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Estado de Minas PENSAR

A palavra segundo Guilherme Mansur

Em homenagem ao 'tipoeta' mineiro Guilherme Mansur, morto em setembro, o Pensar reproduz alguns de seus trabalhos mais marcantes


21/10/2023 04:00 - atualizado 21/10/2023 00:27
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Guilherme Mansur
Em homenagem ao 'tipoeta' mineiro Guilherme Mansur (1958-2023) � , homenageado no F�rum das Letras de Ouro Preto, (foto: Leandro Couri/EM)

 

Guilherme Mansur � um dos homenageados na 18ª edi��o do F�rum das Letras, promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto, que tem como tema “Materialidades da poesia” e celebra tamb�m a obra de Cec�lia Meireles. A abertura das exposi��es em homenagem a Mansur acontecer� �s 10h deste s�bado, 21/10, na Casa dos Contos de Ouro Preto, onde haver�, ao meio-dia, uma chuva de poesia, marca registrada da trajet�ria do ‘tipoeta’.

 

A cont�nua experimenta��o e materializa��o do poema

“O que mais me encantava em GM era a sua permanente inven��o gr�fica para a suas poesias: tipografia, caligrafia, fotografia... Uma cont�nua experimenta��o e materializa��o do poema com o devido rigor t�cnico (de sua pr�tica e n�o somente de sua hist�ria), e sempre com uma alegria quase infantil neste gesto de grafia. Foram muitos anos pesquisando e colecionando a produ��o da sua Tipografia do Fundo de Ouro Preto, com destaque para Poesia Livre e Finismundo, mas de hist�ria editorial ainda pouco conhecida, apresentada nas exposi��es do Gabinete do Livro e na Casa das Rosas, em SP. Com a minha Tipografia do Z� comecei a Cole��o Li��o de coisas, coeditado com M�rio Alex Rosa, justamente com o encontro po�tico e tipogr�fico de GM com Cleber Teixeira, tamb�m poeta editor. Atualmente imprimia para GM uma s�rie de cartazes-poema, que ele chamava de Cartemas, e que podiam ser lidos em dois sentidos (“duas cabe�as”) e ainda convers�vamos sobre a possibilidade de uma edi��o de sua antologia po�tica com a diversidade e inven��o de suas grafias gr�ficas. GM continua como uma refer�ncia de editor, poeta e artista gr�fico contempor�neo.”

Fl�vio Vignoli,tip�grafo e editor da Tipografia do Z�

 

Obras tipográficas da série Bichos tipográficos de Guilherme Mansur
Obras de Guilherme Mansur (foto: Guilherme Mansur )

BICHOS TIPOGR�FICOS

“A s�rie “Bichos tipogr�ficos” � uma leitura atrav�s da tipografia das caracter�sticas de alguns bichos. Aqui, as letras exploram os sons, os corpos e os jeitos de se virar de cada bicho. A ideia foi interferir o menos poss�vel nas palavras, deixando que as pr�prias letras dessem conta do desenho.”Guilherme Mansur, na apresenta��o do livro “Bichos tipogr�ficos” (Edi��es Dubolsinho, 1ª edi��o, 2007)

 

Ele fez chover poesia sobre as nossas cabe�as 

“Guilherme, para mim, era o tip�grafo da Tipografia de Ouro Preto, que pertenceu a sua fam�lia, e que desde crian�a pegou em tipos m�veis. Guilherme disse algumas vezes que brincava com os tipos m�veis como se fossem soldadinhos, por�m de chumbo. Soldadoletras, letras-soldado. Guilherme, poeta alfabetizado pelos tipos m�veis. Acredito que o amor que adquiriu pelas letras, pelas palavras, o tornou um poeta-soldado da poesia. Guilherme era, para mim, o poeta que �s vezes via em p� na sacada do belo sobrado, no final da Rua Get�lio Vargas, indo para o bairro do Ros�rio, Guilherme, para mim, era o editor da bel�ssima caixa “Hai tropicai”, 1985, com poemas de Paulo Leminski e Alice Ruiz, Guilherme era o poeta que eu estudante em Ouro Preto queria conhecer e n�o sabia como me aproximar. O poeta ficava l� na sacada de sua casa observando o tempo passar no passar das pessoas. Vi Guilherme caminhando algumas vezes na Rua S�o Jos�, quase sempre sozinho. Vi Guilherme agachado montando uma exposi��o sua nos por�es da Casa dos Contos, em Ouro Preto. Guilherme era o criador de convites diferenciados de exposi��o que pareciam mais um poema visual (guardei-os pela belezagr�fica deles, como os “Objetos Metal�dicos”, 1992, ou o convite para o lan�amento da revista �m�, 1993). A poesia nos aproximou. Fomos naturalmente ficando amigos,confidenciando coisas do cora��o. Vinte anos de amizade, um dia ele me perguntou se eu tinha algum poema infantil para a chuva de poesia que ele estava preparando para o Dia das Crian�as. Eu chovi de alegria. Sempre achei e continuo achando a poesia de Guilherme uma gra�a de beleza, uma poesia de pouqu�ssimas palavras. Guilherme tinha uma precis�o sobre como cada palavra ocuparia o espa�o branco de uma folha, de um cartaz, de um convite, da capa de um livro. Guilherme era um tipogr�fico. Talvez at� mesmo pela sua experi�ncia em compor os tipos m�veis no componedor. Sabia ajustar. Tinha m�os precisas para quecada letra, cada palavra, encaixasse da melhor forma.Quero dizer que aprendi muito e continuo aprendendo OLHANDO e lendo a poesia do Guilherme. O nosso Tipoeta fez (literalmente) chover poesia sobre as nossas cabe�as,sobre nossos cora��es.”

