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Estado de Minas

Desemprego � realidade permanente no Vale do Jequitinhonha

Desemprego alto persiste no Jequitinhonha, depois do fracasso de projetos para tentar driblar a falta de oportunidades na regi�o implementados no in�cio da d�cada de 2000


postado em 27/04/2015 06:00 / atualizado em 27/04/2015 08:22

Luiz Ribeiro
Enviado especial


Maquinário para processar frutas abandonado em Araçuaí: um dos projetos para gerar renda que deram em nada no Jequitinhonha(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Maquin�rio para processar frutas abandonado em Ara�ua�: um dos projetos para gerar renda que deram em nada no Jequitinhonha (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Ara�ua� – Uma das principais cidades do Jequitinhonha, Ara�ua�, com 36 mil habitantes, iniciou o mil�nio apostando na melhoria de vida. A esperan�a surgiu no rastro da instala��o de dois projetos de uma cooperativa agr�cola: um voltado para o processamento de frutas e outro, uma f�brica de cacha�a, ambos financiados com recursos p�blicos e que tinham como objetivo gerar empregos e elevar a renda dos pequenos produtores da regi�o. Com a mesma perspectiva, foi iniciado um projeto de cria��o de peixes na barragem do Calhauzinho. A alegria durou pouco, pois as tr�s iniciativas fracassaram, provocando perdas de recursos p�blicos e preju�zos para os agricultores.

H� sete anos, o complexo agroindustrial da Cooperativa Fruta Boa est� parado, com o maquin�rio depreciado pela a��o do tempo. Parte da estrutura do empreendimento � aproveitada como garagem e dep�sito de materiais descartados pela prefeitura, como carteiras quebradas, computadores velhos, al�m de m�quinas antigas e sucatas de carros.


N�o se sabe ao certo o volume de recursos p�blicos investidos nos dois empreendimentos instalados em a��o coordenada pelo Minist�rio da Integra��o Nacional. Consultada, a pasta n�o conseguiu localizar os arquivos sobre o projeto. Mas as empoeiradas placas na antiga sede da Fruta Boa informam que, somente na f�brica de cacha�a, foram aplicados recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) da ordem de R$ 2,8 milh�es, sendo R$ 1,5 milh�o para a unidade de produ��o e R$ 1,3 milh�o no galp�o da parte de engarrafamento – que teve a cobertura derrubada por uma tempestade pouco depois de erguido – e na compra de um caminh�o-tanque que nunca chegou a rodar.

O projeto da Unidade de Produ��o, Homogeneiza��o, Armazenagem, Engarrafamento e Comercializa��o de Cacha�a de Alambique foi inaugurado em 16 de agosto de 2007, com a presen�a do ent�o ministro da Integra��o Nacional, Geddel Vieira Lima. Na �poca, foi dado in�cio ainda a um projeto de comercializa��o de gemas (pedras preciosas) no aeroporto de Ara�ua�, que tamb�m n�o prosperou.

Preju�zo

A proposta do Fruta Boa era banana, manga, abacaxi, coco e mam�o, estimulando essas culturas na regi�o. “A expectativa era que as coisas em Ara�ua� mudariam porque a gente teria condi��es de produzir e vender o nosso produto”, afirma Ant�nio Nilton Almeida, um dos 100 agricultores de Ara�ua� que investiram no projeto e se deram mal. “Fizemos financiamentos para aumentar a nossa produ��o. N�o vendemos quase nada e ficamos endividados”, conta, acrescentando que se viu obrigado a vender suas vinte cabe�as de gado para pagar d�vidas banc�rias. Ele aponta a falta de planejamento como motivo do fracasso.

Um dos idealizadores da unidade de processamento de frutas e da produ��o de cacha�a da cooperativa Fruta Boa, Heiner Busselmann (alem�o, naturalizado brasileiro) afirma , por sua vez, que os projetos n�o tiveram �xito por causa da “m� gest�o” por parte dos pr�prios agricultores que assumiram a dire��o da cooperativa.

No momento, o prefeito de Ara�ua�, Armando Paix�o (PT) diz que est� fazendo gest�es junto ao BNDES e �rg�os federais para  a reativa��o dos projetos. Ele tamb�m disse que os empreendimentos foram paralisados por m� administra��o e prometeu “uma gest�o mais eficiente”, aproveitando, por exemplo, a grande produ��o de banana na regi�o.
 
