A luta para conhecer o paradeiro de uma irm� e dois sobrinhos presos durante o regime militar contada por �ngela Pezzuti emocionou desde antigos colegas de milit�ncia pol�tica – que j� conhecem bem sua hist�ria – at� estudantes secundaristas que ouviram pela primeira vez o relato de algu�m que viveu de perto a repress�o. Nessa segunda-feira, em audi�ncia p�blica da Comiss�o Nacional da Verdade (CNV) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) o depoimento da aposentada foi um dos pontos altos do encontro, que reuniu ex-estudantes da institui��o v�timas da ditadura, familiares que sofreram viola��es de direitos humanos e alunos da universidade e de outras escolas mineiras.
O depoimento foi o que mais chamou a aten��o das estudantes J�lia Linhares e Fernanda Dutra, alunas do 3º ano do Col�gio Santo Ant�nio, que foram � audi�ncia. “Essa agonia de n�o saber o que aconteceu com pessoas de que voc� gosta, n�o saber nem mesmo se est�o vivos ou mortos, � uma coisa terr�vel. Talvez ainda existam muitos casos que ningu�m conhece e que precisam ser melhor investigados”, questiona Fernanda. Sua colega J�lia, tamb�m apontou o depoimento de �ngela Pezzuti como o mais emocionante. “S�o hist�rias pesadas. Como gosto muito de hist�ria e me interesso pelo assunto, n�o poderia deixar de acompanhar de perto o trabalho desse grupo aqui em Minas”, disse.
O tom emocional come�ou na homenagem feita na abertura, quando imagens de 11 estudantes mineiros mortos ou desaparecidos durante o regime militar receberam aplausos e gritos de agradecimentos dos estudantes presentes. Em seguida, Rosa Maria Cardoso, integrande da CNV, apresentou os trabalhos que est�o sendo feitos pelo grupo desde sua cria��o em maio e destacou a import�ncia da participa��o da sociedade para a constru��o do material final da comiss�o que ser� entregue em maio de 2014. “Viemos para uma audi�ncia tem�tica para ouvir e debater a viol�ncia vivida dentros das universidades, contra estudantes, funcion�rios e professores. � uma das nossas frentes de trabalho que ajuda a construir esse nosso passado, ao lado da sociedade civil e das institui��es. A outra frente est� em andamento com nossos grupos de trabalho, com levantamento de informa��es sobre temas espec�ficos como os fatos no Araguaia, os locais e aparelhos de repress�o e os mortos e desaparecidos”, explicou Rosa.
Memoriais
Hoje, os integrantes da comiss�o – al�m de Rosa Cardoso, est�o na capital mineira Jos� Carlos Dias e Maria Rita Kehl – se encontram com representantes da sociedade civil na sede da se��o mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) para solicitar que os pr�dios utilizados pelo regime militar no estado sejam transformados em memoriais, como � o caso da sede do Dops, na Avenida Afonso Pena. A entidade assinou ontem um conv�nio com a CNV para participar na troca de informa��es e de arquivos reunidos no estado. Depois, os representantes da comiss�o ser�o recebidos para um almo�o pelo governador Antonio Anastasia (PSDB). Um dos temas em discuss�o � a parceria j� em andamento para a digitaliza��o do acervo do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Conedh), que recentemente revelou documentos at� ent�o desconhecidos sobre locais de tortura usados pelos militares durante o per�odo.
V�nculo com dilma
�ngelo Pezzuti da Silva, filho de �ngela, foi um dos l�deres do Comando de Liberta��o Nacional (Colina), grupo de combate � ditadura que a presidente Dilma Rousseff fez parte, quando morava em Belo Horizonte. As liga��es dela com Pezzutti foram os principais motivos da tortura que a presidente sofreu em Juiz de Fora, conforme revelado pela s�rie de reportagens A tortura de Estela contada por Dilma, publicada pelo Estado de Minas e finalista do Pr�mio Esso de Jornalismo. “N�o era sobretudo sobre minha milit�ncia em Minas Gerais. Supuseram que, tendo apreendido documentos do �ngelo (Pezzuti) que integram o processo, achavam que nossa organiza��o tinha contatos com a PM ou PC mineira que possibilitassem fugas de presos. Acredito ter sido por isso que a tortura foi muito intensa, pois n�o era presa recente; n�o tinha ‘pontos’ e ‘aparelhos’ para entregar”, conta Dilma em parte do depoimento revelado pelo EM. Um dossi� encontrado no Arquivo Nacional, em Bras�lia, guarda um depoimento de Pezzuti, que confirma ter escrito um bilhete solicitando a Dilma ajuda para fugir da pris�o.