
Recha�ados das manifesta��es que pipocam pelo Brasil desde a semana passada, os pol�ticos e seus partidos est�o buscando uma alternativa para pegar carona nas reivindica��es dos movimentos, seja criticando ou simplesmente apoiando, de longe. Para isso, sites oficiais das legendas e as redes sociais t�m sido os instrumentos mais eficazes para se aproximar dos manifestantes que, por mais de uma vez, recusaram a participa��o partid�ria no movimento. E n�o falta criatividade. O prefeito Get�lio Neiva (PMDB), de Te�filo Otoni, no Vale do Mucuri, por exemplo, usou o site oficial do Executivo municipal para postar uma carta aos moradores da cidade, n�o apenas convocando para a manifesta��o, mas demonstraNdo apoio irrestrito ao movimento. E n�o ficou s� nisso. Neiva inovou e solicitou � banda de m�sica da Pol�cia Militar que se colocasse � disposi��o dos manifestantes. “Torno p�blico o meu apoio irrestrito � manifesta��o popular, convocada atrav�s das redes sociais, incluindo Te�filo Otoni no roteiro nacional de reivindica��es. Considero esses atos como formas leg�timas e democr�ticas dE o povo se manifestar”.
Apesar do apoio, Neiva n�o se esqueceu de pedir tamb�m que n�o houvesse ato de vandalismo e colocou o efetivo das pol�cias Civil e Militar para assegurar a tranquilidade na passeata. Ela reuniu cerca de 4,3 mil pessoas para reivindicar melhoria do transporte p�blico e a volta do restaurante popular. Tudo terminou ao som do hino nacional, tocado pela banda militar e cantado pela multid�o.
Mas Neiva n�o ficou sozinho. Seguindo nessa linha, ontem, os deputados federais do Rio de Janeiro Chico Alencar (PSOL), Edson Santos (PT), Jean Willis (PSOL), Glauber Braga (PSB), Jandira Feghali (PCdoB) e Jorge Bittar (PT) postaram no Facebook uma Carta aos Manifestantes, por meio da qual demonstraram apoio aos protestos. Um apoio que poderia ser resumido em apenas uma frase: “Voc�s nos representam”. N�o faltaram tamb�m elogios. Os parlamentares afirmaram ainda: “Temos orgulho de nossos mandatos pol�ticos e queremos coloc�-los � disposi��o das justas demandas por transportes p�blicos eficientes, redu��o das tarifas, educa��o e sa�de p�blica de qualidade, �tica na pol�tica, transpar�ncia e prioridade social nos or�amentos p�blicos”.
Compromisso
E se faltam discursos de pol�ticos nos protestos, eles lotaram a internet. V�rios partidos postaram em seus sites oficiais manifesta��o de apoio aos protestos, apesar de as interpreta��es dos atos assumirem os tons das tend�ncias pol�ticas de cada agremia��o. Em nota, o PPS – oposi��o ao governo petista – divulgou nota afirmando que os protestos “demonstram fundamentalmente uma insatisfa��o generalizada com a volta da infla��o, com o mau uso dos recursos p�blicos, com a corrup��o e com a precariedade das pol�ticas p�blicas gra�as a um governo inepto e incompetente”. Por sua vez, o PSB – que continua na base de Dilma, mas ensaia um voo solo de olho na Presid�ncia da Rep�blica – destacou em sua p�gina discurso do senador Rodrigo Rollemberg, que ocupou a tribuna para exaltar a mobiliza��o popular e advertir ao governo: “Importante registrar que n�o devemos simplificar ou reduzir o significado dessas manifesta��es. Eu diria que todos n�s – quem est� no governo, quem � parlamentar, quem est� na oposi��o –, se soubermos fazer a leitura correta dessas manifesta��es, certamente poderemos dar uma contribui��o maior para que o pa�s d� um salto qualitativo e ingresse numa nova era”, afirmou.
