(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

No Brasil, fake news t�m sido usadas por todos os partidos; entenda

Da extrema direta � esquerda, ativistas pol�ticos espalham com velocidade not�cias falsas pelas redes sociais. Conte�do � "embalado" para ganhar contornos reais e formar opini�es


postado em 13/11/2017 06:00 / atualizado em 13/11/2017 07:21

Clique para ampliar a imagem
Clique para ampliar a imagem
“Queimem a bruxa!”, berram extremados empunhando crucifixos, antes de reproduzir simbolicamente o ritual cl�ssico da Inquisi��o contra hereges. O fogo � ateado � boneca com o rosto da fil�sofa Judith Butler, professora da Universidade da Calif�rnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, uma das principais refer�ncias nos estudos de g�nero, cujo combate se tornou principal t�pico da plataforma de pol�ticos brasileiros da extrema direita. A cena se deu na semana passada, diante do Sesc Pompeia, em S�o Paulo, onde Judith proferiu palestra a convite da Universidade de S�o Paulo (USP) sobre outro tema: “Caminhos divergentes – Judaicidade e cr�tica do sionismo”, no contexto do semin�rio “Os Fins da Democracia”.


A “vers�o corrente” sobre o que seriam os estudos de g�nero que motivam manifestantes enfurecidos, tamb�m transborda � classe m�dia, junto a eleitores medianamente engajados, sob o batismo de “ideologia de g�nero”. Trata-se de interpreta��o que vem � sombra de v�deos e not�cias falsas que circulam pelas redes sociais, que, em sua vers�o mais tosca, d� conta de que essa “ideologia destr�i a fam�lia e pretende mudar a orienta��o sexual de seu filho nas escolas”. O que de fato sejam os estudos de Judith Butler pouco importa, na “bolha” virtual de relacionamentos que reproduz a desinforma��o e recha�a como “mentirosos” todo e qualquer argumento em dire��o contr�ria.

O caso da fil�sofa � apenas mais um em que a cren�a � dissociada do conte�do real, sobrepondo-se aos fatos por meio de milhares de not�cias falsas, estrategicamente produzidas e compartilhadas nas redes sociais. Auxiliado por rob�s, fazem os algoritmos manter o conte�do ativo nas timelines. Verdadeiros ou n�o os argumentos, o ativismo virtual no mundo todo se transforma em a��o pol�tica material porque influencia na forma��o de opini�es pol�ticas. A elei��o de Donald Trump, nos Estados Unidos, o Brexit na Inglaterra, a crise da Catalunha na Espanha, as elei��es francesa e alem� e, no ano passado, a mobiliza��o pelo impeachment de Dilma Rousseff, s�o exemplos. Mas n�o os �nicos.

No Brasil, as fake news t�m sido usadas por todos os partidos, da direita � esquerda, crescentemente nas elei��es gerais e municipais a partir de 2008. Embora o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, tenha anunciado a forma��o de um comit�, no �mbito da Justi�a Eleitoral, para enfrentar o que ele chama de “not�cias falsas” nas elei��es de 2018, essa � uma batalha que j� nasce perdida: a come�ar pela t�nue linha entre a censura e a identifica��o das not�cias falsas. E a terminar pela dificuldade, n�o do monitoramento, mas da suspens�o desse material, armazenado no exterior.

“Nas elei��es de 2018 o volume de fake news vai superar de longe o de todas as elei��es anteriores”, acredita a cientista pol�tica e pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenadora do grupo Opini�o P�blica, Helcimara Telles. Cresce a tecnologia com emprego de rob�s para impulsionamento nas redes sociais e acumula-se expertise para ataques cognitivos sofisticados, porque s�o dirigidos aos segmentos de eleitores segundo as suas prefer�ncias registradas nos algoritmos.

“Movimentos on-line de extrema-direita, que em nome de uma radical liberdade de express�o, professam valores de intoler�ncia, discursos de �dio, extremamente dogm�ticos e negando qualquer afirma��o que possa ser comprovada em m�todos cient�ficos, crescem no mundo todo”, avalia Helcimara Telles. “No Brasil, esses grupos contestam que tenha existido uma ditadura no pa�s, espalham que o nazismo foi um fen�meno da esquerda, interpretam fatos segundo o seu interesse, atacam movimentos feministas e fazem a caricatura dos estudos de g�nero, cooptando muitos jovens pelo desalento com a representa��o pol�tica e pela linguagem que utilizam na internet”, diz a pesquisadora.

