O olhar triste, a voz embargada e as m�os tr�mulas s�o marcas do sofrimento de Maria Rita Apolin�rio, ao falar do irm�o Jo�o Batista Rita, desaparecido h� 39 anos, v�tima da Opera��o Condor, a��o que reuniu seis pa�ses sul-americanos, inclusive o Brasil, com o intuito de reprimir os opositores �s ditaduras militares.
“O Jo�o era tudo de bom. Ele era extremamente cavalheiro com as mulheres, adorava crian�as, adorava cachorro. Ele era bom, inteligente, queria que a gente estudasse, que a gente fosse algu�m”, diz Maria Rita, com rosto em l�grimas.
M�rio Marcos de Souza, jornalista, relembra hist�rias com o amigo de inf�ncia: “A minha rua era de terra batida em Crici�ma, na chamada Vila Oper�ria, com uma fila de casinhas todas iguais, de madeira, de quatro pe�as, feitas apenas para trabalhadores e n�s mor�vamos em uma daquelas. No fim dessa rua, tinha a casa do m�dico, onde o pai do Jo�o Batista era caseiro, e [os donos da casa] tinham um filho da idade dele. N�s tr�s conviv�amos muito, brinc�vamos de bola nos terrenos da redondeza, corr�amos pela rua, jog�vamos bolinha de gude, convers�vamos e estud�vamos juntos, �ramos amigos de inf�ncia.”
Depois, Jo�o Batista seguiu para Porto Alegre para estudar. Foi ent�o que ele ingressou no movimento pol�tico de esquerda M3G – Marx, Mao, Marighella. O irm�o Romilton Rita conta o medo que Jo�o tinha de expor a fam�lia por ter se tornado um militante de esquerda na �poca. “Quando ele vinha visitar fam�lia aqui, vinha no fim de semana e chegava no meio da madrugada. Nunca dizia o nome quando batia na porta. Ele batia na porta e n�o dizia que era o Jo�o. Ele falava com voz alterada […]. Ele achava que podia ter algu�m na rua esperando ele chegar para visitar a fam�lia.”
Em 1970, Jo�o Batista foi preso ap�s tentativa frustrada do sequestro do ent�o c�nsul norte-americano na capital ga�cha. No ano seguinte, fez parte do grupo de militantes pol�ticos libertado em troca de um embaixador su��o que havia sido sequestrado. Em seguida, recebeu asilo pol�tico no Chile. Quando o presidente chileno Salvador Allende � deposto, em 1973, Jo�o fugiu para a Argentina. Na capital argentina, Buenos Aires, desapareceu junto com o ex-major Joaquim Pires Cerveira, tamb�m militante do movimento de esquerda. Os dois s�o considerados v�timas da Opera��o Condor. Desde ent�o, as fam�lias nunca mais tiveram not�cias dos dois.
Segundo o presidente do Movimento de Justi�a e Direitos Humanos, Jair Krischke, ainda pairam d�vidas sobre o desaparecimento de 13 brasileiros fora do pa�s, por causa da Condor. O n�mero � reconhecido pelo governo federal. “Todos foram v�timas. Porque se pode ver por meio de documentos como eram monitorados.”
Para Maria Rita, a falta de respostas sobre o que aconteceu com o irm�o � um de seus maiores sofrimentos. “A gente precisa ter um final, um corpo, saber o que aconteceu, ter um retorno disso. A gente n�o tem. O que d�i � que ele deu a vida pela democracia, e ficou por isso. At� hoje a gente n�o tem um corpo para chorar, n�o sabe o que aconteceu.”
