Bras�lia - Uma amostra de um mapa de movimenta��es financeiras no exterior associadas ao presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), soma, pelo menos, R$ 411 milh�es em 58 transa��es por 29 contas banc�rias. � o que aponta levantamento feito pelo Estado de Minas/Correio Braziliense sobre parte de documentos que o Minist�rio P�blico da Confedera��o (MPC), da Su��a, enviou � Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR). As transa��es foram realizadas entre 2007 e 2014 e embasam um inqu�rito contra o deputado por corrup��o passiva e lavagem de dinheiro.
A procuradoria suspeita que Cunha recebeu 1,3 milh�o de francos su��os como propina pelo fato de a Petrobras ter pago US$ 35,5 milh�es por metade de um campo de petr�leo em Benin, na costa oeste da �frica. O parlamentar j� foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal por supostamente ganhar propina pela venda de navios para a petroleira brasileira. Cunha nega todas as acusa��es e afirma que n�o possui nenhuma conta no exterior ou empresa offshore.
De toda a movimenta��o, 90% se refere aos pagamentos que a estatal brasileira fez ao portugu�s Idal�cio de Oliveira, dono da Companhia Beninoise de Hydrocarbures e Lusit�nia Petroleum. O portugu�s repassou US$ 10 milh�es (R$ 38,7 milh�es) ao lobista Jo�o Augusto Henriques, ex-funcion�rio da Petrobras ligado ao PMDB, como “taxa de sucesso”. As movimenta��es nesse trecho do “caminho do dinheiro” tra�ado pelo Minist�rio P�blico da Su��a somam R$ 370 milh�es, pelo c�mbio de sexta-feira.
DESCONHECIDO
A origem e o destino de parte do dinheiro que circulou pelas contas do deputado n�o foi totalmente identificada. Nelas, ele utilizou US$ 423 mil de origem desconhecida para pagamentos. E recebeu outros US$ 4,8 milh�es. Ao todo, as contas de Cunha e Cl�udia na Su��a receberam R$ 33 milh�es pelo c�mbio de sexta-feira. O rastreamento at� agora � preliminar. Devem ser identificadas novas transa��es na medida em que a Pol�cia Federal e o grupo de trabalho da PGR sobre a Opera��o Lava-Jato analisam as dezenas de extratos enviados pelos su��os.
A assessoria de Cunha enviou nota de esclarecimento id�ntica � prestada por ele sobre outros fatos relacionados � descoberta das contas no exterior. O deputado n�o explica as movimenta��es, nega recebimento de propinas e engrossa cr�ticas ao Minist�rio P�blico. Em nota, disse que h� uma “estrat�gia ardilosa” na conduta de Janot para “vazar maci�amente supostos trechos de investiga��o” para desestabilizar sua gest�o � frente da C�mara e sua “imagem de homem p�blico”. Cunha disse confiar que o Supremo Tribunal Federal, “certamente, far� justi�a ao apreciar os fatos imparcialmente”.
Para o deputado, o Minist�rio P�blico p�e sua respeitabilidade em xeque e ofende as institui��es por fazer “omiss�o proposital” de outros personagens da investiga��o. Ao todo, cerca de 50 pol�ticos, entre governadores, ministros, senadores e deputados, s�o investigados pela Opera��o Lava-Jato no Supremo e no Superior Tribunal de Justi�a (STJ). Para Cunha, a atua��o de Janot tem como objetivo manter a presidente Dilma Rousseff no cargo – recai sobre o parlamentar a decis�o sobre abertura de processo de impeachment contra ela. “� muito estranha essa acelera��o de procedimentos �s v�speras da divulga��o de decis�es sobre pedidos de abertura de processo de impeachment, procurando desqualificar eventuais decis�es”, diz a nota.
Conta de lobista na Su��a
Apesar das aten��es para a figura de Eduardo Cunha, investigadores da Lava-Jato em Bras�lia e em Curitiba est�o interessados na conta Acona, n�mero 203.217, aberta pelo lobista Jo�o Augusto Henriques no banco BSI na Su��a. Foi l� que ele recebeu US$ 10 milh�es como “taxa de sucesso” da Lusit�nia Petroleum – a empresa vendeu meio campo de petr�leo � Petrobras por US$ 34,5 milh�es. A comiss�o de quase um ter�o chama a aten��o. Cunha ficou com ‘apenas’ 1,3 milh�o desses recursos. Quem foram os demais destinat�rios dessa e de outras comiss�es � a d�vida que paira na cabe�a da Pol�cia Federal e do Minist�rio P�blico.
O advogado de Henriques, Jos� Cl�udio Barboza, n�o respondeu ao EM qual o destino do restante do dinheiro. Ele reafirmou o depoimento de seu cliente: ap�s o neg�cio do campo de petr�leo, Felipe Diniz, filho do falecido deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), pediu que o lobista depositasse uma parte do dinheiro em uma conta que s� depois ele descobriu ser de Eduardo Cunha.
PROPINA
A conta de Henriques � considerada “de passagem”, portanto, mais interessante do ponto de vista da investiga��o. Ela pode indicar outros esquemas e benefici�rios de desvios na Petrobras. Henriques afirmou em entrevista gravada em 2013 que repassava propinas para v�rios pol�ticos do PMDB de Minas Gerais. Ele afirmou ainda que pagou US$ 8 milh�es ao ent�o tesoureiro do PT, Jo�o Vaccari, para abastecer a campanha de Dilma Rousseff em 2013. O PMDB e o PT negam a acusa��o. Foi a an�lise da Acona que permitiu ao Minist�rio P�blico da Su��a descobrir as contas de Cunha. A expectativa � fazer o mesmo em rela��o a outros personagens.
Henriques e Zelada est�o presos em Curitiba por ordem do juiz S�rgio Moro. Eles j� foram denunciados sob acusa��o de receber propina pelo fato de a Petrobras comprar um navio da empresa Vantage. O advogado de Zelada n�o prestou esclarecimentos ao jornal. Outro interesse dos investigadores � o escrit�rio uruguaio Posadas y Vecino, que recebeu mais de meio milh�o de d�lares de Cunha e que abre offshores no exterior.
O lobista J�lio Camargo mostrou pagamentos no exterior para uma empresa – a Hayley – cujo destino foi bancar propinas para o deputado peemedebista. A companhia funciona no mesmo endere�o da consultoria uruguaia.