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Estado de Minas

Dia Internacional da Mulher: uma vida dedicada ao outro

H� 32 anos S�nia Bitencourt Vieira faz do cuidado com o ser humano o motivo de sua exist�ncia. In�meras crian�as, jovens e adultos encontram na jovial senhora o apoio para todas as horas


postado em 08/03/2012 06:00 / atualizado em 08/03/2012 11:15

Graças ao empenho de Sônia Bitencourt, várias gerações já passaram pelo Centro Educacional Maria Salomé(foto: Glaydston Rodrigues/EM/D.A Press)
Gra�as ao empenho de S�nia Bitencourt, v�rias gera��es j� passaram pelo Centro Educacional Maria Salom� (foto: Glaydston Rodrigues/EM/D.A Press)

Somos mais de 6 bilh�es de seres no planeta. Todos temos alguma necessidade especial. Se n�o � f�sica, � de ordem econ�mica, social, espiritual moral ou pol�tica. Quem nos socorre? Eventualmente, um amigo, uma amiga; o companheiro, a companheira; ou um parente. Isso eventualmente. E sempre, qualquer hora, em qualquer dia? S� as raras pessoas tamb�m especiais, que vivem o mundo de todo mundo. Indo atr�s de uma dessas raridades, encontramos S�nia Bitencourt Vieira, um senhora jovial de 71 anos, que, de t�o envolvida com o pr�ximo, precisou de um tempo para redescobrir a pr�pria identidade.

No universo de S�nia h� crian�as que chegaram a ela carentes de boa alimenta��o, educa��o e lazer; h� jovens e adultos necessitados de f�, calor humano e de orienta��o para se reencontrar ou para n�o cair em desespero diante das mazelas deste mundo. Vi�va, m�e de quatro filhos - tr�s mulheres e um homem -, com seis netos e um bisneto, n�o aparenta ter 71 anos e nem tem receio de revelar a idade. "Sem problema, estou na ativa." Dona de casa desde que se casou, sentiu, um dia, necessidade de ser �til n�o apenas � fam�lia. E foi atr�s de pessoas. "Eu sentia um vazio e precisava preench�-lo."

Ela mora numa casa modesta, mas agrad�vel, em Santa Luzia, Grande BH, com a cadela Mel e o irrequieto Chu�, cachorro de pouco mais de um quilo de ra�a indefinida, o guardi�o do quintal. "Os chamo de a dama e o vagabundo", diz com um agrad�vel sorriso. "Nasci em BH e morava no Barreiro. H� 44 anos, quando me mudei para Santa Luzia, senti essa vontade. Pensei: 'Deus n�o me criou para ser somente dona de casa'. E fui atr�s das pessoas, das mais necessitadas. Juntei crian�as e adultos. Nos encontr�vamos na rua mesmo e lev�vamos uma mensagem de consolo e de esperan�a. Aos poucos, foi chegando gente, chegando gente, e n�o demorou para formarmos um grupo de aux�lio."

Doa��o

Com tantas pessoas envolvidas, era preciso um espa�o digno para se reunir. Quatro anos depois, ou h� quatro d�cadas, nascia, no bairro luziense de Nossa Senhora das Gra�as, a Casa de Caridade Esp�rita Nosso Lar. S�nia � esp�rita, kardecista. O terreno, o marido, que era funcion�rio administrativo da Usiminas, comprou e pagou com sacrif�cio. O material foi doado e as paredes erguidas em mutir�o. Aos s�bados � servido um sop�o, das 9h �s 11h30, e h� reuni�es com as fam�lias. Al�m das mensagens, h� cursos, principalmente para gestantes. Durante a semana, as crian�as passam o dia na Creche Maria Salom�, no Bairro Boa Esperan�a. L�, elas t�m educa��o, orienta��o espiritual e c�vica, alimenta��o e lazer . "Ganhamos o im�vel em 1980, e novamente em mutir�o fizemos as adapta��es necess�rias. Hoje, cuidamos de mais de 80 crian�as."

Para atender o n�mero cada vez maior de pessoas, foram grupos de apoio com coordenadores e por pessoas treinadas. "Al�m disso, participo como volunt�ria de uma oficina de costura. Fazemos travesseiros, tapetes e outros utens�lios, tudo com material doado. Hoje meu universo espiritual � cheio de pessoas. Atendemos crian�as, filhas de pessoas que estiveram e que ainda est�o conosco. A gente recebe mais do que d�. Hoje eu me sinto viva, aquele vazio desapareceu. Na verdade, encontrei nas pessoas necessitadas o que eu precisava. Que bom encontrar uma pessoa na rua para nos dizer: 'Como me fez bem aquele presentinho que voc�s me deram quando nada tinha ou nada ganhava'."

Nancy dos Santos Torres, de 51, funcion�ria de uma academia em Santa Luzia, conhece bem as a��es de S�nia Bitencourt. "Tenho dois filhos, um de 30 anos e outro de 25, e uma filha de 21. Todos foram criados na creche de dona S�nia. � muito dif�cil para mim expressar o que ela representa. Na homenagem feita a ela h� pouco tempo na Casa de Caridade Esp�rita Nosso Lar, eles foram agradec�-la e ela chorou. Dona S�nia faz parte da minha fam�lia, da minha vida. Cada dia que ela vive � uma mensagem para mim."

Reencontro em Compostela

S�nia passou a se realizar no sorriso das pessoas que ajudou. Assim, aos poucos, foi perdendo a identidade. "Aos 58 anos, senti necessidade de me reencontrar, descobrir quem realmente era." Por meio de um genro, agente de viagens, soube que um padre recrutava volunt�rios para trabalhar como hospitaleira nos caminhos de Santiago de Compostela. S�nia enviou uma mensagem contendo seu perfil e foi aprovada. Com a ajuda do genro para custear a viagem, embarcou para a Espanha. Mas, em vez de se redescobrir, achou foi mais trabalho para ajudar o pr�ximo.

"N�o sei falar uma palavra de ingl�s. Mal, mal arranho um portunhol.Fiquei em uma das hospedarias, cozinhando e lavando para os peregrinos, e me sa� muito bem com alem�es, japoneses, gente de todas as partes do mundo. Em me comunicava com eles com as m�os, com o cora��o. O cora��o � universal." Foram dois meses de dedica��o. "Eles queriam que ficasse mais, mas meu marido e meus filhos n�o deixaram. N�o ficariam sem mim."

Quando fez 60 anos, S�nia resolveu voltar a Santiago de Compostela, dessa vez como peregrina. "De um percurso de 800 quil�metros, caminhei 780 e fiz o restante de �nibus porque n�o aguentava mais andar. A�, sim, me reencontrei. Descobri uma mulher alegre, com muita vontade de viver. Hoje, al�m de ajudar as pessoas, fa�o hidrogin�stica, toco teclado..." A for�a de S�nia vem da persist�ncia. "Se recebo uma m�e que sofre com um filho ou um marido drogado, digo a ela para n�o desistir nunca. E tenho exemplos de pessoas que se recuperaram porque n�o foram abandonadas".


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