Relat�rio de an�lise de m�dia apreendida pela Opera��o Lava-Jato na sede da construtora Camargo Corr�a destaca e-mail de um executivo que cita suposto pedido do chefe do cerimonial do ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva para providenciar helic�ptero a um grupo de seis convidados do petista para uma visita � Usina Hidrel�trica Jirau, no Rio Madeira, em Rond�nia.
No in�cio de junho, a Pol�cia Federal juntou aos autos da investiga��o laudo pericial que indica pagamento da empreiteira no valor de R$ 3 milh�es para o Instituto Lula e mais R$ 1,5 milh�o para a LILS Palestras Eventos e Publicidade, de Luiz In�cio Lula da Silva, entre os anos de 2011 e 2013.
Foram tr�s pagamentos de R$ 1 milh�o cada registrados como "Contribui��es e Doa��es" e "B�nus Eleitoral" para o Instituto, aberto por Lula ap�s ele deixar a Presid�ncia da Rep�blica, em 2011.
O e-mail agora juntado pela PF aos autos da investiga��o foi interceptado na Camargo Corr�a em novembro, quando deflagrada a Opera��o Ju�zo Final, s�tima fase da Lava Jato. Nele, o executivo Antonio Carlos Portugal diz a seus interlocutores que o ent�o chefe do cerimonial de Lula o procurou para que resolvesse 'um problema' com os convidados do petista.
A lista dos convidados de Lula consta da mensagem, entre eles tr�s senadores, um assessor especial 'da ministra Dilma Rousseff' (ela ocupava o Minist�rio de Minas e Energia), o ent�o presidente do Sesi e o diretor-geral do Senai.
A mensagem foi encaminhada a outros seis altos executivos da empreiteira: Kalil Cury Filho, Luiz Roberto Ortiz Nascimento, Vitor Hallack, Ant�nio Miguel Marques, Jo�o Ricardo Auler e Francisco de Assis Oliveira Azevedo.
O 'problema', segundo Portugal, � que a capacidade do helic�ptero oficial da Presid�ncia estava completa. O chefe do cerimonial de Lula, segundo Portugal, solicitou que um helic�ptero da empreiteira fosse colocado � disposi��o do Pal�cio do Planalto e que deveria estar no aeroporto de Porto Velho (RO) na chegada do avi�o presidencial para acompanhar o comboio oficial.
Ainda segundo o executivo, o ministro pediu � empreiteira que ajudasse a 'conduzir os seis convidados nos trajetos Porto Velho - Jirau e Jirau - Santo Ant�nio" ." Por outro lado deveria ser contactado o oficial da Aeron�utica que est� no Escal�o Avan�ado da Presid�ncia para acertar os detalhes de pouso e decolagem desse aparelho para incorporar-se ao comboio a�reo oficial."
No p� do e-mail, Portugal escreveu: "Rela��o dos convidados do Pres. Lula: - Senador Valdir Raupp (PMDB/RO), Senadora F�tima Cleide (PT/RO), Senador Expedito J�nior (PR/RO), Sr. Anderson Dornelles, Assessor Especial da Ministra Dilma Rousseff; Sr. Jair Meneghelli, Presidente do SESI, Sr. Jos� Manuel Martins, Diretor-Geral do SENAI." - F�tima Cleide (PT) e Expedito J�nior (PSDB) n�o exercem mais mandato no Senado.
Energia
O setor de energia � a pr�xima �rea de interesse das investiga��es da Lava Jato, fora dos contratos da Petrobras, que at� aqui revelaram desvios de at� R$ 19 bilh�es, segundo a Pol�cia Federal. Dois executivos da Camargo Corr�a, Dalton Avancini e Eduardo Leite, confessaram em dela��o que a empreiteira pagou propina na obra da Usina Hidrel�trica de Belo Monte, ainda em constru��o.
A Camargo Corr�a integrou o Cons�rcio Energia Sustent�vel do Brasil, vencedor do leil�o de Jirau, em 2008. A um custo de R$ 10 bilh�es, a usina localizada no Rio Madeira entrou em opera��o em 2013, mas as obras seguiram. O grupo acabou deixando o cons�rcio, posteriormente.
A visita de Lula a Jirau ocorreu, de fato, tr�s dias depois. Em discurso, o ent�o presidente citou os nomes de pelo menos tr�s pol�ticos de Rond�nia inclu�dos na lista mencionada pelo executivo da Camargo Corr�a. "Deixa eu dizer duas coisas para voc�s: eu dizia ao Governador, dizia ao Prefeito, e vinha discutindo no avi�o com o senador Expedito, com a F�tima Cleide e com o Raupp. Ou seja, eu vinha discutindo o seguinte: Eu quero ver como � que estar� o Estado de Rond�nia daqui a 15 anos."
Lula disse que o investimento na usina alcan�ou R$ 10 bilh�es e citou outro nome da lista de seus supostos convidados, Jair Meneguelli. "� uma coisa extraordin�ria, que eu nem sabia, que aconteceu aqui, agora, que eu quero valorizar muito: o acordo feito pelo Sebrae e pelas empresas para formar aqui 100 microempres�rios, prepar�-los para que eles possam ajudar a dinamizar os investimentos e os empreendimentos aqui no estado de Rond�nia. E, sobretudo, o acordo feito pelo Meneguelli, em nome do Sesi, com os empres�rios tamb�m, para a forma��o de 10 mil trabalhadores aqui, no estado de Rond�nia."
