(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Estudantes em Minas passam dificuldades para 'ser algu�m na vida'


postado em 12/05/2014 00:12 / atualizado em 12/05/2014 15:10

Hora da merenda, primeira refeição de Victor(foto: Solon Queiroz/Esp. EM/D.A Press)
Hora da merenda, primeira refei��o de Victor (foto: Solon Queiroz/Esp. EM/D.A Press)
Ser algu�m na vida. Esta � raz�o encoraja alunos da zona rural de Buritizeiro acordarem �s 3h da madrugada para enfrentarem uma dura jornada at� a escola, encarando �nibus e estradas em m�s condi��es. “Quero ser algu�m na vida, ser veterin�rio”, diz Victor Leonardo Rodrigues Gomes, de 11 anos, aluno do sexto ano do ensino fundamental, entrevistado enquanto segurava a mochila, ainda no meio da escurid�o, na Fazenda Chaparral.

Victor n�o reclamou do fato de sair de casa sem se alimentar e disse que
tamb�m “n�o gosta muito” de merendar na escola. Assim – disse, tem dia que
passa 12 horas sem comer, almo�ando �s 15 horas, quando retorna para a casa.
A reclama��o dele � contra o desconforto da viagem at� Buritizeiro. “Na estrada faz muito frio. As janelas do �nibus se abrem  sozinhas  e entra poeira.Os bancos s�o muitos duros e isso dificulta para a gente dormir”, lamenta. “Na escola, a gente fica com um pouco de sono”, completa.

Flabert Aparecido Coutinho Santos, de 15, o irm�o mais velho de Victor, tamb�m reclama das dificuldades para estudar. “Dentro do �nibus a gente n�o dorme direito. Entra muita poeira”, diz, salientando que fica muito cansado durante as viagens. Matriculado no nono ano do ensino fundamental, Flabert acrescenta que,ao sair de casa e tamb�m na escola evita se alimentar, “para n�o ficar enjoado dentro do �nibus”. Ele disse que n�o tem parentes na cidade e por isso � obrigado a viajar todos os dias. O motivo de enfrentar tanto sacrif�cio: “quero fazer engenharia civil”.

Irm�o de Flabert e Victor, o garoto Fagner Santos Coutinho, de 13, matriculado no sexto ano, com  timidez, falou pouco sobre  a luta que enfrenta para chegar a escola. Contudo, reclamou que, as vezes, o �nibus quebra e demora a fazer a viagem de volta ap�s a aula, que termina �s 11 horas. Quando isso ocorre, os alunos sofrem mais ainda, ficando sem alimenta��o. “�s vezes, compro uma pipoca em barzinho perto da escola”, relata Fagner, explicando como consegue “driblar” a fome. Ele disse que ainda n�o sabe que profiss�o pretende seguir.



Tamb�m morador da Fazenda Chaparral, Breno Carvalho Soares, de 12, do s�timo ano e integrante de uma fam�lia de sete irm�os, informa que acorda entre dois e meia e da madrugada para chegar o �nibus que vai lev�-lo a escola na cidade. Ele disse que toma caf� antes da viagem e que, de vez em quando, leva uma fruta na mochila. “Realmente, o hor�rio � muito puxado”, diz Breno, que sonha em ser veterin�rio.

J� Gesiele Nascimento da Silva, de 18 anos, estudante do terceiro ano do ensino fundamental, moradora da comunidade de Xup�, acorda �s 3h45min e retorna quando aproxima de 3 da tarde. N�o se alimenta antes de pegar a estrada, tendo que esperar pela merenda, servida �s 9h30min na escola. “O sacrif�cio vai valer a pena para o sucesso do meu futuro. Pretendo me formar em engenheira mecatr�nica ou advogada”, garante Gesiele.

O motorista do �nibus, Paulo Rodrigues dos Santos, de 50, tamb�m encara sacrif�cio. Ele pernoita na Fazenda Chaparral e  inicia o trabalho �s tr�s da manh�. Precisa de habilidade para atravessar rios e superar os buracos no meio do caminho. “Me sinto com muita responsabilidade por transportar as crian�as. Acho que elas fazem muita for�a para estudar e esse esfor�o vai valer a pena”, diz Paulo, que, antes foi caminhoneiro por mais de 20 anos.

Palavra de especialista

Maria Cleonice Mendes, professora e mestre em
Educa��o, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

O sacrif�cio de ter que acordar de madrugada e encarar o desconforto – ou a gonia – de �nibus caindo aos peda�os e estradas de terra mal conservadas – dificulta o aprendizado dos alunos. A opini�o � da professora Maria Cleonice Mendes de Souza, “A situa��o desses alunos que acordam antes de quatro da madrugada e v�o para escola sem receber nenhuma alimenta��o � uma coisa impiedosa. � claro que isso dificulta o aprendizado. Mas n�o podemos usar isso como desculpa para n�o educar esses alunos. Os professores precisam ter um preparo psicol�gico para receber esse tipo de situa��o”, afirma a especialista. “Esses alunos j� chegam � escola desmotivados. Ent�o, os professores devem  estimul�-los. N�o podemos ficar apenas assistindo um
ritual desse como se fosse um teatro. O nossos sistema educacional � falho por permitir uma situa��o dessa. � preciso melhorar as condi��es das escolas e tamb�m assegurar aos professores condi��es para reverter o quadro”, observa Maria Cleonice Mendes.

PREFEITURA CULPA EXTENS�O TERRITORIAL A grande extens�o territorial do munic�pio, a disponibilidade de poucas escolas rurais  e limita��o de recursos s�o os motivos alegados pela prefeitura de Buritizeiro pelo fato de alunos da zona rural serem obrigados acordar de madrugada e enfrentar longas viagens para chegar � escola.
Situa��o semelhante ocorre em outros munic�pios de grande extens�o
territorial.

