
Dilma chorou. Essa � uma das lembran�as mais vivas na mem�ria do fil�sofo Robson S�vio, que, ao lado de outra volunt�ria do Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG), foi ao Rio Grande do Sul coletar o testemunho da ent�o secret�ria das Minas e Energia daquele estado sobre a tortura que sofrera nos anos de chumbo. Com fama de durona, a ent�o moradora do Bairro da Tristeza, em Porto Alegre, tirou a m�scara e voltou a ter 22 anos. Revelou, em primeira m�o, que as torturas f�sicas em Juiz de Fora foram acrescidas de amea�as de dano f�sico deformador: “Geralmente me amea�avam de ferimentos na face”.
N�o eram somente amea�as. Segundo fez constar no depoimento pessoal, Dilma revelou, pela primeira vez, ter levado socos no maxilar, que podem explicar o motivo de a presidente ter os dentes levemente projetados para fora. “Minha arcada girou para o lado, me causando problemas at� hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu”, disse. Para passar a dor de dente, ela tomava Novalgina em gotas, de vez em quando, na pris�o. “S� mais tarde, quando voltei para S�o Paulo, o Albernaz (o implac�vel capit�o Alberto Albernaz, do DOI-Codi de S�o Paulo) completou o servi�o com um soco, arrancando o dente”, completou.
Fuga pela Rua Goi�s
“Eu comecei a ser procurada em Minas nos dias seguintes � pris�o de �ngelo Pezzuti. Eu morava no Edif�cio Solar, com meu marido, Cl�udio Galeno de Magalh�es Linhares, e numa noite, no fim de dezembro de 1968, o apartamento foi cercado e conseguimos fugir, na madrugada. O porteiro disse aos policiais do Dops de Minas que n�o est�vamos em casa. Fugimos pela garagem que d� para a rua do fundo, a Rua Goi�s.”
Liga��es com �ngelo
“Fui interrogada dentro da Opera��o Bandeirantes (Oban) por policiais mineiros que interrogavam sobre processo na auditoria de Juiz de Fora e estavam muito interessados em saber meus contatos com �ngelo Pezzuti, que, segundo eles, j� preso, mantinha comigo um conjunto de contatos para que eu viabilizasse sua fuga. Eu n�o tinha a menor ideia do que se tratava, pois tinha sa�do de BH no in�cio de 69 e isso era no in�cio de 70. Desconhecia as tentativas de fuga de Pezzuti, mas eles supuseram que se tratava de uma mentira. Talvez uma das coisas mais dif�ceis de voc� ser no interrogat�rio � inocente. Voc� n�o sabe nem do que se trata.”
Dente podre
“Uma das coisas que me aconteceu naquela �poca � que meu dente come�ou a cair e s� foi derrubado posteriormente pela Oban. Minha arcada girou para o lado, me causando problemas at� hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu. Tomava de vez em quando Novalgina em gotas para passar a dor. S� mais tarde, quando voltei para S�o Paulo, o Albernaz completou o servi�o com um soco, arrancando o dente.”
Pau de arara
“...algumas caracter�sticas da tortura. No in�cio, n�o tinha rotina. N�o se distinguia se era dia ou noite. O interrogat�rio come�ava. Geralmente, o b�sico era choque. Come�ava assim: ‘Em 1968 o que voc� estava fazendo?’ e acabava no �ngelo Pezzuti e sua fuga, ganhando intensidade, com sess�es de pau de arara, o que a gente n�o aguenta muito tempo.”
Palmat�ria
“Se o interrogat�rio � de longa dura��o, com interrogador ‘experiente’, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que n�o deixa rastro, s� te mina. Muitas vezes tamb�m usava palmat�ria; usava em mim muita palmat�ria. Em S�o Paulo usaram pouco esse ‘m�todo’. No fim, quando estava para ir embora, come�ou uma rotina. No in�cio, n�o tinha hora. Era de dia e de noite. Emagreci muito, pois n�o me alimentava direito.”
Local da tortura
“Acredito hoje ter sido por isso que fui levada no dia 18 de maio de 1970 para Minas Gerais, especificamente para Juiz de Fora, sob a alega��o de que ia prestar esclarecimentos no processo que ocorria na 4ª CJM. Mas, depois do depoimento, eu fui levada (ou melhor, teria de ser levada para S�o Paulo), mas fui colocada num local (encapuzada) que sobre ele tinha v�rias suposi��es: ou era uma instala��o do Ex�rcito ou Delegacia de Pol�cia. Mas acho que n�o era do Ex�rcito, pois depois estive no QG do Ex�rcito e n�o era l�.”
“Nesse lugar fiquei sendo interrogada sistematicamente. N�o era sobretudo sobre minha milit�ncia em Minas. Supuseram que, tendo apreendido documentos do �ngelo (Pezzutti) que integram o processo, achavam que nossa organiza��o tinha contatos com as pol�cias Militar ou Civil mineiras que possibilitassem fugas de presos. Acredito ter sido por isso que a tortura foi muito intensa, pois n�o era presa recente; n�o tinha ‘pontos’ e ‘aparelhos’ para entregar.”