Mais fracassos

Em 2007, foi implantado em Ara�ua� um projeto de cria��o de peixes na barragem de Calhauzinho, iniciativa da Funda��o Rural Mineira (Ruralminas), que atraiu 23 pequenos produtores num sistema de associativismo. O projeto fracassou e os tanques, redes, barcos e outros equipamentos ficaram sem nenhuma utilidade, empoeirados em um dep�sito. Hoje, a constru��o onde seria a unidade de abatedouro dos peixes, est� abandonada, entregue � a��o do tempo, em um terreno no meio do mato, perto da barragem, na zona rural do munic�pio (20 quil�metros da �rea urbana).

O presidente da Associa��o dos Aquicultores de Ara�ua�, Jos� Afonso Silva, lembra que, na �poca da instala��o do projeto, os produtores envolvidos se encheram de esperan�a de que teriam uma mudan�a de vida. No entanto, um ano depois do in�cio das atividades, um  choque t�rmico nos tanques-redes provocou uma grande mortandade de peixes – cerca de 30 toneladas. Depois disso, o projeto entrou em decad�ncia.

Migra��o em massa m busca de vagas

Adão se prepara para deixar a casa pelo 29º ano consecutivo (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Ad�o se prepara para deixar a casa pelo 29� ano consecutivo (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Berilo e Itinga – Nos pequenos munic�pios do Vale do Jequitinhonha, o sofrimento provocado pela seca se soma ao desemprego, baixa gera��o de renda e � sa�da em massa dos homens para as colheitas de caf� no Sul de Minas e para o corte de cana no interior de S�o Paulo.Na manh� de uma ter�a-feira, em pleno hor�rio comercial, a reportagem do Estado de Minas se deparou com dezenas de homens sentados nas portas de casas e bares em torno da pra�a onde est� localizada a Prefeitura de Berilo. A cena na pra�a – a mesma em que o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva foi recebido por uma multid�o ao passar pela cidade em outubro de 1995 – demonstra a falta de ocupa��o provocada pela inexist�ncia de op��es de trabalho.

“Infelizmente, as pessoas aqui n�o t�m como arrumar emprego. Ent�o, o �nico jeito � sair para colher caf� ou cortar cana”, explicou, o secret�rio de Administra��o e Planejamento de Berilo, Charles Amaral. Segundo ele, a previs�o � que, neste ano, em torno de 4 mil pessoas deixem a regi�o para trabalhar nos cafezais do Sul de Minas e nos canaviais do interior paulista. Entretanto, a sa�da para o corte de cana, que atinge o seu auge em maio, est� amea�ada pela automa��o, lembra Amaral.

Os trabalhadores tempor�rios ser�o afetados ainda pelas mudan�as no seguro-emprego, adotadas pelo governo da presidente Dilma Rousseff dentro das medidas para conter os gastos do governo. “Antes, a gente sa�a, trabalhava seis meses, voltava e requeria o seguro-emprego. Agora, n�o podemos mais fazer isso, pois o tempo m�nimo para pedir o seguro-desemprego � de um ano e seis meses de trabalho. N�o sei como a gente vai fazer’, lamentou o lavrador Adilson Ferreira, morador da comunidade de Brejo, na zona rural de Berilo, que se prepara para viajar ainda este m�s com a mulher e dois filhos para uma fazenda de caf� no Sul de Minas. “L� na fazenda tem creche para a gente deixar as crian�as”, conta Adriana Gomes, mulher de Adilson.

No dia em que recebeu a reportagem, o agricultor Ad�o Fernandes Rodrigues, da localidade de �gua Suja, tamb�m na zona rural de Berilo, estava �s v�speras de viajar para o trabalho no corte de cana na �rea de uma usina em S�o Manuel, na regi�o de Ribeir�o Preto (SP). H� 29 anos ele repete a mesma rota, deixando para tr�s a mulher, Sueli Fernandes Rodrigues, de 42 anos, j� acostumada, como outras centenas de mulheres do Jequitinhonha, a ser chamada de “vi�va de marido vivo” ou “vi�va da seca”.


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