O  chefe de Gabinete da Prefeitura de Buritizeiro, Or�genes Pereira, alega que � o terceiro maior em extens�o territorial de Minas Gerais ,  com 7.225 km2, e  conta somente com tr�s distritos (Samba�ba, Cachoeira da Manteiga e Pared�o de Minas), onde existem escolas de ensino fundamental e  m�dio.

Lembra que existem alunos em �reas isoladas, longe da sede ou dos distritos, como a Fazenda Chaparral, visitada pela reportagem. “Mas, o n�mero de alunos desses locais � pequeno e tem como o munic�pio criar escolas para atender uma quantidade pequena de alunos. Para colocar todo mundo na escola, temos que recorrer ao transporte escolar’, observa o representante da prefeitura.

Ele disse que, por causa da grande extens�o territorial, os ve�culos do transporte escolar de Buritizeiro rodam 4.053 quil�metros por dia, sendo mantidas 43 linhas. Or�genes Pereira salientou ainda que, em algumas s�ries, as escolas do munic�pio s� oferecem aulas no turno da manh�, o que gera a situa��o em que os alunos de comunidades rurais s�o obrigados a acordar no meio da madrugada para pegar a estrada rumo � sala de aula. O chefe de gabinete disse ainda que somente com o transporte escolar a prefeitura gasta cerca de R$ 2 milh�es por ano, recebendo contrapartida dos governos
Estadual e Federal muito inferior ao custo do servi�o, o que tamb�m ocorre com a merenda, disse. “Aplicamos na educa��o muito mais do que 25% exigidos por lei, mas o que recebemos dos governos � pouco”, disse.

SITUA��O EM OUTROS MUNIC�PIOS
Jo�o Pinheiro (Noroeste do estado),de 45,6 mil habitantes, o maior munic�pio em extens�o territorial de Minas (e 12º do Brasil), com 10.717 Km2, tamb�m enfrenta dificuldades para manuten��o do transporte escolar. Segundo o secret�rio de Educa��o de Jo�o Pinheiro, Sebasti�o Menezes, os ve�culos das 56 linhas do transporte escolar do munic�pio percorrem 8,9 mil quil�metros por dia e s�o transportados 1.500 alunos da rede publica.

O secret�rio tamb�m disse que no munic�pio ocorre a situa��o de alunos sa�rem de casa por volta de 4 e meia da madrugada e s� retornarem depois de duas da tarde. Ou seja, eles permanecem, dentro dos �nibus por tempo igual ou superior � dura��o das aulas. “� at� uma covardia deixar os alunos durante esse tempo todo dentro dos veiculo. Mas, � uma situa��o que, sozinhos, n�o temos como ajudar”, disse Menezes, que responsabiliza o pr�prio sistema de educacional e a extens�o territorial.

Ele disse que a luta enfrentada pelos alunos geram reclama��es constantes por parte das fam�lias. “Os alunos faltam muito � escola e tamb�m existem alunos que n�o suportam o sacrif�cio e acabam abandonando a escola, aumentando a evas�o. Tamb�m existem casos de pais que deixam as fazendas e mudam para a �rea urbana”, disse o secret�rio. Ele alerta que a situa��o tende a se agravar a partir de 2016, quando ser� obrigat�rio que toda crian�a a partir de quatro anos esteja na matriculado no ensino infantil. “A �nica solu��o � o governo aumentar os investimentos na educa��o e destinar mais verbas para os munic�pios”, sugere.

O secret�rio de Jo�o Pinheiro afirmou que a Prefeitura melhorou a merenda escolar,  contando com um card�pio balanceado e fornecendo uma refei��o a mais para os alunos transportados da zona rural. Para isso, o munic�pio complementa a verba que recebe do governo federal destinada a merenda. “O problema � que,para complementar o dinheiro da merenda e oferecer uma alimenta��o de qualidade a prefeitura tem que tirar de outras �reas das educa��o, deixando de fazer outros investimentos como na infraestrutura da escola e na pr�pria remunera��o dos professores’, comenta.

A mesma situa��o � verificada em Una� – 77,6 mil habitantes, o segundo maior munic�pio mineiro, com 8.492 km2, situado no Noroeste de Minas, j� no entorno de Brasilia, Conforme dados fornecidos pela Prefeitura de Una�, os e�culos das 125 linhas do transporte escolar rodam 11.630 quil�metros por dia e carregamm 4.550 alunos, dos quais entre 25% e 30% deles percorrem longas dist�ncias (mais de 80 quil�metros) na zona rural para chegar at� a escola. A prefeitura informou ainda que gasta R$ 7,134 milh�es por ano para manter o transporte, recebendo  R$ 1 milh�o do Governo Federal e R$ 401,4 mil para o custeio do servi�o.

A secret�ria municipal de Educa��o de Una�, Francisca Ferreira Peres, informou que como, alternativa para diminuir o tempo de viagem dos alunos da zona rural at� a escola, no in�cio deste ano, criou linhas secund�rias, com �nibus que s� rodam nos chamados “galhos’, que levam os alunos das fazendas e pequenas comunidades at� as linhas principais, das rodovias ou estradas vicinais. J� foram criadas tr�s linhas dos ‘galhos’. S� que elas representam um custo adicional para o munic�pio, de R$ 5 mil a mais por m�s, cada uma. A secretaria disse que ainda que a prefeitura completa o valor recebido para os gastos da alimenta��o escolar e ‘complementa o que for suficiente para oferecer uma merenda de qualidade"


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)