
Ela conheceu Tancredo Neves (PMDB), Ulysses Guimar�es (PMDB), Fernando Collor de Melo (PTB), Luiz In�cio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT), A�cio Neves (PSDB), Jos� Sarney (PMDB), Antonio Anastasia (PSDB), Marina Silva (PV) e Itamar Franco (PPS). Todos em pleno local de trabalho. Atr�s do balc�o, servindo cafezinho, em um dos mais tradicionais pontos de encontro de pol�ticos na capital mineira, o Caf� Nice, S�nia Borges Moreira Gomes, de 54 anos, � personagem da cena pol�tica do pa�s. Em poucos minutos de conversa com Soninha, como � chamada pelos clientes, � f�cil perceber que ela entende do assunto. "Acabei aprendendo um pouco ouvindo as conversas aqui", confessa.
Nascida no Bairro Salgado Filho, Regi�o Oeste de Belo Horizonte, a balconista chegou ao caf� nos �ltimos anos da ditadura militar, em 1976, quando s� homens frequentavam o local. Soninha tinha 18 anos. A participa��o das mulheres na pol�tica cresceu, o movimento feminista ganhou for�a e o perfil dos clientes do caf� tamb�m mudou. Nas elei��es de 2010, num fato in�dito, Soninha atendeu duas fortes candidatas � Presid�ncia: Dilma e Marina Silva. "Tivemos de sair correndo pelo Centro da cidade para comprar um ch� de camomila para a Marina porque ela n�o toma caf�", conta. Ela diz que em dias de campanha o local fica cheio e � dificil conversar e at� ouvir o que os pol�ticos dizem. Apesar de n�o ter trocado palavras com Dilma, Soninha garante ter, de longe, percebido a for�a da presidente, que pediu a ela um caf� preto com ado�ante. "As mulheres s�o o sexo forte e n�o o fr�gil e a presidente est� mostrando isso na pol�tica. Eu, por exemplo, pago as minhas contas e cuido da casa sozinha", ressaltou.
Apesar de afirmar gostar muito de Dilma e do ex-presidente Lula, que para Soninha melhoraram a qualidade de vida dos pobres, � com A�cio Neves que a balconista queria tomar um caf�. Com a��car, como ele prefere. A�cio ia ao Caf� Nice todos os s�bados quando era deputado, acompanhado dos ex-ministros Leopoldo Bessone (PTB) – da Reforma de Desenvolvimento Agr�rio no governo Jos� Sarney – e Pimenta da Veiga (PSDB), das Comunica��es do governo Fernando Henrique Cardoso. Na �ltima elei��o, quando o tucano concorreu ao senado, Soninha apertou a m�o dele e disse que o queria na presid�ncia. A�cio respondeu: "N�o vou sair candidato dessa vez, mas na pr�xima vou concorrer � presid�ncia". Soninha conta que n�o era comum, na �poca de Tancredo, Ulysses e Collor os pol�ticos conversarem ou at� cumprimentarem as atendentes. "Isso mudou. Eles agora apertam a nossa m�o, �s vezes d�o uma palavrinha, um sorriso", compara.
Do lado de fora Soninha � vi�va e tem duas filhas, Carla, de 28 anos, e Sandra, que completa 25 hoje. Ela pega no batente �s 6:30h e deixa o servi�o �s 15h. Al�m de servir caf�, fica uma hora no caixa, durante a troca de turno dos chefes. A reportagem chegou quase na hora do almo�o, quando ela atendia um cliente. "Espere um pouco que converso com voc�s aqui mesmo. Deixa eu s� tomar o meu rem�dio (ela usa insulina para controlar o diabetes)", pediu. Um pouco desconfiada, como todo mineiro, Soninha s� se soltou depois de quase uma hora de entrevista quando voltou ao fundo do estabelecimento, tirou o uniforme e a touca e passou batom para tirar fotos.
A balconista contou que depois que tira a roupa do Caf� Nice tamb�m deixa os pol�ticos e a pol�tica para tr�s. "N�o acompanho muito de fora daqui", disse. Hoje, o parlamentar mais ass�duo – "frequenta diariamente o caf�" – � o vereador Alberto Rodrigues (PV), com quem ela gosta de conversar sobre futebol "Fala-se muito de pol�tica aqui. Tem muita gente que entende. �s vezes as discuss�es s�o acaloradas, quase sai briga", afirma, acrescentando que muitos assessores parlamentares se entregam ao debate depois de sorver o tradicional cafezinho.
Prata da casa
Na parede do Caf� Nice, entre fotos de ex-presidentes, ex-governadores e ex-prefeitos, destaca-se a imagem da ex-vereadora de Belo Horizonte Ana Paschoal (PT). Diferentemente das outras fotos, onde os pol�ticos aparecem tomando caf�, Ana est� atr�s do balc�o, de uniforme. Ela trabalhou no estabelecimento, que funciona h� 73 anos, de 1964 a 1970. Os ex-colegas contam que foi l� que Ana Paschoal come�ou a se interessar pela pol�tica e conheceu pessoas influentes no meio que a ajudaram a se candidatar � C�mara Municipal, onde foi vereadora de 2001 a 2008. Antes de assumir o cargo, com a ajuda de amigos que conheceu no caf�, Ana voltou a estudar e trabalhou em creches comunit�rias. Hoje ela � diretora da Ceasa Minas.