
Quem contou ao vereador o que o legista viu foi o jornalista aposentado Wanderley Midei, que fez a cobertura do caso, em 1976, e entrevistou um m�dico que teve acesso � necr�psia de Ribeiro. Segundo ele, o legista contou que constatou um buraco no lado esquerdo do cr�nio do motorista. A nova linha de investiga��o sustenta a tese de que um tiro teria atingido a cabe�a de Ribeiro, o que explicaria o fato de o carro, que trafegava em dire��o ao Rio de Janeiro, ter se desgovernado e ido para pista oposta, chocando-se de frente com uma carreta Scania Vabis, de Santa Catarina.
“Abaixo de Deus, quem viu JK morrer fui eu”, relatou Josias, chorando, ao se lembrar que presenciou os �ltimos suspiros de um dos presidentes da Rep�blica mais populares da hist�ria brasileira. “Depois disso, minha vida acabou. Simularam tinta do ve�culo em que estava o ex-presidente na lataria do �nibus e, com isso, fui indiciado pelo acidente”, disse. Josias foi absolvido, mas a sua vida sofreu um baque. “Eu tinha 33 anos. Cinco anos depois pedi demiss�o e n�o consegui mais emprego”, relatou ele, que depois de fazer diversos bicos e vagar longe da fam�lia, vive hoje num asilo em Indaiatuba, S�o Paulo, com uma aposentadoria de R$ 997.
Josias repetiu em seu depoimento o que havia dito � Comiss�o da Verdade da C�mara Municipal de S�o Paulo, relatando ter sido procurado em casa por homens que carregavam uma mala de dinheiro, propondo a ele que assumisse o suposto choque entre o �nibus e o Opala. “N�o aceitei. Eles levaram 40 minutos pedindo para eu falar que era culpado. Minha cunhada morava comigo e foi se aproximando quando viu o dinheiro. A mandei voltar para tr�s na hora”, afirmou o motorista, que revelou ter enfrentado a press�o do delegado respons�vel pelo caso que tentou convenc�-lo de que seria melhor se dissesse que havia causado o desastre.
Exuma��o
A comiss�o da C�mara paulistana investiga a tese de que o carro de JK se desgovernou depois de o motorista ser atingido na cabe�a por um proj�til, denominado batente, de fabrica��o e uso exclusivo das For�as Armadas. O grupo pediu � Justi�a de Minas nova exuma��o dos restos mortais de Geraldo Ribeiro, depois que a primeira, feita em 1996, concluiu que se tratava de um prego solto do caix�o. O deputado Durval �ngelo (PT), autor do requerimento para a audi�ncia de ontem, acredita que o laudo foi fraudado. “Vamos requerer da Comiss�o da Verdade uma audi�ncia p�blica em Diamantina, com a presen�a do legista que viu a aut�psia de Geraldo Ribeiro, e declarar o assassinato de JK”, afirmou Durval. Ele quer que o Estado brasileiro fa�a um pedido formal de desculpas ao motorista e lhe d� compensa��o financeira na forma de corre��o da sua aposentadoria por invalidez. “Nada paga o que passei”, disse Josias.
Mem�ria
Raz�es para o suposto atentado
O contexto pol�tico da �poca da morte de JK favorece a tese do atentado pol�tico. Dois anos antes do acidente, ele havia recuperado os direitos pol�ticos cassados logo ap�s o golpe militar de 1964, quando era senador por Goi�s. JK era percebido como amea�a por setores da linha dura do regime, resistentes � reabertura pol�tica. Vigorava a Opera��o Condor, a��o conjunta de governos militares do Cone Sul para minar a oposi��o democr�tica. Corrobora esse clima uma carta do coronel chileno Manuel Contreras enviada em 1975 ao general Figueiredo, que era chefe do Servi�o Nacional de Informa��es. Contreras tratava da possibilidade da vit�ria democrata nos Estados Unidos como uma amea�a � estabilidade no Cone Sul, uma vez que JK poderia ser apoiado por aquele partido norte-americano, assim como Orlando Letelier, ex-ministro do Exterior do governo chileno de Salvador Allende. Um ano depois, Letalier foi assassinado em Washington, em atentado atribu�do aos agentes chilenos da Direcci�n de Inteligencia Nacional (Dina). Al�m do acidente que matou JK em 1976, em dezembro daquele mesmo ano morreu o ex-presidente Jo�o Goulart, de ataque card�aco, e pouco meses depois, Carlos Lacerda, apoiador arrependido do golpe de 1964, que, ao lado de JK e Goulart, formava a Frente Ampla pela redemocratiza��o do pa�s.