O grito das ruas acordou tamb�m o ex-governador de S�o Paulo Jos� Serra (PSDB), que deixou de ser presen�a constante no microblog Twitter, desde a sua �ltima candidatura. “Em todo o pa�s, al�m dos pleitos locais espec�ficos, h� desesperan�a e satura��o. Os jovens est�o certos, � preciso mudar o Brasil”, escreveu Serra, que n�o perdeu a oportunidade de cutucar o prefeito petista Fernando Haddad. “Aqui em S�o Paulo, promessas de campanha, como baratear tarifas e fazer o bilhete �nico mensal, mostraram-se verdadeiras farsas”. O vereador de Belo Horizonte Iran Barbosa (PMDB), que participou das manifesta��es, foi criticado tamb�m no microblog pela ousadia e teve que se defender: “Amigo, n�o vejo como aparecer em meio a 50 mil pessoas. Participo e apoio, sim, o movimento porque, como voc�, tamb�m sou cidad�o”.
Representatividade perdida
Bertha Maakaroun
A exemplo do que ocorreu no Movimiento 15 M, em maio de 2011 na Espanha, onde jovens que ficaram conhecidos como los indignados tomaram pra�as e ruas do pa�s para protestar contra o dom�nio dos bancos e corpora��es econ�micas dentro do sistema democr�tico, no Brasil as manifesta��es n�o t�m l�deres, o que torna a negocia��o dif�cil, e denotam profunda insatisfa��o com as institui��es, al�m de alto grau de desconfian�a em rela��o aos partidos pol�ticos. As cr�ticas s�o duras em rela��o ao distanciamento das legendas da sociedade. Esses jovens n�o se sentem representados pelos partidos.
A avalia��o � de Helcimara Telles, coordenadora do grupo de pesquisa de opini�o p�blica do Departamento de Ci�ncia Pol�tica da UFMG, que viveu os dois �ltimos anos na Espanha. “Com a expans�o da escolariza��o nas democracias mais avan�adas, h� um desalinhamento do eleitor mais jovem e escolarizado com os partidos. Os partidos n�o conseguem mobilizar esses eleitores”, avalia a cientista pol�tica. “Se n�o h� v�nculos com partidos, que s�o os canais de representa��o, surgem ent�o os movimentos espont�neos, dos sem-l�deres, com pautas econ�micas e sociais heterog�neas”, explica ela.
Do passe livre �s reivindica��es por mais sa�de, mais educa��o, passando por valores que se chocam no seio do movimento: h� a defesa do aborto, das rela��es homoafetivas e os grupos que combatem de maneira ferrenha essa pauta. A reboque, s�o inclu�dos temas aleat�rios, como a PEC 37 – que coloca no Congresso Nacional em linha de confronto Minist�rio P�blico e delegados de pol�cia –, al�m da PEC 300, que trata de reajuste para policiais militares, civis e bombeiros, entre outros temas.
Na Espanha, o movimento fragmentou o sistema partid�rio, atingindo em cheio os dois principais partidos – o Partido Socialista Oper�rio Espanhol (PSOE), � esquerda, e � direita, o Partido Popular, sucessor da antiga Alian�a Popular. “Novas for�as surgiram, como o partido da Esquerda Unida e mesmo partidos mais nacionalistas”, afirma Helcimara. No Brasil, contudo, segundo ela, em alguma medida essa fragmenta��o partid�ria ocorre desde as elei��es do ano passado, com um grande crescimento dos chamados partidos nanicos. “Isso nos remete �s elei��es de 2010. O novo comportamento pol�tico no Brasil que aflora em 2010, para al�m dos partidos pol�ticos, aponta o trip� ‘internautas, verdes e pentecostais’”, avalia a cientista pol�tica. Ou seja, a nova gera��o de internautas, que tem nas redes sociais um canal facilitador para a circula��o de informa��es, agrega um contingente de eleitores com valores p�s-modernos, como a defesa do meio ambiente, mas tamb�m um segmento consider�vel de eleitores com um c�digo de valores religiosos. “O que h� de comum com esse eleitor de pauta mais religiosa e pauta p�s-moderna? O profundo descontentamento com os partidos tradicionais”, afirma Helcimara Telles.