Luiz Ribeiro
Enviado especial

Uma obra prometida e iniciada h� 40 anos, mas que nunca terminou. Assim � a BR-367, idealizada pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek para ligar o Vale do Jequitinhonha ao litoral baiano (Porto Seguro), num total de 762 quil�metros. Durante quatro d�cadas, a pavimenta��o da rodovia foi sempre lembrada nos palanques eleitorais, sem nunca ter sido conclu�da. A novela das promessas da obra � o tema abordado no terceiro dia da s�rie de reportagens “O vale dos esquecidos”, publicada desde domingo no Estado de Minas. A equipe de reportagem percorreu a BR-367 e encarou o sacrif�cio e riscos enfrentados pelos moradores do Jequitinhonha quando precisam atravessar os dois trechos de terra (totalizando 123 quil�metros). Al�m da poeira e buracos, os motoristas se exp�em ao perigo ao atravessar 12 prec�rias pontes de madeira. Em uma delas, sobre o Rio Rubim, no trecho entre Almenara e Jacinto, o risco � tanto que a Defesa Civil emitiu um laudo, recomendando a sua interdi��o imediata. Outra, em Minas Novas, � de concreto, mas liga nada a lugar nenhum, ou seja, n�o tem come�o nem fim.
Em janeiro de 2010, ao visitar o Vale do Jequitinhonha, para inaugurar a barragem de Set�bal, no munic�pio de Jenipapo de Minas, o ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva, acompanhado de sua ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, recebeu um documento assinado pelos prefeitos da regi�o pedindo a conclus�o dos dois trechos – um de 61 quil�metros (Minas Nova/Chapada do Norte/Berilo/Virgem da Lapa) e outro de 62 quil�metros (Almenara/Jacinto/Salto da Divisa). No palanque, a ent�o pr�-candidata a presidente foi muito aplaudida e levou prefeitos ao del�rio ao assinar a libera��o dos recursos para o projeto executivo das obras e para a abertura de licita��o. Dilma foi eleita em 2010 e reeleita em 2014, mas, at� hoje, nada foi feito na BR-367, com exce��o da chegada recente de homens e m�quinas do Batalh�o de Engenharia do Ex�rcito de Araguari para o servi�o paliativo de melhoria no trecho de terra entre Minas Novas e Virgem da Lapa.
A coordenadora da campanha de mobiliza��o Pr�-BR-367, Nalva Reis, moradora de Almenara, afirma que n�o se pode responsabilizar apenas o governo federal pelo atraso nas obras de asfaltamento dos dois trechos da BR-367, que, segundo ela, estariam or�adas em cerca de R$ 350 milh�es. Nalva diz que, ainda em maio de 2010, logo ap�s a promessa feita em Jenipapo de Minas, foi assinado um termo, pelo qual o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) transferiu para o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER-MG) a elabora��o do projeto executivo e estudos t�cnicos para o t�rmino dos dois trechos. O valor do conv�nio foi de R$ 8,7 milh�es – R$ 7 milh�es liberados pelo Dnit para o �rg�o estadual, respons�vel pelo R$ 1,7 milh�o restante.
De acordo com Nalva, no conv�nio, foi estipulado que o DER-MG deveria entregar o projeto executivo at� maio de 2011, para a inclus�o das obras no or�amento da segunda etapa do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC 2). Mas o �rg�o n�o fez o estudo a tempo nem chegou a fazer licita��o para contrata��o de empresa especializada. Por isso, n�o houve pagamento. Ela conta ainda que, ap�s a retomada da obra pelo Dnit, o governo federal assegurou que os recursos para a BR-367 est�o garantidos no PAC 3, ficando a licita��o na depend�ncia da elabora��o do projeto executivo.
CARAVANA O Dnit, por sua vez, informou que a licita��o foi feita e o contrato com a empresa para a elabora��o do projeto executivo para a pavimenta��o dos trechos foi assinado. O projeto est� em an�lise pela equipe t�cnica do �rg�o. O Dnit comunicou ainda que est� em fase de elabora��o de edital para contratar projetos para constru��o de novas pontes entre Almenara e Jacinto. O vereador Paulo Elv�dio Figueiredo (PDT), o Paulinho da Cachoeira, de Chapada do Norte, afirma que a pavimenta��o da BR-367 foi uma promessa feita por Lula h� mais tempo, ainda em 1995, quando o l�der petista passou pela cidade, durante a Caravana da Cidadania. “Na �poca, Lula disse que, se fosse eleito presidente da Republica, um dos seus primeiros compromissos seria asfaltar a BR, obra que traria ind�strias e desenvolvimento para a regi�o”, relata.
Figueiredo diz que Chapada do Norte vive ainda “duas frustra��es”, al�m da BR-367. “N�o fomos contemplados no Pro-Acesso e no Caminhos de Minas, programas do governo do estado que levaram o asfalto para os pequenos munic�pios. Por esses programas, cidades menores e emancipadas h� pouco tempo receberam asfalto, e o acesso a Chapada, uma cidade antiga, continua s� por estrada de terra. Isso � motivo de chacota para a gente”, lamenta.
Descaso com o dinheiro p�blico
Enquanto motoristas que circulam pela BR-367 no Vale do Jequitinhonha precisam se arriscar em pontes velhas de madeira em p�ssimas condi��es, com peda�os soltos e estrutura abalada, na mesma estrada, uma ponte de concreto, de cerca de 200 metros de extens�o e 30 metros de altura, foi constru�da h� mais de 10 anos e continua inutilizada, no meio do mato. Situada em Minas Novas, sobre o Rio Fanado, a ponte foi constru�da em 2004, pelo DER-MG, que continua sendo respons�vel pela obra. O objetivo seria a retirada do tr�fego pesado de caminh�es e carretas da �rea urbana. No entanto, n�o foi feito o aterro de encabe�amento dos dois lados da constru��o e, por isso, ela continua sem serventia alguma, apesar de ter custado cerca de R$ 3,5 milh�es aos cofres p�blicos.
Procurado pela reportagem, o DER-MG informou que o projeto de engenharia do contorno de Minas Novas , do qual a ponte faz parte, “j� foi conclu�do”. N�o h�, por�m, previs�o de licita��o. Enquanto a ponte continua entregue ao abandono, moradores de Minas Novas reclamam que o tr�fego de ve�culos pesados na �rea urbana tem abalado a estrutura das constru��es hist�ricas da cidade, fundada h� quase 300 anos. “Os caminh�es abalam as casas e a ponte continua sem uso, um elefante branco. Isso � um absurdo”, lamenta o pedreiro Isa�as Gomes de Souza. “ A ponte � realmente um elefante branco. A popula��o fica indignada”, protesta o comerciante Alexandre Martins Ferreira.