M�rio Alex Rosa, poeta,autor de “Cosmonauta”(Aletria,2022) e “Cartas ao mar”(Scriptum,2023)

 

Obras tipográficas de Guilherme Mansur
Obras de Guilherme Mansur (foto: Guilherme Mansur )

As letras como signos pulsantes

“Passo em frente ao sobrado vermelho e olho para cima, esperando ver meu amigoGuilherme com seu charmoso chap�u panam�, contemplando os passantes. Ele chamavaa cal�ada de seu “cinema”. Como sentirei falta de seu humor refinado, de suasobserva��es perspicazes, seu olhar sens�vel e suas obras surpreendentes e incr�veis, a talponto, que bastava um olhar para saber que o autor era ele. Nos conhec�amos desde aadolesc�ncia, vivi com ele a cria��o do Poesia Livre, com poemas que reuniam, emsaquinhos de supermercado, uma tribo de poetas que passou a transitar em torno desseastro luminoso, Guilherme Mansur. Testemunhei os amores desse homem t�o atraenteat� seu cora��o encontrar repouso na guardi� de livros, sua Catarina. Fui confidente solid�ria dos revezes da sua vida, que hoje me parece curta demais diante de suacriatividade fulgurante.Ele n�o foi apenas um tipoeta, mas um artista visual, compreendia as coisas do universo como letras, signos pulsantes. Fizemos, juntamente com Jorge dos Anjos, n�s tr�s, artistas de Ouro Preto da mesma gera��o, o pequeno livro “Caderno de Pele e de Pelo”, sobre gente e animais, com contos meus, grafismos de Jorge e os geniais bichos tipogr�ficos, do Guilherme. Nos divertimos a valer na sess�o de fotos para o convite surpresa, em que, por sugest�o do poeta, Germano Neto nos clicou com m�scaras: eu, de macaca, Jorge, de lobo, e o Gui, de le�o. Le�ozinho querido, parceiro de Leminski, Alice Ruiz, Guto Lacaz, Haroldo de Campos, Waly Salom�o… Iniciamos juntos o F�rum das Letras, ele criou a engenhosa voluta barroca, marca do evento: um papelvermelho, que se desenrola no vento. E o F�rum foi sempre vitrine e plataforma de lan�amento de suas inven��es, de chuvas de poesia a deslumbrantes exposi��es. Nas janelas de Ouro Preto tremularam as bandeiras de sua cartografia imagin�ria, que misturava pa�ses da �frica, Am�rica, �sia e Europa. Foi elogio � toler�ncia e � interculturalidade nesses tempos t�o tristes, em que milhares de imigrantes sofrem e muitas vezes morrem antes de alcan�ar a paz. Fizemos retrospectivas dos trabalhos de Guilherme Mansur e, com justi�a, o homenageamos no F�rum das Letras de 2018. Ele �o �nico a quem prestaremos tributo pela segunda vez nesta edi��o, a festa de seu retorno a Ouro Preto. Mas n�o deixa de ser essa celebra��o, pois ele nunca partiu, estar� sempre aqui, entre n�s. Te amamos, Guilherme!"

 

Guiomar de Grammont � escritora e curadora de eventos e exposi��es liter�rios,professora daUFOP. Criou o F�rum das Letras que chega � 18ª edi��o em 2023



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