Denise Rothenburg, J�lia Chaib, Ta�s Paranhos e Alessandra Mello

Bras�lia – Os temas religiosos que predominaram no segundo turno da elei��o presidencial de 2010, caso do aborto e do casamento gay, voltam � baila esta semana com o debate dos candidatos a presidente da Rep�blica promovido pela Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) amanh�, em Aparecida do Norte (SP). Desta vez, entretanto, est�o todos ressabiados e tentando se blindar para n�o deixar que esses temas ou o fato de professarem uma religi�o diferente atrapalhem a campanha. Nesse �ltimo caso, quem mais trabalha o discurso � Marina Silva (PSB), que tenta tirar a pecha de fundamentalista evang�lica. Ontem, ela aproveitou o domingo para citar a quest�o religiosa. “Hoje, muitos v�o � missa. Outros v�o ao culto. Aqueles que n�o creem v�o se divertir. Meu compromisso � com o estado laico. Conviver de maneira respeitosa na diferen�a. Precisamos criar uma cultura de paz e n�o de �dio”, disse, durante evento em Ceil�ndia.

Os demais presidenci�veis n�o t�m sentido tanta necessidade de se firmar perante o eleitorado cat�lico. Os tucanos, por exemplo, consideram que o candidato do PSDB, A�cio Neves, que sempre participa de cerim�nias religiosas em Minas Gerais, n�o tem problemas dessa ordem na campanha. Tampouco a presidente Dilma considera ter diferen�as a tirar com a Igreja, mesmo depois de ter sido v�tima de ataques de segmentos ligados aos cat�licos na elei��o de 2010. Naquela temporada, houve inclusive a distribui��o de panfletos ap�crifos nas proximidades da Bas�lica de Aparecida, no dia da Padroeira do Brasil, 12 de outubro. At� ontem, Dilma n�o havia preparado nada espec�fico para anunciar no debate da CNBB, que ser� transmitido ao vivo, amanh�, a partir das 21h30 por oito emissoras, 230 r�dios e uma infinidade de portais de inspira��o cat�lica.

