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Estado de Minas

"Temos um problema grave: falta um projeto de na��o", diz presidente da CNBB

Cardeal afirma que a Igreja convida as pessoas de f� a n�o terem medo da pol�tica


postado em 01/09/2014 00:12 / atualizado em 01/09/2014 08:44

(foto: Oswaldo Reis/Esp.CB/D.A Press)
(foto: Oswaldo Reis/Esp.CB/D.A Press)

Bras�lia – O Brasil carece de um “projeto de na��o”, no entender do presidente da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno. A pouco mais de duas semanas do debate de presidenci�veis organizado pela entidade – marcado para o pr�ximo dia 16, em Aparecida (SP) –, o cardeal concedeu uma entrevista exclusiva aos Di�rios Associados e disse que n�o adiantam iniciativas isoladas por parte de quem est� � frente do pa�s. “Temos um problema grave: falta um projeto de na��o”, disparou, evitando cr�ticas diretas ao atual governo. Reafirmando a postura neutra da Igreja na corrida eleitoral, dom Damasceno avaliou que teve “pouco contato” com a presidente Dilma ao longo do mandato e lembrou que o eleitor � livre para fazer as pr�prias escolhas. “N�o h� acep��o de pessoas”, pontuou, quando perguntado sobre se h� orienta��o para que cat�licos votem em candidatos da mesma religi�o. “A orienta��o � para que se vote em sintonia com valores e princ�pios que defendemos”, acrescentou. O presidente da CNBB n�o acredita que temas como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo tenham um peso grande nestas elei��es. “Todos j� sabem o que a Igreja pensa”, justificou ele, que tamb�m cobrou coer�ncia dos “pol�ticos de f�”. De maneira firme, dom Damasceno, amigo do papa Francisco, afirmou que a Igreja Cat�lica n�o se preocupa em fortalecer bancada no Congresso Nacional. “N�o precisamos dessa divis�o”, sublinhou. Confira os principais trechos da entrevista, em que o cardeal tamb�m critica os padres candidatos e o desrespeito � Lei da Ficha Limpa.


A Igreja Cat�lica, mesmo que n�o oficialmente, tem candidato a presidente da Rep�blica?
N�o. A Igreja respeita a liberdade do eleitor e convida as pessoas de f� a n�o terem medo da pol�tica.

Mas h� prefer�ncias. N�o existe um candidato que se encaixe melhor nesse perfil?
N�o assumimos posi��o pol�tico-partid�ria. O que temos tentado fazer � encorajar os eleitores. N�o se pode continuar com aquele pensamento de que “pol�tica � coisa de ladr�o e corrupto”, “pol�tica n�o presta” ou “quem entra na pol�tica se corrompe”. S�o estere�tipos que vamos repetindo e n�o resolvemos nada. Somos todos respons�veis pelo bem comum. N�o podemos fugir dessa responsabilidade. Temos uma condi��o de cidad�os. Somos, portanto, essencialmente pol�ticos.

Por que tantos padres t�m se candidatado, mesmo com a posi��o oficial contr�ria da Igreja?
Diria que � uma forma de fugir do pr�prio minist�rio. E � por isso que padres n�o devem se candidatar: porque temos um minist�rio religioso a exercer, uma fun��o muito pr�pria. Ser pol�tico n�o � uma atividade compat�vel com a vida sacerdotal.

E, mesmo se candidatar, padre pode fazer campanha ou pedir voto?
Os templos cat�licos n�o s�o currais nem comit�s eleitorais. N�o se pode fazer pol�tica partid�ria nas celebra��es ou nos movimentos religiosos. Claro que o padre pode e deve falar de pol�tica, dos problemas sociais que afetam as pessoas. Deve tamb�m oferecer elementos para que os fi�is fa�am seu discernimento, mas nunca impor ou decidir por eles.