"A ent�o ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, acompanhou o ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva, em visita oficial aos canteiros de obras de Santo Ant�nio e Jirau. Integraram a comitiva Marcos Raposo, servidor de carreira do Itamaraty, atualmente embaixador do Brasil em Lima, e o servidor Anderson Dornelles, hoje assessor especial da Presidenta da Rep�blica, que n�o fez uso do helic�ptero da companhia. Nenhuma norma legal foi infringida pelos referidos servidores, conforme o C�digo de Conduta da Administra��o Federal."
Outro lado
O presidente da Comiss�o de �tica P�blica da Presid�ncia, Am�rico Lacombe, informou que na pr�xima segunda-feira, ir� analisar se houve alguma irregularidade no epis�dio. "Vamos analisar diante dos fatos concretos que forem fornecidos. Depende dos fatos. Julgamos fatos, n�o julgamos hip�teses."
Preliminarmente, Lacombe avalia que n�o houve irregularidade se, de fato, foi usado um helic�ptero da Camargo Corr�a para levar convidados do ent�o presidente Lula. "Ao que parece a licita��o (das obras de Jirau) j� tinha ocorrido, a empresa j� havia ganho a concorr�ncia."
Para o presidente da Comiss�o de �tica se houve a cess�o do helic�ptero ela ocorreu ap�s o processo de licita��o, portanto, a empreiteira n�o buscava favorecimento.
"Irregularidade ocorreria se fosse uma visita antes da licita��o a uma �rea no helic�ptero de um dos concorrentes", anotou Am�rico Lacombe. "Mas vamos verificar esse epis�dio na semana que vem, reitero, com base em fatos, n�o em hip�teses."
O Instituto Lula informou que o ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva foi transportado no helic�ptero da Presid�ncia e fez um sobrevoo das obras (de Jirau). A atividade constou da agenda oficial, foi acompanhada pela imprensa e divulgada.
A viagem, destacou o Instituto, foi para o lan�amento da pedra fundamental da constru��o da usina de Jirau.
O Instituto informou que desconhece tanto o pedido quanto se o helic�ptero foi disponibilizado.
Sobre indaga��o se � normal o fato de o ent�o chefe do cerimonial de Lula ter solicitado um meio de transporte para seis pessoas que teriam sido convidadas do presidente, o Instituto Lula sugeriu que a pergunta fosse encaminhada ao pr�prio chefe do cerimonial na �poca.
Em junho, quando a Pol�cia Federal juntou aos autos da Lava Jato um laudo que apontava repasses da Camargo Corr�a, o Instituto Lula, por meio de sua assessoria de imprensa, observou que os valores registrados na contabilidade da empreiteira foram doados legalmente e n�o existe rela��o entre a entidade e quest�es eleitorais.
Segundo a assessoria, "os valores citados foram doados para o Instituto Lula para a manuten��o e desenvolvimentos de atividades institucionais, conforme objeto social do seu estatuto, que estabelece, entre outras finalidades, o estudo e compartilhamento de pol�ticas p�blicas dedicadas � erradica��o da pobreza e da fome no mundo".
Quanto aos valores para a empresa de eventos de Lula a assessoria informou que "os tr�s pagamentos para a LILS s�o referentes a quatro palestras feitas pelo ex-presidente, todas elas eventos p�blicos e com seus respectivos contratos".
"Essas doa��es e pagamentos foram devidamente contabilizados, declarados e recolhidos os impostos devidos."
A nota informa ainda que "as doa��es ao Instituto Lula e as palestras do ex-presidente n�o t�m nenhuma rela��o com contratos da Petrobras".
Ainda nessa ocasi�o, a Construtora Camargo Corr�a esclareceu que 'as contribui��es ao Instituto Lula referem-se a apoio institucional e ao patroc�nio de palestras do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva no exterior'.
Por sua Assessoria de Imprensa, a Construtora Camargo Corr�a declarou: "Quanto a solicita��o, a Construtora Camargo Corr�a n�o teve prazo para confirmar a opera��o, mas esclarece que prestar o apoio necess�rio � comum para deslocamentos em regi�o de dif�cil acesso."
O senador Valdir Raupp (RO),vice presidente nacional do PMDB, disse que n�o se recorda de ter viajado em helic�ptero da Camargo Corr�a. "Como � que vou saber que cor � a vaca que eu tomo o leite?", questionou. "Eu me lembro que uma vez viajei em uma empresa de t�xi a�reo, posei na pista de Jirau, mas em helic�ptero eu n�o lembro.
Os ex-senadores F�tima Cleide (PT/RO) e Expedito J�nior (PSDB/RO), ambos de Rond�nia, n�o foram localizados. A reportagem tamb�m n�o conseguiu contato com Jair Meneghelli e Jos� Manuel Martins.