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Estado de Minas PENSAR

'Tipografia alfabeta': o poema como campo de possibilidades

Novo livro de M�rio Alex Rosa e Ronald Polito remete para uma tradi��o barroco/vanguardista, com o alfabeto como mat�ria visual e discursiva


16/06/2023 17:03 - atualizado 16/06/2023 19:43
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Rog�rio Barbosa da Silva(*)

Ronald Polito e M�rio Alex Rosa nos apresentam um belo livro, impresso em l�minas soltas, envelopadas numa caixa, com projeto de Flavio Vignoli, acabamento pela Tipografia Matias e impress�o pela Tipografia do Z�. Lendo e manuseando o livro, � imposs�vel n�o sermos remetidos para uma tradi��o barroco/vanguardista, que t�m o alfabeto como mat�ria visual e discursiva. Lembramos, por exemplo, mais pr�ximos de n�s, "Alfabeta" (1985), de Salette Tavares, e o "Alfabeto Estrutural", de Ana Hatherly, escritoras-artistas portuguesas, que, de modos distintos, buscam uma desautomatiza��o da escrita e a compreens�o da letra, enquanto imagem e enquanto verbo sonoro. Paul Val�ry tamb�m comparece, com seu Caderno ABC (escrito a partir de 1894) e a ideia de estruturar a escrita a partir da rela��o entre as vinte e quatro capitulares e as horas do dia, dando origem a um livro que � um cont�nuo s� interrompido com sua morte, em 1945. E nessa lista outros tantos poderiam comparecer, i.e., aqueles que t�m a letra como imagina��o encarnada, a exemplo do catal�o Juan Brossa ou de Guilherme Mansur, em Minas.

Leia: Ronald Polito e M�rio Alex Rosa lan�am livro que une tipografia e poesia

O que importa � que Polito e Rosa, ao longo de suas trajet�rias, sempre tiveram grande interesse na letra, na forma da palavra, na dimens�o gr�fico-visual, mas tamb�m nos gestos v�rios do gravar/grafar/escre[ver]. Entendemos que ambos pertencem a essas fam�lias de poetas/artistas que pensam o poema como um campo de possibilidades, isto �, produzem em materialidades diversas os poemas que abrir�o fronteiras interart�sticas, e, com isso, ressignificam o fazer po�tico, sobrepondo o fazer de agora a formas j� utilizadas. Na poesia de M�rio Alex Rosa, a palavra "poesia", gravada ou encartada de mil e uma maneiras, � um signo explosivo, pronto a irradiar- se pela via de um poema-objeto (o poeta tem muitos trabalhos nessa linha) ou poemas visuais, feitos em livros, cart�es, bordados e cat�logos expositivos. Noutro lado, Ronald Polito esmera-se na palavra como um ideograma, arte de um cal�grafo de t�cnicas m�ltiplas de gravar: vejam-se os poemas "nu" e "horror vacui". Num e noutro, a conten��o, a forma e a espacializa��o do poema, a fonte tipogr�fica, o fundo escuro da l�mina, tudo contribui para abrir os sentidos dessas palavras. Em ambos os poemas se desnuda, mostra seu centro e da� emerge a sua for�a, gravitando naqueles outros poemas em que a falha, a aus�ncia e a incompletude se manifestam. Com t�cnicas distintas, seus poemas retomam o livro "Objeto" (1997).

Os poemas de M�rio Alex Rosa em "tipografia alfabeta" s�o textos l�ricos que tratam do amor, mas que mostram tamb�m a sensibilidade do poeta com a forma do livro. J� no primeiro poema fica a deixa: "folha primeira/ a quem primeiro/ me entrego?". A pergunta fica para o leitor, que percebe a dubiedade dessa entrega. Os poemas brincam com o estado l�rico: amor/dor/humor, e se organizam visualmente na folha, que parece sugar a tinta tipogr�fica. Creio que, neste que me parece ser o �ltimo poema, conforme embaralhamos as l�minas, faz-se a� uma liga��o interessante com a poesia de Ronald, ao se desvelar o vazio que tamb�m comp�e a linguagem da l�rica amorosa.

� ainda necess�rio se destacar a sintonia criativa que uniu, neste volume (enfim, um livro-caixa), dois poetas com propens�o visual e um designer artista da tipografia. Da� resulta uma composi��o e um objeto que s�o um convite � imagina��o. O poema ent�o se configura como uma abertura.

(*) Poeta e professor do CEFET-MG, no Programa de P�s-Gradua��o em Estudos de Linguagens e no curso de Letras (edi��o).


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