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Estado de Minas

Relat�rio da CNV relata t�cnicas de torturas durante a ditadura militar

Relat�rio da Comiss�o Nacional da Verdade detalha as t�cnicas usadas para obter informa��es de presos. Al�m de cobaias em aulas de torturas, aqueles que n�o resistiam eram incinerados


postado em 18/01/2015 06:00 / atualizado em 18/01/2015 08:20

A Usina da Cambahyba, no interior do Rio de Janeiro, era um dos locais usados para sumiço dos corpos de presos políticos (foto: Rodrigo Silveira/Folha da Manhã)
A Usina da Cambahyba, no interior do Rio de Janeiro, era um dos locais usados para sumi�o dos corpos de presos pol�ticos (foto: Rodrigo Silveira/Folha da Manh�)

Tema obscuro na hist�ria brasileira, a pr�tica da tortura durante o per�odo militar recebeu aten��o especial nas investiga��es da Comiss�o Nacional da Verdade (CNV). Das 434 v�timas de morte do regime, 191 foram por execu��o sum�ria ou decorrente de torturas. A dificuldade em conseguir registros sobre o que se passava nos por�es da ditadura e dos pr�prios sobreviventes em lidar com momentos traum�ticos fizeram com que detalhes do que se passou nos 21 anos do regime militar ficassem por muito tempo esquecidos. No relat�rio da comiss�o est�o descritos m�todos usados para obter informa��es de presos pol�ticos, que trazem � tona horrores pouco conhecidos, como o uso de presos como cobaias em aulas de tortura e a incinera��o de corpos de prisioneiros que n�o resistiram aos maus-tratos na usina de Cambahyba, no interior do Rio de Janeiro.

Dois cap�tulos do relat�rio, divulgado em 10 dezembro, tratam de casos espec�ficos de mortes sob tortura e a constitui��o de um estrutura do Estado para a pr�tica. Na primeira parte, o levantamento aborda os treinamentos recebidos por agentes brasileiros para aprender t�cnicas de tortura em escolas militares norte-americanas e brit�nicas. “Embora as For�as Armadas brasileiras ainda tratem veladamente do assunto, oficiais do Ex�rcito e da Aeron�utica mencionam em depoimentos a participa��o em cursos na escola norte-americana do Panam�”, diz o relat�rio.

Ao lado de oficiais de outros pa�ses latinos, que tamb�m viviam regimes ditatoriais, os militares brasileiros passaram per�odos no exterior aprendendo t�cnicas para obter confiss�es e informa��es de prisioneiros. Em depoimento prestado no ano passado, o coronel Paulo Malh�es revelou algumas das t�cnicas aprendidas na Inglaterra, que j� vinham sendo usadas no Reino Unido no tratamento de presos pol�ticos da Irlanda do Norte. Impedir o sono do prisioneiro e submet�-lo a grandes barulhos foram alguns dos m�todos ensinados pelos brit�nicos.

 “A metodologia da tortura se tornou um objeto de saber, um campo de conhecimento, produzido e transmitido entre os militares. Suas t�cnicas eram uma mat�ria ensinada aos membros das For�as Armadas, inclusive com demonstra��es pr�ticas, como declarados por presos pol�ticos usados como cobaias nessas aulas”, aponta o relat�rio.

Entre os relatos de v�timas que serviram como cobaias est� o depoimento de Dulce Pandolfi, que em 20 de outubro de 1970 foi usada para as demonstra��es de t�cnicas a um grupo de cerca de 20 oficiais. “O professor, diante de seus alunos, fazia demonstra��es com meu corpo. Enquanto levava choques el�tricos, pendurada no pau de arara, ouvi o professor dizer: ‘Essa � a t�cnica mais eficaz’. Como comecei a passar mal, a aula foi interrompida e fui levada para a cela. A segunda parte da aula foi no p�tio. Ali fiquei um bom tempo amarrada no poste, com um capuz na cabe�a. Fizeram um pouco de tudo”, contou Pandolfi.

USINA DA MORTE Segundo o balan�o final da Comiss�o da Verdade, 243 pessoas foram v�timas de desaparecimento for�ado, parte delas mortas depois de longas sess�es de tortura, e tiveram os corpos destru�dos por militares. Um dos locais usados para o sumi�o de corpos foi a Usina de Cambahyba, no interior do Rio de Janeiro. Em depoimento � CNV, o ex-delegado Cl�udio Guerra contou que fez v�rias vezes o transporte de corpos retirados da Casa da Morte, local usado para tortura e execu��o de presos pol�ticos em Petr�polis.

A usina era propriedade do industrial Heli Ribeiro Gomes, vice-governador do Rio entre 1966 e 1970, que teria sido procurado por militares para emprestar alguns fornos para a incinera��o de presos pol�ticos assassinados pelo regime. “No per�odo de 1974 e 1975, na mudan�a da pol�tica americana, come�ou uma press�o muito grande em cima do governo brasileiro por causa do desaparecimento de corpos. Os coron�is que estavam no comando queriam um meio para fazer (os corpos) desaparecer mesmo. Ent�o, foi dada essa ideia de incinerar os corpos. Foi ent�o mudado o sistema”, explicou Guerra.

Segundo o ex-delegado, as v�timas que n�o resistiam �s torturas ou que foram sumariamente executadas eram retiradas da Casa da Morte durante a noite em sacos pretos e levadas at� a usina. “Apresentei o Heli, ent�o vice-governador, para o comandante. Sabia que eles queriam sumir com os corpos. Outras usinas da regi�o pertenciam a grupos de empres�rios, mas Cambahyba era s� dele. De noite, traz�amos os corpos e os coloc�vamos nas fornalhas. Muitos vieram da casa de Petr�polis. As cinzas eram jogadas em um tanque, que era chamado de piscina”, afirmou Guerra, que publicou em 2012 relatos de sua trajet�ria como militar no livro Relatos de uma guerra suja.


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