Cat�lico tem que votar em cat�lico?
N�o. Nossa orienta��o � para que se vote em sintonia com valores e princ�pios que defendemos. Valores crist�os, entre eles a defesa da fam�lia e da vida e o conceito de pol�tica como conceito. Isso, sim, � fundamental. Temos crit�rios claros que nos ajudam a escolher. Se o candidato tem bandeiras que se op�em a eles, evidentemente caber� ao cat�lico decidir. Mas n�o h� acep��o de pessoas.

Qual ser� o peso, nestas elei��es, de temas como aborto e casamento de pessoas de mesmo sexo?
Acredito que um peso pequeno, at� porque todos j� sabem a posi��o da Igreja e as campanhas n�o focam somente nesses assuntos. Mas � claro que, quando questionado, � importante que o candidato diga o que pensa. Se ele se disser favor�vel ao aborto, por exemplo, � evidente que os cat�licos j� t�m a� um elemento a mais para fazer a escolha. O eleitor tem que agir de maneira coerente com a f� que professa. N�o se espera que ele assuma uma posi��o em favor de um partido ou de um candidato de valores contr�rios.

A Igreja teve um papel fundamental na Lei da Ficha Limpa. Ver candidatos condenados disputando as elei��es n�o d� a impress�o de “servi�o pela metade”?
Muitos foram impossibilitados de entrar na corrida eleitoral por causa da lei. Est� muito claro que candidatos condenados n�o podem participar do pleito. Um pol�tico condenado n�o tem nem credibilidade para se apresentar em p�blico e pedir voto. Mas � a Justi�a que deve impedi-los, n�o a Igreja.

Quando a Igreja se aproxima de quest�es pol�ticas, ela n�o fere as premissas de Estado laico?
N�o, porque a Igreja n�o pode estar confinada ao templo nem ter a sua participa��o na sociedade reduzida �s celebra��es lit�rgicas. A Igreja est� inserida no mundo, faz parte dele. Claro que com uma miss�o religiosa e espiritual bem definida, por�m sem se fechar �s outras dimens�es do ser humano, incluindo a pol�tica.

Falta uma bancada cat�lica mais forte no Congresso?
N�o precisamos de bancada cat�lica, n�o precisamos criar essa divis�o. O cat�lico, pol�tico ou n�o, � convidado a defender os valores crist�os, humanos e �ticos onde ele estiver. A f� � um guia pessoal. Os cat�licos eleitos pelo povo sabem que devem agir de maneira coerente com seus princ�pios. Mas isso deve ocorrer de uma maneira muito natural.

Por que a Igreja perdeu peso na participa��o das discuss�es pol�ticas do pa�s?
Decis�es pol�ticas cabem aos pol�ticos, n�o � Igreja. Estamos convictos de que os valores que defendemos s�o para o bem da sociedade e do povo. N�o formamos bancadas para defender nossos interesses. Repito: espera-se que o pol�tico de f� exer�a o mandato de maneira coerente com os seus pr�prios princ�pios. N�o � para atender privil�gios da Igreja.

O senhor esteve pelo menos tr�s vezes com a presidente Dilma Rousseff ao longo do mandato dela, inclusive na semana passada. O governo Dilma agradou � Igreja?
Respeitamos todos os governos. O contato com ela foi, digamos, pouco, mas caber� ao eleitor votar e mant�-la ou n�o no cargo. Quem vai decidir � o cidad�o, n�o a Igreja.

Qual o principal desafio de quem subir a rampa do Pal�cio do Planalto em 1º de janeiro?
Temos um problema grave: falta um projeto de na��o. Qual o nosso projeto? E quais as propostas para se chegar a ele? Se n�o decidir isso, ficamos assim: desenvolvendo iniciativas pontuais aqui e acol�, e s�. A reforma pol�tica � urgente, at� para dar condi��es �s outras reformas. Outro ponto bastante importante � que o governo mantenha uma estabilidade econ�mica, evitando o retorno da infla��o. Tamb�m � necess�rio investir mais na educa��o.


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