
Bras�lia - A possibilidade de um longo e arrastado processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff sangraria n�o apenas a titular do Pal�cio do Planalto, mas todo o Brasil na vis�o de analistas pol�ticos e econ�micos. O pa�s, afundado em uma recess�o econ�mica – que pode virar uma depress�o –, com �ndices de desemprego crescentes, infla��o de dois d�gitos e retrocessos at� mesmo no processo eletr�nico de vota��o, passar� por tempos ainda mais sombrios nos pr�ximos meses. Alguns t�m esperan�a de que, ao fim de tudo, aconte�a uma virada de p�gina. “O pa�s j� est� em crise, paralisado, h� dois anos. Se as coisas se resolverem em quatro meses, �timo. Mas elas precisam se resolver”, defende o cientista pol�tico Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa de S�o Paulo (Insper). “Se a presidente Dilma for afastada, forma-se um governo de coaliz�o entre PMDB e PSDB e retoma-se a confian�a na economia. Se ela n�o for afastada, que se vire a p�gina, se esque�a de Eduardo Cunha e comece a governar”, completa.
At� mesmo o ritmo do processo � indefinido. Para o diretor de documenta��o do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, quatro fatores podem influenciar o andamento do impeachment: o comportamento do PMDB; a press�o das ruas; o humor do mercado; e uma quebra de confian�a na presidente Dilma Rousseff. Durante o fim de semana, o PMDB j� come�ou a ensaiar um descolamento. Desde a sexta-feira, com a entrega do cargo do ministro da Secretaria Nacional de Avia��o Civil, Eliseu Padilha, ao encontro a portas fechadas do vice-presidente, Michel Temer, com o governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). O mercado oscilou em um primeiro momento, mas deve acalmar-se. As ruas ainda est�o t�midas, sobretudo porque estamos no fim do ano. E a confian�a em Dilma? “A� que est� um perigo. Ela est� com um discurso muito ancorado na quest�o moral, de que ela � inatac�vel e n�o tem qualquer m�cula. Se em algum momento da Lava-Jato se comprovar que ela sabia de algo – Pasadena, que seja – a confian�a se quebra e o cen�rio se complica”, acredita Toninho.
ANO PERDIDO Na economia, o receio � de que o pr�ximo ano seja “perdido” � espera de decis�es pol�ticas. “� bom o que est� acontecendo porque, finalmente, estamos terminando 2014, que engoliu 2015, que n�o existiu. Seja como for, temos uma limita��o: as incertezas, que n�o s�o boas para as bolsas”, afirma o economista-chefe da Gradual Investimentos, Andr� Perfeito. Para o especialista, a abertura do processo de impeachment, depois de gerar a alta dos �ndices da Bovespa e a queda do d�lar, leva agora os investidores a “fazerem contas”. “Depois de uma euforia inicial, ficou evidente que o impeachment n�o � um evento tranquilo. Muitas d�vidas se instalam. N�o acho razo�vel que o Michel Temer v� fazer uma reforma na economia atual, por exemplo. E, caso a presidente continue, ser� que essas quest�es ser�o resolvidas?”, indaga.
O presidente da Associa��o Brasileira da Ind�stria de M�quinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza, acredita que a principal condi��o para que a economia se recuperar � “virar a p�gina” da crise pol�tica com ou sem afastamento. “Se ela se resolver rapidamente, nos primeiros 60 dias do ano que vem, existe a chance de n�o perdermos mais graus de investimento, de transmitirmos calma para que os investimentos internacionais e nacionais voltem a fluir. Eu n�o quero um 2016 perdido. E, se nos arrastarmos por seis meses nessa briga pol�tica, vamos perder.” De acordo com a Confedera��o Nacional do Com�rcio (CNC), a previs�o de queda do varejo ampliado em 2015 � de 7,1%, contra retra��o de 1,6% no ano passado. “De longe, esse � o pior resultado do varejo da �ltima d�cada. Eu n�o me lembro de um ano em que a gente tenha revisado as expectativas para baixo todos os meses”, lamenta F�bio Bentes, economista da institui��o. E o pr�ximo ano n�o aparenta ser mais promissor. “A indefini��o � o pior dos cen�rios. Quanto mais tempo durar essa afli��o em rela��o ao cen�rio pol�tico, mais incerteza haver�. Se considerarmos que ela vai durar at� o meio do ano que vem, quem vai investir em um pa�s que j� tem quedas na venda e alto custo de contrata��o?”, questiona Bentes.
AGITA��O O professor de economia Jorge Arbache, da Universidade de Bras�lia (UnB), argumenta que as condi��es para uma crise econ�mica se acumulam desde 2011: “a agita��o pol�tica foi a fa�sca necess�ria para que ela se precipitasse e se agravasse”. “A crise chegaria no Brasil entre 2018 e 2019, com problemas de balan�o, pagamento de funcion�rios. A pol�tica trouxe esse problema para antes.” Segundo o especialista, o pa�s j� vive um momento de espera, em que os investidores interrompem as atividades e optam por aguardar o desenrolar de oscila��es no cen�rio econ�mico. Com a abertura do processo de impeachment, essa tend�ncia deve se intensificar.