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Estado de Minas ESPECIAL FERNANDO SABINO/100 ANOS

A arte do encontro de Fernando, Paulo, Otto e H�lio

Surgida na inf�ncia e na juventude, a amizade dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse durou a vida inteira. Nesta quinta (12/10), Fernando Sabino faria 100 anos


12/10/2023 04:00 - atualizado 12/10/2023 03:41
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Fernando Sabino com Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos
Fernando Sabino com H�lio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos; os �nicos amigos capazes de salv�-lo, conforme observou M�rio de Andrade (foto: Arquivo EM)

“Posso afirmar que, se n�o tiv�ssemos conseguido fazer mais nada na vida, essa amizade de tantos anos, com conv�vio di�rio, foi o melhor que pod�amos esperar deste mundo. Ela nos faz ter eternamente 20 anos e sinto que me permitir� morrer em paz.”

Fernando Sabino tinha 63 anos quando fez esta afirma��o � jornalista Norma Couri, em entrevista publicada em julho de 1987 na extinta revista “Playboy”. Falava sobre a amizade com H�lio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende, uma rela��o “em permanente desentendimento”. 

A previs�o tinha sido feita muitos anos antes, com Sabino mal acabado de entrar na casa dos 20. "O H�lio, o Otto, o Paulo s�o os �nicos amigos que podem salvar voc�", escreveu M�rio de Andrade, em carta de 1944. 

Foi tamb�m nesta longa conversa � “Playboy”, e em decorr�ncia da amizade que o mantinha jovem, que o escritor anunciou publicamente seu epit�fio – “Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem, morreu menino” –, escrito em seu jazigo no Cemit�rio S�o Jo�o Baptista, no Rio de Janeiro. Os outros tr�s “cavaleiros” ali tamb�m est�o enterrados.
 

� esquisito, � inacredit�vel, � antes de tudo t�o comovente como n�s quatro tivemos ao mesmo tempo a consci�ncia de um instante em suspenso entre o que deixou de ser e o que ser� de agora em diante

Fernando Sabino, em carta a H�lio Pellegrino

 
A entrevista foi precedida pela perda do trio de parceiros: H�lio morreu em mar�o de 1988, Paulo em julho de 1991 e Otto em dezembro de 1992. 

“Cartas na mesa” (Record, 2002) foi o volume que Sabino organizou com 50 anos de correspond�ncia com o trio (134 cartas enviadas de 1943 a 1992), seus “amigos para sempre”, como escreveu na apresenta��o da obra. Conheceu H�lio aos 6 anos, no final da d�cada de 1920 – foram colegas de jardim de inf�ncia, de grupo e de gin�sio. Otto apareceria em 1933, em um encontro de escoteiros, e Paulo j� na juventude, “de pilequinho”, em uma festa em 1940.

“Convers�vamos os quatro (ou tr�s, para falar mal do ausente) dia e noite sem parar, em Belo Horizonte e depois no Rio. Rebeldes, inconformados, predominava entre n�s a irrever�ncia. �ramos contra as conven��es e conveni�ncias, a come�ar pela voca��o liter�ria que nos unia”, escreveu Sabino.
 
 

Professora do Departamento de Letras Modernas da UNESP-Assis, Gabriela Kvacek Betella concluiu em 2005 p�s-doutorado no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP) sobre a obra dos quatro. Para ela, o primeiro ponto que os une “�, tecnicamente, o gosto pelo conhecimento e pela express�o”.

Em um dos artigos resultantes do p�s-doc, “Os quatro cavaleiros de um �ntimo apocalipse e suas biografias vic�rias”, Gabriela analisou a obra do quarteto na escrita de perfis. “� uma infinidade de perfis, o Fernando escreveu bem mais do que os outros. Mas todos se dedicaram �s figuras pelas quais eram ligados, por pura admira��o ou por amizade.”

Por meio da pesquisa, Gabriela faz a seguinte observa��o: “� medida que escreviam, eles acabavam falando deles mesmos. H� toda uma vaidade, algo como eu preciso dizer que era amigo dele”. Ela cita um perfil que Sabino fez sobre Oscar Niemeyer, “Apenas um homem que vive”. 

“A certo momento ele escreve ‘estamos aqui, lado a lado, na rua no Rio de Janeiro’. Isto faz com que n�o s� o perfilado, mas o escritor tamb�m se torne admir�vel.” A professora chama a aten��o que a escrita era t�o sutil, “que voc� ‘cai’ na dele, n�o percebe a vaidade de quem est� escrevendo.”

Jornalista s� de vez em quando

Para ela, dos quatro, foi Sabino o �nico que quis ser um grande escritor. “Ele queria ser consagrado, tanto que, no in�cio da carreira, tinha medo que o confundissem com jornalista. Era como se de vez em quando fosse jornalista, mas era um escritor.”

Quando, em 2003, Gabriela decidiu estudar a obra dele e de seus parceiros, ouviu de sua pr�pria orientadora que enfrentaria algum preconceito. “Fernando Sabino, principalmente, n�o entrava na academia. Tinha a carga de ter escrito o livro da Z�lia (o romance biogr�fico “Z�lia, uma paix�o”, de 1991, que foi execrado pela cr�tica e deu in�cio � sa�da do escritor da vida p�blica), que o deixou muito marcado.”

Mesmo passado tanto tempo, Gabriela diz que os quatro continuam sendo pouco analisados na p�s-gradua��o. “Eu, por exemplo, s� estive desde ent�o em uma banca de doutorado sobre os romances do Otto. Algumas coisas do Otto foram estudadas e poucas do Paulo. � lament�vel que o pessoal da literatura brasileira n�o utilize a obra po�tica dele, que � vast�ssima, como objeto de estudo. J� recentemente vi um estudo sobre o papel do H�lio na psican�lise. Ele, na literatura, escreveu muito menos do que os outros.”


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