampula, ao norte do pa�s africano. O primeiro romance da autora ga�cha foi em parte escrito quando ela morou na Ilha de Mo�ambique, cidade insular situada na prov�ncia de Nampula, na regi�o norte de Mo�ambique.

• Mikaia
• Taiane Santi Martin
• Record
• 272 p�ginas
• R$ 48,69

“O cora��o que chora e que ri - contos verdadeiros da minha inf�ncia” 

“O cora��o que chora e que ri: contos verdadeiros de minha inf�ncia” foi publicado originalmente em 1999, e com ele Maryse Cond� venceu o pr�mio Marguerite Yourcenar. � um dos mais importantes livros da escritora guadalupense, uma das mais premiadas autoras de l�ngua francesa. Nascida em 11 de fevereiro de 1937, em Guadalupe, ela � a ca�ula de oito irm�os. De fam�lia abastada, se mudou para Fran�a para estudar no Lyc�e F�nelon, e logo depois ingressou na Sorbonne Nouvelle, onde se tornou doutora em literatura comparada. A autora nos apresenta a pr�pria hist�ria ficcionalizada, uma narrativa atravessada pela rela��o com os pais e com as irm�s.

O livro � dedicado � m�e que Maryse perdeu ainda muito jovem. As lembran�as parecem prestar contas aos pais, e a escritora em diferentes momentos diz que eles n�o esperavam que ela daria “nada de bom na vida”. De intelig�ncia acima da m�dia, Cond� se tornou cr�tica � academia, aos estudos da literatura cl�ssica, mas sempre foi amante da literatura e das artes, fazendo por conta pr�pria o percurso intelectual nas livrarias, exposi��es e cinema.  O livro nos revela a criticidade como marca da escrita: uma mulher negra, de fam�lia rica, que nasceu em uma col�nia francesa, formada em uma das melhores universidades do mundo. N�o sem raz�o ela venceu, em 2018, o The New Academy Prize em literatura  – pr�mio alternativo ao Nobel.

• O cora��o que chora e que ri- contos verdadeiros da minha inf�ncia
• Maryse Cond�
• Bazar do Tempo
• 202 p�ginas
• R$ 53,59
  
  

“Balada de amor ao vento”

Em “Balada de amor ao vento”, Paulina conta a hist�ria de Sarnau, uma mulher que sonha em ser a �nica companheira de Mwando por quem “se apaixona de corpo e alma”.  A autora mo�ambicana, uma das mais importantes da l�ngua portuguesa, volta a tratar da poligamia, um tema que aparece em seus romances, como Niketche, e tamb�m das tradi��es e costumes de uma sociedade que imp�em papeis �s mulheres.  A reflex�o sobre o feminino � central na obra da escritora, que revela, ao mesmo tempo, tra�os da cultura do pa�s africano e como ela percebe as rela��es de g�nero em seu pa�s.

“As mulheres tamb�m representam a dualidade da cultura em que vivem, sendo, ao mesmo tempo, a pr�pria representa��o do mundo e da serpente que ludibria e tira a inoc�ncia dos homens”, escreve Jarid Arraes sobre o livro na orelha. Ganhadora do Pr�mio Cam�es 2021, Paulina nos aproxima de nosso pa�s-irm�o, Mo�ambique, na forma como nos conta os costumes daquele lugar e na maneira exuberante com que descreve a natureza. 

• Balada de amor ao vento
• Paulina Chiziane
• Companhia das Letras
• 176 p�ginas
• R$ 59,90