Num contexto de polariza��o pol�tica – em que extremos est�o motivados ao ativismo –, o Brasil tem todos os ingredientes para a ebuli��o do caldo da inseguran�a sobre o que venha a ser verdade e mentira nas elei��es de 2018. Al�m dos usu�rios das redes interagirem, preferencialmente, com pessoas com quem partilham ideologias e vis�es de mundo – formando as chamadas bolhas narrativas –, os brasileiros est�o, ao lado dos chilenos, entre os usu�rios das redes que mais compartilham informa��o no mundo: 64% t�m esse tipo de engajamento, segundo pesquisa feita este ano com 70 mil pessoas em 36 pa�ses pela Reuters Institute for the Study of Journalism da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Ao mesmo tempo, 65% usam smartphones, portanto, levam o clique e a possibilidade de compartilhamento para onde v�o. E mais: 60% acreditam nas not�cias com as quais interagem, que chegam principalmente pelo Facebook e pelo WhatsApp.

“Nesse cen�rio de bolhas narrativas, em que as fake news pipocam e se reproduzem indiscriminadamente por instant messages com not�cias que as pessoas acreditam ser verdadeiras, podem ser produzidos mundos alternativos, e realidades paralelas, que permitem que as pessoas acreditem que a terra � plana”, afirma Marco Konopacki, administrador e cientista pol�tico do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, em refer�ncia ao movimento virtual internacional que advoga essa teoria. “As pessoas s�o envolvidas numa bolha de argumentos e atacam qualquer um que apresente informa��o contr�ria. Esse comportamento explica, por exemplo, a forma��o de grupos radicais que acreditam que a terra seja plana e mesmo as distor��es em torno dos estudos de g�nero”, acrescenta.

Candidaturas nas redes

A reforma pol�tica aprovada pelo Congresso Nacional traz poucas mudan�as relacionadas ao uso da internet e redes sociais para as elei��es de 2018. A principal delas: permite que candidatos impulsionem as suas postagens. “A legisla��o permite que o candidato, o partido e as coliga��es paguem as redes sociais para impulsionar o seu conte�do. � um gasto que tem de ser declarado na presta��o de contas”, informa Edson Resende, coordenador da Coordenadoria Estadual de Apoio aos Promotores Eleitorais (Cael). As resolu��es do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) v�o regulamentar esses novos dispositivos da reforma eleitoral.

A legisla��o em vigor at� o pleito passado vedava qualquer tipo de propaganda paga na internet. “Agora � poss�vel pagar n�o s� pelo impulsionamento nas redes sociais, como tamb�m pelo mecanismo de busca do Google”, afirma Diogo Cruvinel, secret�rio de Gest�o de Atos partid�rios e da Informa��o do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), que lembra: a propaganda eleitoral em sites de not�cias, em sites de pessoas jur�dicas, com ou sem fim lucrativo, e sites p�blicos continua proibida. No �mbito das redes sociais, o impulsionamento s� poder� ser feito em benef�cio do candidato. “Um candidato que quiser falar mal do advers�rio na rede social n�o poder� impulsionar a postagem”, acrescenta Cruvinel.

Para lidar com as fakes news que circulam na internet, contudo, n�o h� novidades para 2018. O ato � crime. “A lei veda o anonimato, prev� multa e a retirada imediata do conte�do do ar. Dessa forma, as fake news continuam tratadas com a mesma disciplina de antes, que inclusive, at� criminaliza essa a��o”, sustenta Edson Resende. “A veicula��o de fatos inver�dicos, injuriosos e difamat�rios � um tipo penal. Al�m disso, no contexto das elei��es, basta que o fato seja mentira para que constitua crime eleitoral”, acrescenta o coordenador das promotorias eleitorais.

O problema que se coloca � como agir rapidamente quando o conte�do de fake news est� postado em provedor no exterior e, a partir do link, s�o feitos os compartilhamentos. “A legisla��o determina que qualquer propaganda eleitoral seja realizada em sites que estejam abrigados em provedores brasileiros. Contudo, se a fonte das not�cias falsas est� fora do pa�s, as a��es para retirar o material do ar s�o mais complicadas”, avalia Diogo Cruvinel.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)