Assessores da campanha da presidente consideram que temas religiosos n�o dominar�o o debate nesta reta final de primeiro turno, tampouco no segundo. Em conversas reservadas, eles t�m dito que o que est� em jogo � um projeto de pa�s – o modelo que est� a� e o que ser� proposto pelos demais. Portanto, os temas se referem mais aos programas sociais, � efici�ncia dos servi�os p�blicos e � economia. Tudo isso, obviamente, entremeado com o chamado combate � corrup��o, em que os advers�rios de Dilma tentam debitar da conta reeleitoral todo e qualquer esc�ndalo que envolva o Poder Executivo federal.
Nesse domingo, por exemplo, no com�cio do PSB em Ceil�ndia, a crise na Petrobras se fez presente. Ao rebater os ataques que tem recebido do PT, Marina entremeou o discurso de oferecer “a outra face” com cr�ticas diretas: “� corrup��o da Petrobras, eu ofere�o a face da honestidade”, disse ela, ao lado do candidato a governador Rodrigo Rollemberg (PSB), do candidato a senador na chapa, Antonio Reguffe (PDT), e do senador Cristovam Buarque (PDT), que n�o disputa cargo nesta elei��o, mas tem trabalhado em favor dos colegas. “Temos que eleger a bancada da Marina, que n�o ser� comprada com mensal�o nem recursos da Petrobras.”
“Indigna��o”
Dilma Rousseff, por sua vez, respondeu �s cr�ticas de Marina durante coletiva no Pal�cio da Alvorada. “Eu n�o ataco, eu divirjo. Isso faz parte da democracia”, disse a petista, para, em seguida responder � declara��o de Marina sobre o “assalto” � Petrobras por 12 anos: “Tive um momento de indigna��o quando a candidata se referiu ao que foi feito pelo PT na Petrobras em 12 anos. Primeiro, porque ela foi do PT por 27 anos. Dos 12, ela esteve no minist�rio ou na bancada do partido em oito. (...) Houve um ataque que n�o acho que foi pol�tico. N�o tenho nenhum problema em discutir o que est� no programa da candidata. N�o cabe � gente se vitimizar. Enquanto a discuss�o for pol�tica e n�o disser respeito � honra e a caracter�sticas pessoais de ningu�m, que se d� o debate e falem de projetos, que � da democracia”, disse Dilma. Quanto �s declara��es de Marina de que os advers�rios s� a atacam, Dilma respondeu que quem quer ser presidente tem que saber aguentar “cr�ticas e press�o”. “N�o tem coitadinho na Presid�ncia. Quem se sente coitadinho n�o pode chegar l�”, afirmou.
A presidente havia convocado a coletiva para dizer que abrir� uma segunda fase do Ci�ncias sem Fronteiras, com a oferta de mais 100 mil bolsas de estudos no exterior. Segundo ela, 86,1 mil pessoas j� participaram do programa. E, no novo edital de sele��o, aberto at� o dia 29, j� se inscreveram 60 mil pessoas para disputar 14,9 mil bolsas. Por isso, segundo ela, quem n�o participar agora ter� nova chance com a segunda fase.
Programa tucano
O candidato do PSDB, A�cio Neves, que recebeu ontem o apoio expl�cito do ex-jogador de futebol Ronaldo Fen�meno, tamb�m aproveitou o domingo para anunciar uma nova bolsa a estudantes durante visita � Central �nica das Favelas (Cufa), em Madureira, Zona Norte do Rio. Acompanhado por Ronaldo, A�cio prometeu pagar um benef�cio no valor de um sal�rio m�nimo por m�s para garantir a conclus�o dos estudos a jovens brasileiros entre 18 e 29 anos que n�o completaram o ensino fundamental ou o m�dio, a exemplo do que ocorre por meio do Poupan�a Jovem, que desenvolveu durante seu governo em Minas Gerais. “Eu vou pagar uma bolsa de um sal�rio m�nimo para resgatar os 20 milh�es de jovens que n�o conclu�ram esse ensino. Eles v�o completar o fundamental. Os que quiserem v�o concluir o ensino m�dio e a gente vai qualific�-los no curso t�cnico, que tem a ver com as oportunidades do mercado.”
Segundo o presidenci�vel, ao fim de cada ano de ensino, os alunos receber�o o recurso da bolsa em uma conta pessoal, podendo retir�-lo no t�rmino do curso, desde que tenha tido assiduidade e bom comportamento. O candidato defendeu ainda a implanta��o de pol�ticas de qualifica��o profissional e gera��o de renda nos aglomerados e favelas. “N�s temos que levar pol�ticas de gera��o de renda e de qualifica��o para as pessoas onde elas moram. Existe um conjunto de a��es que estamos propondo que, al�m da qualifica��o, permitir� a oferta de cr�dito, a constru��o de hospitais nos grandes aglomerados brasileiros e escolas de qualidade. N�o adianta a gente criar uma expectativa para esses jovens se n�o dermos condi��es”, disse. “Esse discurso de que o Estado � que transformou a sua vida � uma grande engana��o”, disparou. Em seguida, voltou sua artilharia contra Marina Silva reafirmando que sua candidatura n�o adquiriu condi��es de governabilidade.
A�cio e Ronaldo– presente pela primeira vez em um evento de campanha do tucano e que, mais tarde, postou no Instagram foto de sua fam�lia com o candidato – chegaram juntos a Madureira, onde participaram do lan�amento do livro Um pa�s chamado favela, de Celso Athayde, fundador da Cufa, e Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular. Juntos, ensaiaram um t�mido jogo de capoeira e se arriscaram na “dan�a do passinho”.
Enquanto isso...
…D�lares repatriados
Depois de passar as duas �ltimas semanas prestando depoimentos para cumprir o acordo de dela��o premiada sobre o esquema de desvio de dinheiro na Petrobras, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa aceitou repatriar US$ 23 milh�es que haviam sido depositados na Su��a. Isso pode fazer com que ele saia da cadeia ainda esta semana, como parte de um acordo firmado com o Minist�rio P�blico Federal no Paran�. Se for solto, ele dever� usar tornozeleira eletr�nica. O acordo para pagar os US$ 23 milh�es em conta no exterior foi revelado ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo. Os depoimentos de Costa apontaram o envolvimento de diversos pol�ticos na esfera do Executivo e do Legislativo com o suposto pagamento de propina da estatal. E a Petrobras confirmou na tarde de ontem que o perfil de Paulo Roberto Costa na enciclop�dia colaborativa Wikipedia foi alterado por meio de um computador com IP da estatal. O texto, que ficou no ar por cerca de seis minutos, dizia que Costa havia sido demitido pela presidente Dilma Rousseff por estar “muito soltinho