Maria Clara Prates
O tsunami pol�tico que atinge em cheio o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), provocando manifesta��es de insatisfa��o e indigna��o pelo pa�s, � resultado principalmente da crise econ�mica, mas tem ra�zes tamb�m nas recentes medidas impopulares, na falta de habilidade na articula��o com o Congresso e especialmente na divulga��o incessante dos casos de corrup��o da Petrobras, maior estatal brasileira. A an�lise � de cientistas pol�ticos ouvidos pelo Estado de Minas, que se apoiam em uma cronologia de fatos (veja quadro) desde a reelei��o. Vencedora nas urnas depois de uma dura disputa com o PSDB, principal partido de oposi��o, Dilma iniciou sua trajet�ria de queda de popularidade – chegou a ter 42% de avalia��o de sua administra��o como �timo/bom em dezembro, e em fevereiro estava apenas com 24%, de acordo com pesquisas da Datafolha – ao permitir o aumento do pre�o da gasolina menos de um m�s ap�s sua vit�ria nas urnas. E n�o ficou s� nisso. O an�ncio de regras mais r�gidas para recebimento de benef�cios trabalhistas, que ela prometera em campanha jamais tocar, o arrocho fiscal, al�m do an�ncio de um minist�rio sem nomes de peso e claramente fatiado para satisfazer os partidos aliados, funcionaram, entre outras coisas, como combust�vel que detonou a s�rie de protestos marcados para hoje.
O cientista pol�tico Torquato Gaud�ncio lembra que o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva tamb�m enfrentou terremotos, especialmente em seu primeiro mandato, quando foi revelado o esc�ndalo do mensal�o, mas nem de longe na mesma escala da presidente Dilma. A raz�o? O bom desempenho da economia � �poca. “A locomotiva que puxa o trem do social � a economia. Portanto, em tempos de infla��o baixa e crescimento do emprego, as crises pol�ticas tendem a se amenizar”, afirma Gaud�ncio. Desde que Dilma iniciou seu segundo mandato, o pa�s vem enfrentando uma infla��o crescente, que chega � casa dos 8% ao ano e, a isso, se juntaram ainda outros fatores indiretos que terminaram por afetar tamb�m a percep��o de bem-estar dos brasileiros, como a crise h�drica e de energia, a paralisa��o do pa�s com o protesto de caminhoneiros, a eleva��o dos alimentos em raz�o da seca. “Isso faz com que o bal�o da opini�o p�blica se infle e continue subindo”, diz.
Torquato Gaud�ncio diz que existe hoje no pa�s uma “crise de descren�a”, ou seja, uma crise econ�mica com uma pol�tica se desenrolando em paralelo. “Os esc�ndalos em s�rie foram atribu�dos, por parte da popula��o, ao PT, criando assim uma rejei��o ao que chamam de “petismo”, “lulismo” e, agora, “dilmismo”.
A presidente Dilma diz que v� com “tranquilidade” as manifesta��es de insatisfa��o que tiveram in�cio no domingo passado e se fortaleceram durante a semana, mas a verdade � que nunca antes na hist�ria do PT no poder houve um movimento t�o forte de insatisfa��o da popula��o, e isso vem tirando as noites de sono dos governistas. A ponto de obrigar Dilma a recuar numa das principais medidas do arrocho fiscal: a n�o corre��o da tabela do Imposto de Renda. Acuada e seriamente amea�ada de sofrer mais derrotas no Congresso, ela permitiu um escalonamento do reajuste da tabela. Para sobreviver no poder pelos pr�ximos quatro anos, cientistas pol�ticos entendem que ela vai ter de fazer outras corre��es no governo, muito al�m da tabela do IR.
