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Estado de Minas

Documentos revelam detalhes da tortura sofrida por Dilma em Minas na ditadura

Em outubro de 2011, a mulher que usava codinome e que seria al�ada nove anos mais tarde ao posto de presidente do Brasil revelou em depoimento, at� agora in�dito, o sofrimento vivido nos por�es da ditadura em Minas


postado em 17/06/2012 07:05 / atualizado em 17/06/2012 16:18

A presidente Dilma Vana Rousseff foi torturada nos por�es da ditadura em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira, e n�o apenas em S�o Paulo e no Rio de Janeiro, como se pensava at� agora. Em Minas, ela foi colocada no pau de arara, apanhou de palmat�ria, levou choques e socos que causaram problemas graves na sua arcada dent�ria. � o que revelam documentos obtidos com exclusividade pelo Estado de Minas , que at� ent�o mofavam na �ltima sala do Conselho dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG). As instala��es do conselho ocupam o quinto andar do Edif�cio Maletta, no Centro de Belo Horizonte. Um tanto decadente, sujeito a inc�ndios e infiltra��es, o velho Maletta foi reduto da milit�ncia estudantil nas d�cadas de 1960 e 70.

(foto: Reprodução)
(foto: Reprodu��o)

Perdido entre caixas-arquivo de papel�o, empilhadas at� o teto, repousa o depoimento pessoal de Dilma, o �nico que mereceu uma c�pia xerox entre os mais de 700 processos de presos pol�ticos mineiros analisados pelo Conedh-MG. Pela primeira vez na hist�ria, vem � tona o testemunho de Dilma relatando todo o sofrimento vivido em Minas na pele da militante pol�tica de codinomes Estela, Stela, Vanda, Lu�za, Mariza e tamb�m Ana (menos conhecido, que ressurge neste processo mineiro). Ela contava ent�o com 22 anos e militava no setor estudantil do Comando de Liberta��o Nacional (Colina), que mais tarde se fundiria com a Vanguarda Popular Revolucion�ria (VPR), dando origem � VAR-Palmares.

As terr�veis sess�es de tortura enfrentadas pela ent�o jovem estudante subversiva j� foram ditas e repisadas ao longo dos �ltimos anos, mas os relatos sempre se referiam ao eixo Rio-S�o Paulo, envolvendo a Opera��o Bandeirantes, a temida Oban de S�o Paulo, e a cargeragem na capital fluminense. J� o epis�dio da tortura sofrida por Dilma em Minas, onde, segundo ela pr�pria, exerceu 90% de sua milit�ncia durante a ditadura, tinha ficado no esquecimento. At� agora.

Com a palavra, a presidente: “Algumas caracter�sticas da tortura. No in�cio, n�o tinha rotina. N�o se distinguia se era dia ou noite. Geralmente, o b�sico era o choque”. Ela continua: “(...) se o interrogat�rio � de longa dura��o, com interrogador experiente, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que n�o deixa rastro, s� te mina. Muitas vezes usava palmat�ria; usaram em mim muita palmat�ria. Em S�o Paulo, usaram pouco este ‘m�todo’”.


Bilhetes Dilma foi transferida em janeiro de 1972 para Juiz de Fora, ficando presa possivelmente no quartel da Pol�cia do Ex�rcito, a 4ª Companhia da PE. Nesse ponto do depoimento, falham as mem�rias do c�rcere de Dilma e ela crava apenas n�o ter sido levada ao Departamento de Ordem e Pol�tica Social (Dops) de BH. Como j� era presa antiga, a militante deveria ter ido a Juiz de Fora somente para ser ouvida pela auditoria da 4ª Circunscri��o Judici�ria Militar (CJM). Dilma pensou que, como havia ocorrido das outras vezes, estava vindo de S�o Paulo a Minas para a nova fase do julgamento no processo mineiro. Chegando a Juiz de Fora, por�m, ela afirma ter sido novamente torturada e submetida a p�ssimas condi��es carcer�rias, possivelmente por dois meses.

Nesse per�odo, foi mantida na clandestinidade e jogada em uma cela, onde permaneceu na maior parte do tempo sozinha e em outra na companhia de uma �nica presa, Terezinha, de identidade desconhecida. Dilma voltou a apanhar dos agentes da repress�o em Minas porque havia a suspeita de que Estela teria organizado, no fim de 1969, um plano para dar fuga a �ngelo Pezzuti, ex-companheiro da organiza��o Colina, que havia sido preso na ex-Col�nia Magalh�es Pinto, hoje Penitenci�ria de Neves. Os militares haviam conseguido interceptar bilhetinhos trocados entre Estela (Stela nos bilhetes, codinome de Dilma) e Cabral (�ngelo), contendo inclusive o croqui do mapa do pres�dio, desenhado � m�o (veja reprodu��es ao lado).

Seja por discri��o ou por precau��o, Dilma sempre evitou falar sobre a tortura. N�o consta o depoimento dela nos arquivos do grupo Tortura Nunca Mais, nem no livro Mulheres que foram � luta armada, de Luiz Maklouf, de 1998. S� mais tarde, em 2003, ele conseguiria que Dilma contasse detalhes sobre a tortura que sofrera nas pris�es do Rio e de S�o Paulo. Em 2005, trechos da entrevista foram publicados. Naquela �poca, a ent�o ministra acabava de ser indicada para ocupar a Casa Civil.

O relato pessoal de Dilma, que agora se torna p�blico, � anterior a isso. Data de 25 de outubro de 2001, quando ela ainda era secret�ria das Minas e Energia no Rio Grande do Sul, filiada ao PDT e nem sonhava em ocupar a cadeira da Presid�ncia da Rep�blica. Diante do jovem fil�sofo Robson S�vio, que atuava na coordena��o da Comiss�o Estadual de Indeniza��o �s V�timas de Tortura (Ceivt) do Conedh-MG, sem remunera��o, Dilma revelou pormenores das sess�es de humilha��o sofridas em Minas. “O estresse � feroz, inimagin�vel. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solid�o. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente pelo resto da vida”, disse.

Humilde Apesar de ser ainda apenas a secret�ria das Minas e Energia, a postura de Dilma impressionou Robson: “A secret�ria tinha fama de durona. Ela j� chegou ao corredor com um jeito impositivo, firme, muito decidida. � medida que foi contando os fatos no seu depoimento, ela foi se emocionando. N�s interrompemos o depoimento e ela deixou a sala com uma postura diferente em rela��o ao momento em que entrou. Saiu cabisbaixa”, conta ele, que teve tr�s dias de prazo para colher sete depoimentos na capital ga�cha. Na avalia��o de Robson, Dilma teve uma postura humilde para a �poca ao concordar em prestar depoimento perante a comiss�o. “Com ou sem o depoimento dela, a comiss�o iria aprovar a indeniza��o de qualquer jeito, porque j� tinha provas suficientes. Mas a gente insistia em colher os testemunhos, pois tinha a no��o de estar fazendo algo hist�rico”, afirma o fil�sofo.


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