Em 'Menos ainda', Ana Elisa Ribeiro mostra poesia 'cheia de agudezas'

 “Menos ainda” � a nona e a mais recente publica��o da poeta mineira Ana Elisa Ribeiro (vencedora do Pr�mio Jabuti em 2022). O tom espirituoso que marca a sua trajet�ria de 25 anos de persist�ncia (ou insist�ncia) na poesia � justamente o que nos conduz por meio do principal tema de “Menos ainda”: “a profiss�o poeta”; ou “o que � ser poeta?”; ou, ainda mais especificamente, “o que � ser uma poeta?”. Isso sem, contudo, deixar totalmente de lado a seriedade – esse predicado t�o supervalorizado em mat�ria de literatura.

Como n�o poderia deixar de ser, s�o v�rias as possibilidades apresentadas pelos versos de diferentes fases da produ��o po�tica da autora, que selecionou entre poemas antigos – publicados em revistas e antologias – e poemas novos aqueles que melhor se atrevem a controverter perguntas t�o impertinentes. Cabe ent�o � perspic�cia do leitor apreender dos escritos de Ana Elisa Ribeiro o maior n�mero de respostas. 

As pistas s�o dadas a todo o momento, come�ando pelo t�tulo do livro, que, como indicado por Patr�cia Lavelle (PUC/RJ) no posf�cio, “radicaliza o Poetamenos de Augusto de Campos”. Partindo para a leitura, as refer�ncias a Carlos Drummond de Andrade, Torquato Neto, Ad�lia Prado, Paulo Leminski, editores caretas, mestres de “estimulante estreiteza” e outras personagens, comp�em o zod�aco elencado para tra�ar o mapa-literal da poeta. As refer�ncias metalingu�sticas d�o parte desse tom humorado, que perpassa praticamente toda a obra. 

O lado espirituoso tamb�m se faz presente no bel�ssimo projeto gr�fico, elaborado por Elza Silveira e executado pela sempre excelente Impress�es de Minas. Pensado para apresentar a obra como uma esp�cie de “pasta empresarial” para a o exerc�cio da profiss�o e com elementos paratextuais n�o convencionais – como a “Ficha do hotel onde se hospeda a poeta” e a sua “Carteira de trabalho” –, o projeto gr�fico deixa ainda mais evidente a inten��o de “gozar” com o glorioso of�cio. 

Afinal, que poeta que se preze nunca se afastou ou foi afastado do of�cio por “extremo des�nimo” ou por “cancelamento” da classe art�stica? Assim, “Menos ainda”, com suas doses de ironia e as suas cr�ticas e homenagens ao universo da poesia, � um agrad�vel e bem-humorado passeio pelos caminhos “cheios de agudezas”, como as [picadas abertas “com as pontas das canetas”], da poeta Ana Elisa Ribeiro. 

Ao ler os poemas, confirmamos mais uma vez: as poetas e os poetas podem n�o estar l� muito bem das pernas (ou da cabe�a); mas para a tristeza geral da cr�tica especializada, independente dela e dos editores, a poesia continua muito viva, talvez justamente por n�o ter sido decodificada como of�cio, e vai bem (poderia ser mais bem remunerada, mas tudo bem), obrigada. 

Por fim, � recomendada uma advert�ncia ao leitor que sentir-se estimulado a embrenhar-se na obra, acreditando que desta mata vasta, sair� brandindo brilhantes respostas. Como a pr�pria autora diz em “Desditos”:

n�o direi

para que o poema 

n�o diga

n�o serei

expl�cita

a implicitude

n�o me denuncie

n�o transbordarei

pela escrita

para que a palavra

n�o me aponte

como fonte.

*Redator, revisor e diagramador, Ant�nio Ursine � bacharelando em Letras no CEFET-MG.